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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO
"Não vou responder... Da primeira vez contrariei meus advogados e só me ferrei", diz ex-publicitário de Lula a congressistas
Amparado pelo STF, Duda silencia em CPI
Lula Marques/Folha Imagem
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Bilhete entregue pelo advogado Tales Castelo Branco a Duda Mendonça com a instrução de dizer sempre a frase "não vou responder" |
MARTA SALOMON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Não vou responder." As palavras, anotadas pelo advogado Tales Castelo Branco num pedaço de
papel, foram repetidas à exaustão
pelo publicitário Duda Mendonça
ontem nas cinco horas de depoimento à CPI dos Correios, o último antes do fim dos trabalhos.
Munido por um habeas corpus
concedido pelo STF (Supremo
Tribunal Federal), que impedia a
sua prisão caso não colaborasse
com as investigações, Duda se recusou a responder até as perguntas mais simples, como o nome de
sua mulher e dos filhos. O silêncio, além de frustrar expectativas
da CPI, agravou a situação do ex-marqueteiro do presidente Lula,
segundo o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Demos a ele a
oportunidade de esclarecer algumas coisas, e ele não o fez; vamos
encaminhar como sendo algo
comprovado", disse o deputado.
Já indiciado pela Polícia Federal,
Duda insistiu em que seguia a estratégia de seus advogados para
não complicar sua defesa e mudou o comportamento adotado
no primeiro depoimento à CPI:
"Em agosto, compareci espontaneamente, abri meu coração e
disse a verdade. O que ganhei? Fui
vítima de uma campanha difamatória com fins políticos, cujo alvo
não era eu", disse à saída do Congresso, repetindo o discurso com
que começara seu depoimento:
"Da primeira vez contrariei meus
advogados e só me ferrei".
Na sua primeira ida à CPI, Duda
disse ter recebido R$ 15,5 milhões
do caixa dois do PT como pagamento pelas campanhas de 2002 e
serviços prestados em 2003. Desse
total, R$ 10,5 milhões foram depositados numa conta chamada
Dusseldorf, nas Bahamas.
"Evidentemente ele não falou a
verdade no primeiro depoimento", disse Serraglio. A Dusseldorf
teria movimentado cerca de US$
400 mil a mais do que o valor declarado por Duda. A PF e a Procuradoria investigam a existência de
outras contas dele no exterior.
"Seria uma oportunidade ímpar
para ele esclarecer as informações
divergentes", lamentou o presidente da CPI, senador Delcídio
Amaral (PT-MS), preocupado
com a decisão do ministro Gilmar
Mendes, do STF. "Ainda bem que
isso aconteceu no final dos trabalhos da CPI." Na liminar, Mendes
disse que a autorização de se calar
estava restrita a perguntas que
pudessem incriminá-lo. "Com relação aos fatos que não impliquem auto-incriminação, persiste
a obrigação de o depoente prestar
informações."
Os ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal) costumam
conceder liminar autorizando
pessoas que irão depor em CPI a
ficar caladas, por causa de um
princípio constitucional que as
desobriga de fornecer informações que as incriminem.
Pela Constituição, um dos direitos fundamentais do cidadão é:
"o preso será informado de seus
direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e
de advogado".
Os ministros entendem que a
palavra "preso" vale para todas as
pessoas que estão sob investigação policial, judicial, administrativa ou parlamentar. Para eles,
há uma distinção entre testemunhas e acusados. Apenas os primeiros são obrigados a assinar
um termo de compromisso de revelar a verdade. O fato é que o STF
não tem controle sobre o que seria
ou não uma confissão de crime.
Sessão fechada
Depois das primeiras três horas
e meia de depoimento, a CPI realizou uma sessão fechada para
questionar o marqueteiro com
dados sigilosos sobre sua movimentação financeira no exterior.
Essa parte foi restrita ao senador
Delcídio e aos deputados Serraglio, Eduardo Paes (PSDB-RJ) e
Maurício Rands (PT-PE). "Tenho
sido vítima de uma campanha difamatória de todos os níveis, tentando destruir uma imagem de 30
anos de trabalho... Gosto muito
das coisas francas e abertas, mas
meus advogados me convenceram a não falar. Eu falei uma vez e
me dei mal", disse Duda.
Os parlamentares ficaram o
tempo todo insistindo nas perguntas, para vencê-lo pelo cansaço. Duda suspirou várias vezes, fechou os olhos como se dormisse e
consultou os advogados, mas
continuou se recusando a falar.
Dizia estar incomodado, mas ria
ao repetir que não iria responder.
"Como marqueteiro o sr. deve
estar percebendo que a sua imagem está ruim. Tem aquela máxima do Chacrinha: "quem não se
comunica, se trumbica'", disse o
relator. Duda afirmou que seu
único "equívoco", já sanado, foi
não ter pago os R$ 4 milhões de
imposto devido pelo dinheiro remetido ao exterior. "Como fico
eu? Tem um comercial de um partido político [PFL] na TV que me
coloca como corrupto. Já fui prejulgado e condenado", disse ele.
O deputado Carlos Willian
(PTC-MG) foi o único a ter uma
pergunta respondida. Questionado se acreditava em Deus, Duda
disse que sim. "Tenho certeza que
vou ser absolvido, no momento
oportuno, pela Justiça dos homens. Pela justiça de Deus, tenho
certeza absoluta que Ele não me
incriminou", disse o publicitário.
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