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ELIO GASPARI
O Brasil reencontrou o crescimento
Em 1999, o ministro
Clóvis Carvalho falou
em "ousadia" e foi
demitido no dia seguinte
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O CRESCIMENTO DE 5,4% do PIB
em 2007 indica que o Brasil se
livrou da urucubaca do regresso, iniciada em 1982. Encerrou-se um
período durante o qual, pela primeira
vez desde 1930, a economia do país foi
dirigida por pessoas que colocaram o
crescimento econômico em segundo
(ou terceiro) plano. Não o faziam por
mal e, em certos casos, faziam por bem,
pois buscavam a estabilidade da moeda. Ainda assim, taxas medíocres de
crescimento (sempre acompanhadas
por gordas taxas de juros) eram consideradas remédio adequado, mesmo
quando mostravam-se daninhas. O
Brasil poderia ter saído do buraco há
mais tempo se a ekipekonômica do tucanato não tivesse amarrado o país ao
câmbio fixo, experiência que ruiu em
1999.
Crescimento chegou a ser palavrão.
Quando for escrita a história do período, é provável que nele apareçam duas
datas simbólicas. Uma, 3 de setembro
de 1999, sinaliza o esplendor da estagnocracia. Na véspera, num seminário
do PSDB, o ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho, propôs que o
governo de FFHH pisasse no acelerador: "Dá, sim, para ousar mais, para arriscar mais. (...) E o excesso de cautela,
a essa altura, será outro nome para a
covardia". No dia seguinte estava demitido. Ou o presidente mandava o
amigo embora, ou Pedro Malan sairia
do Ministério da Fazenda. Pela frase
de Carvalho e pela reação de Malan
mede-se o grau de controle que a ekipekonômica exercia sobre o governo.
A segunda data, 27 de março de
2006, indica o fim desse predomínio.
Nesse dia, moído pela crise da quebra
do sigilo do caseiro Francenildo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
ouviu de Lula que deveria sair do governo. Até aí tudo bem. A graça começa
quando Palocci sugere a Nosso Guia o
nome do economista Murilo Portugal,
secretário-executivo da Fazenda, para
sucedê-lo. Com jeito, Palocci lembrou
que um outro nome poderia ser mal recebido pelo mercado. Lula tinha decidido comprar essa parada. O presidente do BNDES, Guido Mantega, já estava no Planalto.
Portugal foi embora batendo a porta.
O mercado fez seu terrorismo durante
uns três dias e atualmente tem de
Mantega a mesma excelsa opinião que
teve de seus antecessores e terá de todos os sucessores.
TARSO GENRO DEVE CHAMAR OS ESPANHÓIS
O comissário Tarso Genro
deveria retaliar o mau atendimento do serviço de emissão
de passaportes de sua Polícia
Federal transferindo essa
atribuição para a equipe de
espanhóis do aeroporto de
Madri.
No final do ano passado, a
PF informava que a patuléia
interessada numa entrevista
para tirar ou renovar passaporte devia esperar 69 dias no
Rio e 32 dias em São Paulo. O
problema foi resolvido removendo-se a informação do
portal de serviços do departamento. Agora, quem quiser
saber a demora precisa antes
iniciar a tramitação de seu pedido. (A fila de São Paulo está
em 35 dias e no Rio, em 20.)
Nos últimos meses, a Polícia Federal distribuiu um lote
de mil passaportes com um
bug na leitura do código de
barras. As vítimas dessa inépcia acabam confundidas com
portadores de documentos
caducos. Como a PF não revelou a existência do problema,
nem divulgou os números das
cadernetas defeituosas, isso
só é descoberto quando o contribuinte está no aeroporto.
Lá, há uma lista com os números dos passaportes encrencados, e os portadores são liberados. Em vez de recorrer ao
popular recall, a PF preferiu
azucrinar suas vítimas, levando-as a viajar com um passaporte bichado.
A Polícia Federal acredita
que até o fim do mês resolverá
o problema. A ver.
PSDB DO T
A situação no PSDB paulista
azedou de tal maneira que, num
eventual segundo turno entre
Marta Suplicy e Geraldo Alckmin,
as esperanças de uma parte dos
tucanos irá para a candidata do
PT.
ZONA FRANCA
Quase cinco séculos depois das
marchas dos paulistas atrás de ouro, os garimpeiros passaram a desempenhar um papel vital na preservação da fronteira amazônica
nacional. Na região da Cabeça do
Cachorro, onde se encontram Colômbia, Venezuela e Brasil, são
eles quem marcam alguma forma
de limite para a entrada dos narcoguerrilheiros das Farc em Pindorama. Às vezes, os acampamentos do garimpo são saqueados.
Nesses casos, vem o Exército e devolve os invasores à mata colombiana. As Farc evitam encrenca
com os soldados brasileiros e há
quase dez anos não há choques relevantes na região. Umas poucas
trocas de tiros e mais nada. As lanchas dos narcoguerrilheiros circulam com desembaraço e liberdade
no rio Negro.
FANTASIA CAMBIAL
Nas contas de um sábio do mercado, o pacote cambial do governo
poderá impedir que o dólar caia a
R$1,50, segurando-o na faixa de
R$ 1,60. Ao longo de um ano, essa
manobra sairá por mais de US$ 5
bilhões. No barato, o custo de um
Bolsa Família.
ERRO
No artigo que o signatário publicou neste jornal na quarta-feira
havia a informação de que entre as
pessoas que praticaram o atentado ao consulado americano, em
março de 1968, estava Dulce Souza Maia. Ela nega que tenha participado e não foi acusada de tê-lo
feito. Aqui vai a pronta retificação,
acompanhada do necessário pedido de desculpas.
VOZ SOLITÁRIA
Há cerca de dois meses, os responsáveis pela economia norte-americana fazem o contrário do
que ensinaram aos outros. Injetam
dinheiro no mercado para socorrer a banca e discutem formas de
salvar os caloteiros da ciranda
imobiliária. A última sugestão nesse sentido veio do próprio presidente do Fed, Ben Bernanke. Parece proposta de petista dos anos 80,
pois oferece aos americanos encalacrados em dívidas imobiliárias a
renegociação do principal, o congelamento dos juros e até um refresco nas prestações. Tudo isso
com a bolsa da Viúva. O dinheiro
dos impostos de quem não especulou vai cobrir os buracos de quem
se deu mal. Há no Brasil um poderoso plantel de sábios analistas das
economias mundiais e nativa, muitos deles ligados a prestigiosos
bancos ou consultorias quiromânticas que atendem ao mercado financeiro. Quando uma proposta
parecida com a de Bernanke aparece em Pindorama, eles saltam
em defesa do livre mercado. Agora
que ela surgiu nos Estados Unidos,
guardaram obsequioso silêncio. Só
o economista Claudio Haddad,
presidente do Ibmec, foi capaz de
chutar a canela de Bernanke, com
artigo no jornal "Valor".
OAS 2.0
O empresário Cesar Mata Pires
conseguiu se tornar a única pessoa
do mundo que entrou em litígio
com Arlete Magalhães, a viúva de
ACM. Aos 78 anos, tendo perdido
dois filhos, a senhora nunca brigou
com ninguém, nem sequer elevou
a voz. Quando ACM reinava na Bahia, a OAS, fundada por Mata Pires, era debochadamente chamada
de "Obras Arranjadas pelo Sogro".
Na sua nova encarnação, corre o
risco de virar "Obras de Abominável Selvageria". Mata Pires briga
com os demais herdeiros de ACM
numa encrenca que, em vez de diminuir, tende a aumentar.
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