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PF investiga aliança entre madeireiros e sem-terra
Para extrair madeira, fazendas com reservas florestais viram alvo de invasores
Segundo a polícia, união informal ocorre em área de grande desmatamento em Rondônia; madeireiros e sem-terra não comentam
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma investigação da Polícia
Federal detectou uma "aliança
informal" entre sem-terra e
madeireiros no interior de
Rondônia. O esquema envolveria, de acordo com a polícia, a
escolha da propriedade, a invasão da terra, a expulsão do fazendeiro, o desmatamento e,
por fim, a venda da madeira.
Segundo relatório da PF obtido pela Folha, a parceria é
formada pela LCP (Liga dos
Camponeses Pobres) e madeireiros da região de Buritis, Nova Mamoré e Campo Novo de
Rondônia. O lucro da venda é
dividido entre líderes sem-terra e os donos das madeireiras.
Criada em 2003, a LCP é
uma dissidência radical do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Em Rondônia, tem diálogo
com a superintendência regional do Incra, toma conta de assentamentos e reivindica a desapropriação de outras áreas.
"Os madeireiros de Buritis,
após explorar até a exaustão a
madeira em áreas de manejo
autorizadas pelo Ibama e nas
reservas indígenas próximas,
fizeram uma aliança com os líderes da LCP a fim de avançar
sobre as reservas florestais das
grandes fazendas", diz a PF.
A Folha procurou a direção
da LCP, mas ninguém quis comentar o relatório da PF, assim
como proprietários de algumas
madeireiras locais.
O esquema
Na prática, segundo a polícia,
essa "aliança" começa na escolha da terra a ser invadida. Os
sem-terra "não invadem médias e pequenas propriedades,
porque seus proprietários, em
geral, exploram suas reservas
florestais para se capitalizar,
não restando, portanto, quantidade economicamente interessante aos líderes da LCP".
Esses sem-terra visam sempre a invasão de áreas com reservas florestais, em especial
aquelas voltadas para a pecuária. Dessa forma, o gado pode
ser abatido para sustentar o
acampamento. Segundo a PF,
os integrantes do movimento
social nunca invadem área sob
controle dos madeireiros.
De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis), a região é o principal foco do desmatamento no
Estado -um dos líderes do desmate na região da Amazônia.
Quem lidera as invasões é um
braço armado da LCP, com cerca de dez homens, segundo o
relatório. Esses homens entram na propriedade, expulsam
fazendeiro e peões e autorizam
a entrada dos demais sem-terra
para montar o acampamento e
extrair a madeira. No local de
atuação dessa "aliança informal", entre meados de 2007 e
meados de 2008, o Ibama aplicou 538 multas, que totalizam
cerca de R$ 35 milhões.
Vítimas dessa aliança, os fazendeiros desconhecem a participação dos madeireiros, retaliando, então, apenas os sem-terra. Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência, 12 crimes motivados por conflitos fundiários
ocorridos desde meados de
2006 nessa mesma região permanecem sem esclarecimento.
"Os inquéritos policiais são
extremamente precários. Isso
explica essa sequência de mortes", disse Ailson Machado, assessor de mediação de conflitos
agrários da secretaria. "Todas
essas barragens do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] vão causar uma migração para o Estado, o que tende a
agravar os problemas, essa violência", diz Fermino Fecchio,
ouvidor-geral da Cidadania da
secretaria e que assina ofício
enviado ao procurador-geral de
Justiça de Rondônia pedindo
explicações sobre os crimes.
Procurada pela Folha e informada sobre o teor da reportagem, a Secretaria da Segurança Pública de Rondônia não
se manifestou.
Essa aliança é de conhecimento do Ministério Público
de Rondônia, que mantém o tema sob sigilo para, segundo o
procurador-geral de Justiça,
aguardar o momento certo para flagrar os madeireiros.
Para os madeireiros, oriundos do Sul do país, a aliança
permite usar mão-de-obra de
um movimento sem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), ou seja, que não pode
ser responsabilizado, e não se
indispõem com os fazendeiros,
a maioria de São Paulo.
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