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Campanha teve
como símbolo
a cor amarela
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A campanha por eleições diretas para presidente tinha
uma cor: o amarelo. Os simpatizantes da proposta eram facilmente identificados: podia ser
uma fitinha no pulso, um broche na lapela, uma peça de vestuário ou a roupa toda, desde
que fosse amarelo, para saber
que ali estava um defensor da
volta do voto livre e direto.
A idéia de se adotar uma cor
como símbolo da campanha
foi de Caio Graco Prado (1932-1992), dono da editora Brasiliense. Conforme contou à Folha em 18 de abril de 1984, Prado se inspirou em manifestações populares nas Filipinas
contra o então presidente Ferdinand Marcos: "Era tudo
amarelo. Roupas, faixas nas casas, sapato amarelo, sombrinha amarela. Fiquei encantado,
principalmente porque é uma
forma de manifestação irreprimível e que não implica privilégios, pois não é preciso ter dinheiro para assumi-la, bastando apenas criatividade".
Ao levar sua idéia para o Comitê 25 de Janeiro, que reunia
intelectuais e artistas pró-diretas, Prado se envolveu numa
discussão cromática: seria o
amarelo a melhor cor? "Pensou-se no verde, mas o verde a
gente usa impunemente, por
acaso. O amarelo, não. Chama
mais a atenção, é menos comum, e a gente pensa antes de
usá-lo. Além do mais é a cor da
sabedoria na filosofia oriental".
A cor acabou sendo acolhida
pelo comitê, ganhou força e se
espalhou pelo país.
Também foi de Caio Graco
Prado a proposta para que a
Folha "adotasse" o amarelo.
"Ele me convidou para um almoço e pediu que o jornal ajudasse a divulgar o amarelo pelas diretas", afirma Caio Túlio
Costa, à época secretário de Redação do jornal.
Mas, a decisão de apoiar a cor
simbólica, recorda Boris Casoy, então editor-responsável
da Folha, "estava dentro de
uma estratégia maior de lutar
pelas diretas. Estratégia esta
proposta pelo Otavio Frias Filho, que era secretário do Conselho Editorial e que teve a virtude de captar esse anseio da
sociedade brasileira e propor
que ele se transformasse no
principal objetivo do jornal".
A primeira manifestação de
apoio do jornal ao amarelo
ocorreu no editorial "Amarelo,
sim", publicado pela Folha em
12 de fevereiro de 1984. "A
campanha nacional pelas eleições diretas, tão investida de
simbolismos, precisa de símbolos para prosseguir. É nesse
sentido que compreendemos e
apoiamos a proposta de adotar
a cor amarela como distintivo
da vontade geral em favor do
direito ao autogoverno, traduzido na fórmula diretas-já", dizia o editorial. Pouco mais de
dois meses depois, em 18 de
abril, a Folha passou a ostentar
na primeira página uma tarja
amarela, conclamando: "Use
amarelo pelas diretas-já".
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