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Tensão entre Vale e garimpo marca 12 anos de massacre
Cerca de mil garimpeiros apoiados pelo MST podem bloquear amanhã ferrovia da empresa
Região de Parauapebas, no sudeste do Pará, recebeu reforço de 500 PMs e cem policiais civis; chacina em 96 deixou 19 sem-terra mortos
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PARAUAPEBAS (PA)
Na semana em que o massacre de Eldorado do Carajás
(PA) completa 12 anos, uma
guerra de nervos instalou-se na
vizinha Parauapebas, com a Polícia Militar e a gigante mineradora Vale de um lado e um grupo de mil garimpeiros e o MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de outro.
O motivo do clima de tensão
é a insinuação dos garimpeiros,
apoiados pelo MST, de que
amanhã, no aniversário da chacina -quando 19 sem-terra foram mortos em confronto com
a PM-, podem bloquear a estrada de ferro usada para escoar todos os dias toneladas de
minério da Vale.
Os garimpeiros querem que a
empresa, privatizada dez anos
atrás, devolva a eles parte de
sua área. Já o MST, que no final
do ano passado bloqueou duas
vezes esse mesmo trecho da
ferrovia, tem criticado os passivos ambientais da empresa.
Acostumados com poucos
policiais no sudeste do Pará, os
moradores da região têm contado nesses dias com um reforço de 500 policiais militares e
cem policiais civis, todos eles
no aguardo das movimentações de sem-terra e garimpeiros na ferrovia usada pela Vale.
Garimpo e MST
O acampamento no qual se
concentram hoje cerca de mil
garimpeiros foi erguido no início do mês dentro de um assentamento do MST. Os barracos,
montados com o apoio dos
sem-terra, estão a cerca de 200
metros da ferrovia Carajás.
Os PMs estão a meia hora de
lá. Do centro de Parauapebas
(836 km de Belém) ao acampamento são cerca de 30 km, pouco mais da metade deles em trilhas com lama e buraco. No
meio desse caminho, os policiais ainda serão obrigados a
atravessar um um assentamento do MST com 5.000 pessoas.
O clima tornou-se mais acirrado na semana passada, quando o presidente da Vale, Roger
Agnelli, se referiu às ações do
MST como "atos criminosos"
praticados por "bandidos".
"Estamos numa área em que
a Justiça e a polícia não podem
entrar. Por enquanto, não estamos atrapalhando a ferrovia.
Por enquanto", disse Etevaldo
Arantes, 43, um dos coordenadores do MTM (Movimento
dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração), criado no
início deste ano com o apoio de
MST, CUT e CPT, entre outros.
"Inábil"
Por meio de sua assessoria, a
Secretaria da Segurança Pública do Pará deixa claro que os
policiais militares deslocados
para Parauapebas estão prontos para, em caso de bloqueio,
desobstruir a ferrovia imediatamente. Um helicóptero da
PM tem sobrevoado o acampamento dos garimpeiros.
A governadora do Pará, Ana
Júlia Carepa (PT), disse ontem
ter estranhado a maneira "inábil" com que a Vale vem tratando uma possível manifestação
em Parauapebas amanhã, para
marcar os 12 anos do massacre
de Eldorado do Carajás.
"Vínhamos conversando,
dialogando. E então eles subiram o tom. Foi como um surto", afirmou, em relação à ação
que a empresa moveu para
obrigar o Estado a proteger
suas propriedades na região.
Colaborou a Agência Folha
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