São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Tensão entre Vale e garimpo marca 12 anos de massacre

Cerca de mil garimpeiros apoiados pelo MST podem bloquear amanhã ferrovia da empresa

Região de Parauapebas, no sudeste do Pará, recebeu reforço de 500 PMs e cem policiais civis; chacina em 96 deixou 19 sem-terra mortos

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PARAUAPEBAS (PA)

Na semana em que o massacre de Eldorado do Carajás (PA) completa 12 anos, uma guerra de nervos instalou-se na vizinha Parauapebas, com a Polícia Militar e a gigante mineradora Vale de um lado e um grupo de mil garimpeiros e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de outro.
O motivo do clima de tensão é a insinuação dos garimpeiros, apoiados pelo MST, de que amanhã, no aniversário da chacina -quando 19 sem-terra foram mortos em confronto com a PM-, podem bloquear a estrada de ferro usada para escoar todos os dias toneladas de minério da Vale.
Os garimpeiros querem que a empresa, privatizada dez anos atrás, devolva a eles parte de sua área. Já o MST, que no final do ano passado bloqueou duas vezes esse mesmo trecho da ferrovia, tem criticado os passivos ambientais da empresa.
Acostumados com poucos policiais no sudeste do Pará, os moradores da região têm contado nesses dias com um reforço de 500 policiais militares e cem policiais civis, todos eles no aguardo das movimentações de sem-terra e garimpeiros na ferrovia usada pela Vale.

Garimpo e MST
O acampamento no qual se concentram hoje cerca de mil garimpeiros foi erguido no início do mês dentro de um assentamento do MST. Os barracos, montados com o apoio dos sem-terra, estão a cerca de 200 metros da ferrovia Carajás.
Os PMs estão a meia hora de lá. Do centro de Parauapebas (836 km de Belém) ao acampamento são cerca de 30 km, pouco mais da metade deles em trilhas com lama e buraco. No meio desse caminho, os policiais ainda serão obrigados a atravessar um um assentamento do MST com 5.000 pessoas.
O clima tornou-se mais acirrado na semana passada, quando o presidente da Vale, Roger Agnelli, se referiu às ações do MST como "atos criminosos" praticados por "bandidos".
"Estamos numa área em que a Justiça e a polícia não podem entrar. Por enquanto, não estamos atrapalhando a ferrovia. Por enquanto", disse Etevaldo Arantes, 43, um dos coordenadores do MTM (Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração), criado no início deste ano com o apoio de MST, CUT e CPT, entre outros.

"Inábil"
Por meio de sua assessoria, a Secretaria da Segurança Pública do Pará deixa claro que os policiais militares deslocados para Parauapebas estão prontos para, em caso de bloqueio, desobstruir a ferrovia imediatamente. Um helicóptero da PM tem sobrevoado o acampamento dos garimpeiros.
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), disse ontem ter estranhado a maneira "inábil" com que a Vale vem tratando uma possível manifestação em Parauapebas amanhã, para marcar os 12 anos do massacre de Eldorado do Carajás.
"Vínhamos conversando, dialogando. E então eles subiram o tom. Foi como um surto", afirmou, em relação à ação que a empresa moveu para obrigar o Estado a proteger suas propriedades na região.


Colaborou a Agência Folha


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