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Ministros usam cota aérea da Câmara após assumir pastas
Múcio, Stephanes e Geddel gastaram 64 passagens que receberam como deputados
Políticos dizem que bilhetes são excedente da época em que estavam no Casa, que não vê uso irregular; para Procuradoria, há ilegalidade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros José Múcio
(Relações Institucionais), Reinhold Stephanes (Agricultura)
e Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) utilizaram e distribuíram para parentes 64
passagens aéreas da Câmara
mesmo depois de terem assumido seus cargos no Executivo.
Os três receberam as passagens quando eram deputados e
não devolveram os bilhetes ao
assumirem as pastas. Múcio e
Stephanes confirmaram o uso
das cotas, mas negam irregularidade. Geddel está no exterior
e não foi localizado pela Folha.
Ato da Câmara diz que "perderá o direito a cota parlamentar o deputado titular que for
substituído pelo suplente". Segundo os ministros, eles deixaram de receber a cota de passagem aérea quando assumiram
os cargos no governo. Ocorre
que, segundo eles, as passagens
emitidas após isso são de crédito que tinham da época em que
exerciam o mandato e que "sobraram". A Câmara também
não aponta irregularidade.
"Ao se licenciar, o ministro
transformou seu saldo de passagem em crédito. Portanto,
ele usou esse crédito pessoal,
não cometendo nenhuma irregularidade", disse a assessoria
de Múcio, em nota. "O parlamentar ganha uma cota de passagens. Usando ou não, ela é
dele", disse Stephanes, por
meio de sua assessoria. Os dois
também dizem não ver problema em repassar as passagens
para familiares e disseram que
não vão devolver o dinheiro.
Segundo o site "Congresso
em Foco", Múcio utilizou 54
passagens da Câmara após 22
de novembro de 2007, quando
assumiu o ministério. Em apenas cinco vezes foi o ministro
quem viajou -nas demais foram parentes. Stephanes usou
15 passagens e Geddel, 4.
O Ministério Público Federal
do Distrito Federal encontrou
"inúmeras irregularidades" no
uso da cota aérea a que os deputados têm direito e enviou
um ofício para a Câmara com
uma série de recomendações.
As investigações do Ministério Público começaram com
um inquérito contra os ex-deputados federais Laudenir Lino Rossi e Thaís Bergo Duarte
Barbosa e contra secretários
parlamentares que teriam usado a verba indevidamente.
Segundo os procuradores
que assinam o ofício, "embora
não haja vedação expressa no
ato normativo da Câmara à utilização da cota para emissão de
passagens em nome de terceiros e para destinos diversos do
Estado de origem, a prática é
ilegal". A Procuradoria recomendou a proibição de emissão
de bilhetes a terceiros, de passagem para o exterior não relacionada a missão oficial e sugeriu acabar com a cota para deputados do Distrito Federal.
Antes de o Ministério Público divulgar a nota, o presidente
da Casa, deputado Michel Temer (PMDB-SP), havia prometido anunciar nos próximos
dias uma disciplina rigorosa
para o uso das passagens.
A Corregedoria da Câmara
vai analisar o fato de Fábio Faria (PMN-RN) ter pagado passagens para sua ex-namorada,
Adriane Galisteu. O deputado,
que devolveu parte dos gastos
anteontem, poderá enfrentar
processo por quebra do decoro.
Mensalmente, os deputados
têm direito a cotas aérea que
vão de R$ 4.700 a R$ 18,7 mil.
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