São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRIVATIZAÇÃO
Um dos controladores da ex-estatal do Rio, alvo de críticas e multa no verão, nega repetição de problemas
SP não terá "efeito Light', diz Steinbruch

ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio

O presidente do Conselho da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, afirmou ontem que "não há a menor chance" de se repetirem em São Paulo os '"efeitos Light".
A CSN é uma das controladoras da Light, a distribuidora que atende a cerca de 80% dos consumidores do Estado do Rio. Steinbruch também protagonizou a compra da Vale do Rio Doce, em 97.
Depois de protagonizar uma série de quedas e cortes de energia durante o verão, a Light foi auditada e multada em 0,1% do seu faturamento pela agência reguladora do setor, a Aneel, levantando questionamentos sobre o processo de privatização.
Agora, a CSN passa a figurar também no controle da Metropolitana. Levou a distribuidora paulista no leilão de ontem, sem concorrentes, elevando o complexo Light-Metropolitana ao porte de maior distribuidora de energia da América Latina.

Folha - O que o senhor achou do resultado do leilão?
Benjamin Steinbruch -
Foi muito bom, estamos muito satisfeitos. Com Rio e São Paulo, teremos a maior distribuidora da América Latina. Será um sucesso e muito bom para São Paulo.
Folha - Por que só vocês entraram na privatização?
Steinbruch -
Sei lá. Talvez pelo momento. Achamos que seria uma boa oportunidade. A Light estava bem preparada e vinha pensando nisso havia algum tempo.
Folha - Vocês tentariam levar a empresa a qualquer custo?
Steinbruch -
Não, nunca é assim, há limitações técnicas. E o preço mínimo das duas empresas já era bastante alto, tanto que não houve oferta pela Bandeirante.
Folha - Por que vocês não deram um lance para a Bandeirante?
Steinbruch -
Porque aí teríamos acúmulo de controle. Teríamos que desmobilizar em dois anos parte das empresas. E seria um passo muito ousado.
Com Metropolitana e Light já temos os dois maiores mercados da América do Sul.
Folha - Se não tivessem levado a Metropolitana, teriam tentado a Bandeirante?
Steinbruch -
Nosso objetivo era a Metropolitana, pela similaridade com a Light. São duas distribuidoras urbanas.
Folha - O senhor acredita que, se tivesse havido mais concorrentes, o ágio poderia ter chegado a 15%, como especulava o mercado?
Steinbruch -
Acho que não. A expectativa do mercado é sempre muito positiva. Os preços estão maiores, e os ágios obrigatoriamente serão menores. A Metropolitana foi vendida no limite.
Folha - Os representantes do consórcio tinham vários envelopes. Vocês iriam até quanto para levar a Metropolitana?
Steinbruch -
Vários envelopes é folclore de leilão. Na verdade, só apresentaríamos um lance. São práticas para dissimular.
Folha - Posso concluir que só entrariam com o lance mínimo?
Steinbruch -
O preço estipulado era bastante alto, fora daquilo realmente seria inviável. Para a Bandeirante a mesma coisa.
Folha - E os consumidores paulistas, o que podem esperar?
Steinbruch -
Tenho confiança de que as coisas vão ser boas em São Paulo. Primeiro pela qualidade da equipe técnica e da companhia em si. Vamos manter o corpo técnico todo. Contamos com eles.
Folha - Os consumidores temem, de certa forma, um "efeito Light".
Steinbruch -
Não há a menor chance de se repetirem em São Paulo os "efeitos Light", que foram sazonais e específicos do Rio de Janeiro. São Paulo pode ficar tranquila porque será muito bem atendida.
Folha - Se houver cancelamento do leilão, o que vocês pretendem fazer?
Steinbruch -
Não acredito que vá haver cancelamento porque o governo de São Paulo é competente e não faria um leilão sem validade jurídica.
Folha - O consórcio pretende entrar em mais negócios na área-?
Steinbruch -
Se Deus quiser. A Light tem uma saúde financeira invejável e os controladores mais ainda.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.