São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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PARTIDOS
Deputado diz preferir bancar própria campanha se verba repassada para se coligar for insuficiente
Cascione diz que R$ 3 milhões são pouco

da Sucursal de Brasília


Em entrevista gravada concedida à Folha, o deputado Vicente Cascione (PTB-SP) confirmou o conteúdo da conversa dos deputados do PTB paulista. Disse que o deputado Duilio Pisaneschi informou sobre a proposta de R$ 3 milhões que teria sido feita por Paulo Maluf. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - O que se discutiu na reunião sobre a coligação com Maluf?
Vicente Cascione -
Nós estamos há meses tratando da coligação em São Paulo. Tudo indicava que o partido iria se coligar com Maluf. Acontece que o Campos Machado quer que o partido se coligue com o Covas. A informação que acabou sendo prestada é que teríamos um jantar marcado para o dia 27 com Maluf, para acertar ou não a coligação. Dependerá essa coligação, primeiro, se teremos chance eleitoral com esse ou com aquele partido. A segunda coisa, se compensar a coligação: quanto dos recursos eleitorais de campanha, quanto do bolo dos recursos, caberia ao PTB, para que o partido pudesse custear a campanha dos seus candidatos. A informação que obtivemos nessa reunião, que o deputado Duilio Pisaneschi passou, informação que teria sido prestada pelo presidente do partido, que já teria tido um primeiro contato com Paulo Maluf, é a de que o Maluf estaria disposto a dar, dos recursos de campanha, do bolo da campanha, para o PTB, R$ 3 milhões, para a campanha do partido. O que eu acho muito pouco, insignificante, dependendo do número de pessoas com quem você vai dividir esse bolo. Se você tiver 30 e tantos candidatos do PTB, uma quantia dessas passa a ser irrisória, levando-se em conta o montante de campanha que normalmente existe, em termos de doações feitas aos partidos que têm candidatos viáveis. O que eu disse é que, a receber pouco, eu prefiro não receber nada e fazer campanha à minha custa. Se você viver de promessas dos candidatos dos partidos com quem você coliga, no fim acaba mal.
Folha - O sr. falou que votou contra a reeleição e não cobrou nada. O sr. tem notícia de alguém que tenha cobrado?
Cascione -
Quando teve a votação da reeleição, o governo me pressionou, me ofereceu vantagens -eu era líder do PTB- para votar a favor da reeleição e para tentar convencer os deputados da bancada a votar a favor. E eu disse claramente que não iria votar a favor, porque sempre fui contra. Eu não aceitei os favores do governo e não aceitei pressão de ninguém. Votei com a minha consciência e tive de renunciar à liderança no dia seguinte. Sei de gente que recebeu favores. A gente acaba sabendo.
Folha - Mas por qual lado?
Cascione -
Não havia dois lados. No momento em que eu estava como líder do partido, o governo me acenou com vantagens. Se você me pedir nomes de quem levou vantagem, eu não vou mencionar. Mas sei de gente que levou vantagens. O governo cumpriu coisas que tinha prometido e não fazia havia muito tempo.
Folha - Paulo Maluf ofereceu alguma coisa a alguém?
Cascione -
Eu sei de pessoas que falavam em nome do Maluf que diziam que ele também estava prometendo vantagens para quem estivesse do lado dele. Eu não tenho condições de dizer que tipo de vantagem, mas havia pessoas que diziam que quem votasse a favor do Maluf poderia ter vantagens.



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