São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Expectativa não é boa, diz Maggi sobre Minc

Em entrevista, novo ministro do Meio Ambiente afirmou que se "deixar" governador de MT planta soja "até nos Andes"

"Me senti surpreendido por ter sido metralhado assim", reclamou Maggi; Ivo Cassol, de Rondônia, também teceu críticas à fala do ministro


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), afirmou ontem à Folha que não tem uma boa expectativa sobre a futura gestão de Carlos Minc à frente do Ministério do Meio Ambiente, no lugar de Marina Silva, que se demitiu.
"Ele não me conhece, não conhece o Estado, não conhece a região. A expectativa, posso dizer, é, por enquanto, não boa", afirmou o governador.
Mato Grosso é o recordista histórico no desmatamento da floresta. Um dos maiores sojicultores do mundo, Maggi se firmou, desde que foi eleito pela primeira vez, em 2002, como a principal liderança dos produtores rurais da região.
Em entrevista à TV Globo antes de aceitar o convite para o ministério, Minc declarou que, "se deixar", Maggi plantaria soja "até nos Andes".
"Achei muito preconceituoso", respondeu Maggi. "Me senti surpreendido por ter sido metralhado assim. Conheço muito o Brasil; ele, não. Mas o convido, desde já, para vir aqui e conhecer nosso trabalho."
Em nota, o governo mato-grossense classificou de "descabidas, inoportunas, extemporâneas e impróprias" as declarações do novo ministro.
Mas Maggi espera que não haja mudança substancial naquele que diz considerar o maior acerto da gestão Lula até aqui: o combate ao desmatamento. "É muito claro, a Marina vai ser reconhecida pelas estatísticas. Quando nós [ele e a ex-ministra] assumimos, o crescimento era crescente e galopante. O maior ponto vai ser esse reconhecimento público."
Ao mesmo tempo, disse que Minc poderá dialogar melhor com os setores produtivos para acelerar o crescimento -ponto fraco, em sua opinião, do trabalho da ex-ministra. "Espero que haja uma maior celeridade nos processos [de licenciamento ambiental]. E isso não significa passar por cima da lei."
Como secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, o novo ministro se notabilizou por acelerar a aprovação de pedidos de licenças.
No ano passado, Marina entrou em uma polêmica com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) que queria a aprovação do licenciamento do complexo hidrelétrico do rio Madeira, em Rondônia.
Outro debate foi em janeiro deste ano com o próprio Maggi, que refutou dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que apontavam aumento da derrubada da floresta.
"Não acho que foi isso [que prejudicou Marina]. Mas foi um debate importante", disse Maggi, que negou ter uma rixa pessoal com a ex-ministra.
Outro ponto a ser melhorado, disse o governador de Mato Grosso, é a suposta truculência das operações de repressão aos crimes ambientais, como a Arco de Fogo.
Desde que a operação começou, Maggi reclama que ela destruiu a economia das cidades por onde passou, sem deixar alternativas para quem perdeu o emprego com o fechamento de madeireiras.

Rondônia
Ivo Cassol (sem partido), governador de Rondônia, se solidarizou com o colega de Mato Grosso, em relação às afirmações de Minc. "Eu repudio. Antes de falar, tem que sentir na pele, vir até a Amazônia."
Para Cassol, Minc deverá aumentar o diálogo com lideranças da região para "ter sucesso" em sua gestão.


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