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Líder arrozeiro acusa governo e ministro de fazerem "terrorismo"
Paulo César Quartiero (DEM) diz que Tarso Genro foi o responsável por conflito em Roraima; ele afirma também que o índio, "como ser humano, não quer evoluir"
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Personagem principal da polêmica envolvendo a demarcação da reserva Raposa/Serra do
Sol, em Roraima, o líder arrozeiro e prefeito de Pacaraima
(RR), Paulo César Quartiero
(DEM), 55, acusou o governo
federal e o ministro Tarso Genro (Justiça) de fazerem terrorismo na terra indígena.
Segundo ele, o confronto entre índios e funcionários de sua
fazenda, na semana passada, foi
"orquestrado". O Ministério da
Justiça não quis se manifestar
sobre as declarações.
Ontem, um dia depois de ser
solto pela Justiça, Quartiero visitou deputados no Congresso.
FOLHA - O sr. disse que o confronto
na reserva se agravaria se a política
do governo fosse mantida. Isso
acontecerá mesmo se o STF confirmar a demarcação contínua?
PAULO CÉSAR QUARTIERO - Com
certeza, a questão é emblemática. Só 7% de Roraima pode ser
utilizada por qualquer atividade econômica. É condenar a
população ao aniquilamento.
FOLHA - E a convivência com os índios?
QUARTIERO - Nós defendemos
os índios! Quem condena é essa
política. Há áreas demarcadas
há 20, 30 anos, nenhuma produtiva. Alguns índios sobrevivem com cesta básica. Por que
temos que condená-los a viver
como antigamente?
FOLHA - E a tradição dos índios?
QUARTIERO - Se você disser que
a tradição indígena é viver fodido, então concordo. Se você me
disser que o índio, como ser humano, não quer evoluir, então
concordo. Está faltando oportunidade. Meu vice-prefeito é
índio, há índios advogados.
FOLHA - O vice-prefeito é contrário
aos arrozeiros.
QUARTIERO - Ele se vendeu. Era
do nosso grupo. Mudou de lado.
FOLHA - Por quê?
QUARTIERO - Ofereceram mais.
Infelizmente índios são como
políticos, procuram o interesse
próprio. Vai lá perguntar se eles
querem viver carregando coisas nas costas. Não querem!
Querem celular, futuro para os
filhos, dentista. Se você quer o
contrário, vamos trancá-los em
um zoológico e condená-los a
viver como na idade da pedra.
FOLHA - E o ataque dos funcionários de sua fazenda aos índios?
QUARTIERO - Foi orquestrado.
Aqueles índios foram levados
pela Funai, em veículos da missão católica, que tem interesse
em retirar os evangélicos da região. Tudo com o apoio da PF.
Eles sabiam que se entrassem
haveria confronto. Esses feridos foram a pior coisa para nós.
Eles buscam um mártir, como
Dorothy Stang e Chico Mendes. Empurraram os índios como bucha de canhão para que
se transformem em mártires.
FOLHA - O sr. deu ordem para atirar
caso alguém entrasse na fazenda?
QUARTIERO - Ninguém tem ordem para isso. Não queremos
ferir os índios, que são vítimas.
Os verdadeiros culpados estão
em gabinetes. O ministro da
Justiça esteve lá no dia seguinte. Por que não foi antes, para
tentar evitar o conflito? Ele é o
responsável. O ministro vê a fogueira e joga gasolina!
FOLHA - Tarso Genro disse que o
ataque de arrozeiros aos índios foi
um "ato terrorista".
QUARTIERO - Terrorismo, só que
de Estado. Ele mandou 500 policiais federais e da Força Nacional para tirar as pessoas na
ponta do fuzil. Quem está fazendo terrorismo é o governo,
através do ministro da Justiça.
FOLHA - O que o sr. achou da saída
de Marina Silva?
QUARTIERO - Ela criou um retrocesso. Já vai tarde.
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