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Igreja despeja ONG de padre suspeito de gastar R$ 15 mi
Ex-administrador de bens da Arquidiocese do Rio é acusado de ter comprado bens de luxo
Associação, criada em 2006 em parceria com d. Eusébio Scheid, funcionava em uma sala dada pela arquidiocese no prédio da rádio Catedral
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
A Associação de Solidariedade, Justiça e Paz -entidade católica criada em junho de 2006
pelo então administrador dos
bens da Arquidiocese do Rio,
padre Edvino Steckel, em parceria com o então cardeal arcebispo, d. Eusébio Scheid- foi
despejada de sua sede pela própria arquidiocese.
A associação funcionava em
uma sala cedida pela Arquidiocese do Rio no mesmo prédio
em que está instalada a rádio
Catedral -que pertence à igreja-, na Glória (zona sul). A rádio ocupa o espaço deixado pela
entidade, que até ontem não tinha novo endereço.
A arquidiocese também deixará de divulgar o cartão de crédito oferecido pela associação,
em que parte das taxas pagas
pelos usuários é revertida para
a igreja. Um anúncio era veiculado nos roteiros das missas.
Steckel deixou o cargo de administrador dos bens no último
dia 7, acusado de ter gasto R$ 15
milhões com objetos, carros e
imóvel desnecessários. A arquidiocese investiga as contas de
sua gestão por meio de uma auditoria ainda sem prazo para
ser concluída.
O novo administrador dos
bens, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, diz que os gastos
consumiram as reservas da arquidiocese, que gasta R$ 400
mil mensais para se manter
-basicamente com o pagamento de salários aos cerca de
200 funcionários.
Padre Steckel também deixou o cargo de diretor da rádio
Catedral -ele pediu demissão
na última segunda-feira, segundo a assessoria de imprensa
da arquidiocese. Mas continua
dirigindo a Associação de Solidariedade, Justiça e Paz. A entidade administra um fundo de
investimentos que, em julho de
2008, tinha R$ 2,69 milhões
aplicados. Em março, segundo
o balanço mais recente da Anbid (Associação Nacional dos
Bancos de Investimento), esse
valor havia sido reduzido para
R$ 390 mil.
O novo administrador dos
bens da arquidiocese assumiu
na semana passada decidido a
apagar os vínculos com a gestão
de Steckel. O apartamento que
a arquidiocese comprou por R$
2,2 milhões, no Flamengo (zona sul do Rio) -para servir como moradia a d. Eusébio
Scheid, que se aposentou em
abril, passou a morar em São
José dos Campos (97 km de SP)
e foi substituído por d. Orani
João Tempesta- deve ser vendido, assim como os três carros
comprados recentemente.
A arquidiocese também estuda leiloar os móveis de luxo
comprados para decorar a sala
antes ocupada por Steckel na
sede da instituição.
O assessor de imprensa da
arquidiocese, Adionel Carlos
da Cunha, que havia sido afastado e reassumiu o cargo que já
ocupara por 30 anos, ressaltou
que a entidade criada pelo ex-administrador não tem vínculos com a arquidiocese. O site
da entidade, porém, apresenta
a associação como "uma instituição católica" e, no item "Perguntas Frequentes", a resposta
à questão "A ASJP é uma instituição ligada à Igreja Católica
Apostólica Romana?" é: "sim,
ela é uma instituição católica
que será sempre presidida por
um cardeal da Igreja".
A Folha não conseguiu localizar nenhum responsável pela
associação. D. Eusébio está fora do Brasil, em viagem.
O padre Steckel trabalha há
sete anos na igreja Nossa Senhora do Parto, no centro do
Rio, mas nos últimos dias não
esteve lá. As missas de anteontem foram celebradas pelo padre Eli Everson Magela de Carvalho, oficialmente subordinado à paróquia da Imaculada
Conceição e São Sebastião, no
Engenho de Dentro (zona norte). Ontem, outro padre comandou as celebrações.
Segundo a arquidiocese, um
carro Jetta sedan que custa R$
85 mil, foi comprado pela Igreja e era usado pelo padre continuava com ele, anteontem, mas
será devolvido nos próximos
dias. A igreja pretende readmitir os cerca de 60 funcionários
demitidos durante a gestão de
Steckel -pelo menos seis já foram recontratados.
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