São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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Igreja despeja ONG de padre suspeito de gastar R$ 15 mi

Ex-administrador de bens da Arquidiocese do Rio é acusado de ter comprado bens de luxo

Associação, criada em 2006 em parceria com d. Eusébio Scheid, funcionava em uma sala dada pela arquidiocese no prédio da rádio Catedral

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

A Associação de Solidariedade, Justiça e Paz -entidade católica criada em junho de 2006 pelo então administrador dos bens da Arquidiocese do Rio, padre Edvino Steckel, em parceria com o então cardeal arcebispo, d. Eusébio Scheid- foi despejada de sua sede pela própria arquidiocese.
A associação funcionava em uma sala cedida pela Arquidiocese do Rio no mesmo prédio em que está instalada a rádio Catedral -que pertence à igreja-, na Glória (zona sul). A rádio ocupa o espaço deixado pela entidade, que até ontem não tinha novo endereço.
A arquidiocese também deixará de divulgar o cartão de crédito oferecido pela associação, em que parte das taxas pagas pelos usuários é revertida para a igreja. Um anúncio era veiculado nos roteiros das missas.
Steckel deixou o cargo de administrador dos bens no último dia 7, acusado de ter gasto R$ 15 milhões com objetos, carros e imóvel desnecessários. A arquidiocese investiga as contas de sua gestão por meio de uma auditoria ainda sem prazo para ser concluída.
O novo administrador dos bens, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, diz que os gastos consumiram as reservas da arquidiocese, que gasta R$ 400 mil mensais para se manter -basicamente com o pagamento de salários aos cerca de 200 funcionários.
Padre Steckel também deixou o cargo de diretor da rádio Catedral -ele pediu demissão na última segunda-feira, segundo a assessoria de imprensa da arquidiocese. Mas continua dirigindo a Associação de Solidariedade, Justiça e Paz. A entidade administra um fundo de investimentos que, em julho de 2008, tinha R$ 2,69 milhões aplicados. Em março, segundo o balanço mais recente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), esse valor havia sido reduzido para R$ 390 mil.
O novo administrador dos bens da arquidiocese assumiu na semana passada decidido a apagar os vínculos com a gestão de Steckel. O apartamento que a arquidiocese comprou por R$ 2,2 milhões, no Flamengo (zona sul do Rio) -para servir como moradia a d. Eusébio Scheid, que se aposentou em abril, passou a morar em São José dos Campos (97 km de SP) e foi substituído por d. Orani João Tempesta- deve ser vendido, assim como os três carros comprados recentemente.
A arquidiocese também estuda leiloar os móveis de luxo comprados para decorar a sala antes ocupada por Steckel na sede da instituição.
O assessor de imprensa da arquidiocese, Adionel Carlos da Cunha, que havia sido afastado e reassumiu o cargo que já ocupara por 30 anos, ressaltou que a entidade criada pelo ex-administrador não tem vínculos com a arquidiocese. O site da entidade, porém, apresenta a associação como "uma instituição católica" e, no item "Perguntas Frequentes", a resposta à questão "A ASJP é uma instituição ligada à Igreja Católica Apostólica Romana?" é: "sim, ela é uma instituição católica que será sempre presidida por um cardeal da Igreja".
A Folha não conseguiu localizar nenhum responsável pela associação. D. Eusébio está fora do Brasil, em viagem.
O padre Steckel trabalha há sete anos na igreja Nossa Senhora do Parto, no centro do Rio, mas nos últimos dias não esteve lá. As missas de anteontem foram celebradas pelo padre Eli Everson Magela de Carvalho, oficialmente subordinado à paróquia da Imaculada Conceição e São Sebastião, no Engenho de Dentro (zona norte). Ontem, outro padre comandou as celebrações.
Segundo a arquidiocese, um carro Jetta sedan que custa R$ 85 mil, foi comprado pela Igreja e era usado pelo padre continuava com ele, anteontem, mas será devolvido nos próximos dias. A igreja pretende readmitir os cerca de 60 funcionários demitidos durante a gestão de Steckel -pelo menos seis já foram recontratados.


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