São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Campanha de Dilma usa segurança irregular

Grupo CR 5 Brasil Segurança, de São Paulo, presta serviços em Brasília, mas não tem filial na capital, como exige a lei

Empresa possui alvará para prestar serviço de segurança patrimonial, mas não tem autorização para oferecer segurança pessoal privada

MATHEUS LEITÃO
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A empresa contratada pelo PT para fazer a segurança da pré-candidata do partido à Presidência, Dilma Rousseff, atua de forma irregular em Brasília. O contrato foi acertado com o grupo CR 5 Brasil Segurança, de São Paulo, que recebeu R$ 3,1 milhões de órgãos do governo federal entre 2008 e 2009.
A atuação das empresas do setor é fiscalizada pela Delegacia de Segurança Privada da Polícia Federal. A Folha apurou que, para fazer o serviço para a petista, a CR 5 recebe entre R$ 100 mil e R$ 120 mil por mês.
Segundo a legislação em vigor (lei 7.102/83 e decretos posteriores, como a portaria 387/06 da Polícia Federal), para uma empresa paulista prestar serviço em Brasília, ela precisa ter uma filial aberta na cidade, com vários requisitos -como um cofre para guardar as armas e um mínimo de funcionários. Esse é o aparato obrigatório para garantir a qualidade do serviço de segurança.
O grupo CR 5 não cumpre esses requisitos e não iniciou o processo de abertura de filial. Isso torna passíveis de multa tanto a empresa quanto o seu contratante, o PT. A empresa pode ainda ser proibida temporariamente de funcionar.
Em São Paulo, ela tem alvará para realizar o serviço de segurança patrimonial -ou seja, de estabelecimentos-, mas não tem autorização para fazer a segurança pessoal privada, o serviço de guarda-costas.
A Folha ouviu cinco seguranças da casa e de um dos escritórios de Dilma Rousseff, na QI 7 e na QL 24 do Lago Sul, em Brasília, em dias diferentes. Todos responderam trabalhar com a "segurança da pré-candidata por uma empresa de São Paulo" ou com a "segurança para empresa chamada CR 5".
Diziam ter a carteira nacional de vigilante, específica para o trabalho de segurança. Um deles disse ter dado "baixa do Exército, saído do Gabinete de Segurança Institucional" da Presidência da República para trabalhar na pré-campanha pela empresa paulista.
Os serviços da empresa não se restringem à casa da ex-ministra Dilma, no Lago Sul. São executados também em outro escritório da pré-campanha do PT em Brasília, no Setor Hoteleiro Sul, dentro das dependências do Hotel Imperial.

Agressividade
A CR 5 foi criada em maio de 2005 e, de acordo com o dono, Cassiano Rodrigues de Oliveira, é "agressiva no mercado".
Três anos após sua criação, ela começou, de acordo com o portal Transparência Brasil, a ter importantes contratos com o governo federal.
Passou a atuar para órgãos e autarquias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Fazenda e Ministério da Educação. Somados, os contatos atingiram em 2008 R$ 1,3 milhão.
São contratos para realizar a segurança do escritório da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em São Paulo, da Universidade Federal de São Carlos, da Delegacia da Receita Federal em Taubaté e do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo.
No ano de 2009, o valor para os mesmos contratos aumentou para R$ 1,8 milhão. O dinheiro gasto com a CR 5 no Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo aumentou 93%, de R$ 328 mil para R$ 635 mil.
Também subiu o valor do contrato com a Universidade Federal de São Carlos, que passou de R$ 285 mil para R$ 394 mil, um aumento de 38%. Em 2010, já foram liberados R$ 872 mil para a empresa pelos mesmos contratos.
Campanha política e serviço de segurança já renderam problemas para o PT no passado. Em 2006, o então assessor especial da Secretaria Particular da Presidência, Freud Godoy, pediu demissão após ter o nome envolvido na compra de dossiê falso com informações contra políticos do PSDB. Freud, ex-segurança de Lula, não foi indiciado no caso.


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