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SALÁRIO MÍNIMO
Presidente conta com a Câmara para barrar proposta de reajuste maior, mas em último caso vetará mudança
Planalto já teme derrota de MP no Senado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva recebeu ontem de seus articuladores políticos uma avaliação negativa sobre a chance de
aprovar o salário mínimo de R$
260 no Senado. Já avalia o custo-benefício de ter de "corrigir" a decisão na Câmara dos Deputados,
para onde retornaria uma medida
provisória rejeitada no Senado.
Nem as ameaças de retaliação
nem os apelos do governo e do PT
foram suficientes para garantir os
votos necessários para aprovar a
medida provisória amanhã. Em
razão disso, há a possibilidade de
se adiar a votação. Segundo o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), a MP será votada
amanhã apenas se houver acordo,
"o que não há até agora".
Lula pretende dedicar o dia de
hoje a tentar reverter o clima de
pessimismo de seus articuladores
políticos. Alguns deles reclamaram que o vazamento da estratégia de tentar convencer os contrários à MP a não comparecer à votação dificultou a operação. Com
um quórum superior a 60 ou 65
dos 81 senadores, a conclusão é
que dificilmente o governo vence.
Além de questões partidárias, o
ano eleitoral atrapalha os planos
do governo Lula. Senadores temem ser cobrados na campanha
por eventuais votos favoráveis a
um mínimo de R$ 260.
Se o Senado aprovar um mínimo de R$ 275, a Câmara, presidida pelo petista João Paulo Cunha
(SP), reconfirmaria os R$ 260. Tal
saída poderia fortalecer o desejo
de João Paulo e de Sarney de ressuscitar a emenda constitucional
que permitiria a reeleição deles
em fevereiro de 2005. A emenda já
foi rejeitada na Câmara.
Na hipótese extrema de a Câmara também derrotar o governo, Lula vetaria os R$ 275. Mas é
improvável que João Paulo e aliados percam essa chance de prestar serviço ao presidente. A Folha
apurou que Sarney prefere a fórmula pela qual a Câmara voltaria
a fixar o salário em R$ 260.
Apesar de Sarney ter dado uma
declaração favorável ao valor fixado pelo governo, ele não garantiu
apoio dos senadores que seguem
sua orientação política -inclusive o de sua filha, Roseana Sarney
(PFL-MA). No Maranhão, ela defendeu anteontem um mínimo
equivalente a US$ 100. Como o
PFL fechou questão a favor de R$
275, ela poderá se abster de votar.
"Os líderes é que têm de fazer
esse trabalho [de convencimento], o que não me exime de ter
meu ponto de vista. O presidente
da República é líder sindical, tem
sensibilidade social. Está pesando
problemas das contas públicas e
por isso optou por esse número
[R$ 260]", afirmou Sarney.
O vice-presidente José Alencar
afirmou a senadores do PL que,
caso o Senado e, depois, a Câmara
aprovem um mínimo de R$ 275,
Lula terá de vetá-lo, o que seria
um desgaste muito grande.
Tendo convencido apenas Aelton Freitas (MG), que assumiu
sua vaga no Senado, Alencar convocou a bancada do PL para uma
reunião à noite. ""Tenho o maior
carinho pelo vice-presidente, amo
de paixão, mas fico com o povo
brasileiro. Não estou votando só
contra o mínimo de R$ 260, mas
contra essa equação socialmente
perversa dos neoliberais", afirmou Marcelo Crivella, pré-candidato a prefeito do Rio.
A bancada do PT, numa reunião com o presidente do partido,
José Genoino, decidiu numa votação simbólica, por sete a três, fechar questão a favor dos R$ 260. O
vice-presidente do Senado, Paulo
Paim (RS), deixou a reunião certo
de que haverá punição, mas manteve sua posição de votar por um
valor maior que os R$ 260.
(RAQUEL ULHÔA, GUSTAVO PATÚ e KENNEDY ALENCAR)
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