São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ALIADOS

Decisão da bancada foi unânime; eventual afastamento do tesoureiro será discutido amanhã pela principal tendência do partido

Senadores do PT pedem a saída de Delúbio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresce, no PT, a pressão para o afastamento do tesoureiro, Delúbio Soares, do comando do partido. A bancada do PT no Senado defendeu ontem, por unanimidade, a proposta, como forma de preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a sigla de denúncias de corrupção. Amanhã, o Campo Majoritário discutirá o futuro de Delúbio numa reunião convocada às pressas.
Nove dos 13 senadores petistas estavam presentes na reunião em que a decisão foi unânime. Não participaram da conversa Eduardo Suplicy (SP), que já defendeu publicamente esse ponto de vista, o líder do governo, Aloizio Mercadante (SP), Fátima Cleide (RO) e Flávio Arns (PR).
O presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), acusou Delúbio de pagar um "mensalão" de R$ 30 mil a deputados do PP e do PL para que eles se mantivessem fiéis ao governo. O PT também está sendo acusado pelo antigo aliado do governo de operar um caixa dois nas eleições municipais do ano passado.
O líder do PT, senador Delcídio Amaral (MS), expôs a posição da bancada ao presidente Lula ontem no final da manhã. "Não temos nada a temer e isso é uma posição equilibrada, não é nenhuma desconfiança. Se existe dúvida, os homens de bem se afastam naturalmente para que sejam feitas as investigações", afirmou Delcídio.
Em reunião no início do dia os senadores do PT cogitaram a divulgação de um documento defendendo essa tese, mas recuaram. "Não é nenhuma crise, um afastamento, temos que fazer com que o partido dos trabalhadores seja preservado", disse Delcídio, eleito ontem presidente da CPI dos Correios.
No partido, o rumor é que os senadores contaram com o aval do líder do governo na Casa, Aloizio Mercadante (SP).
Como se não bastasse, o Movimento PT -ala moderada, de apoio ao governo- discutiu na noite de ontem a idéia de oficializar o pedido de afastamento de Delúbio de suas funções. Representante da corrente na Executiva, Romênio Pereira apela para que a decisão seja tomada apenas amanhã, mas reconhece que há pressão em todo o país. Segundo ele, o PT deve dar uma resposta a seus filiados. "Se o partido achar que ele deve pedir licença para se defender, esse é um gesto que se toma individualmente ou a chapa que os indicou", disse Romênio, numa alusão também ao secretário-geral do PT, Silvio Pereira.
Depois de passar o dia na sede do PT, o presidente do partido, José Genoino, saiu sem dar respostas sobre a permanência ou não de Delúbio na função. "Isso não está na pauta", disse.
A saída de Delúbio deverá estar em pauta na reunião do Diretório Nacional do PT, no próximo sábado. Ao ser questionado sobre a decisão da bancada, Genoino afirmou: "Vamos conversar com o senadores no momento certo".
Senadores e deputados da base governistas têm discordado da forma como o Planalto está reagindo à crise desencadeada pelas denúncias de corrupção Eles defendem que o governo abandone a estratégia de simplesmente negar tudo e desqualificar as acusações. Uma das propostas é que se faça uma reforma ministerial.
Na noite de anteontem houve uma reunião no Planalto dos ministros José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eunício Oliveira (Comunicações) com os líderes do governo Aloizio Mercadante (PT-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), os líderes do PT nas duas Casas, Delcídio e Paulo Rocha (PT-PA), além da senadora Ideli Salvatti (PT-MS) e do líder do PMDB, Ney Suassuna (PB).
Parlamentares disseram no encontro que o governo está subestimando a crise. Deputados e senadores também reclamaram que Eunício está agindo como se a crise não estivesse em uma estatal subordinada a ele -os Correios- e como se o seu partido, o PMDB, não ocupasse cargos na empresa.


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