|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Renan manobra e Conselho remarca votação para terça
Após acusações, senadores decidem tomar depoimentos de jornalista e lobista
Relator ameaça abandonar o cargo e volta atrás após ligação de sua mulher; PF fará perícia em documentos
do presidente da Casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da denúncia de que o
presidente do Senado teria
apresentado documentos falsos em sua defesa, o Conselho
de Ética do Senado adiou a votação do pedido de arquivamento do processo contra Renan Calheiros (PMDB-AL) por
quebra de decoro parlamentar
para a próxima terça-feira.
Até lá será feita perícia nos
papéis e será tomado depoimento da jornalista Mônica Veloso e do lobista Cláudio Gontijo, da empresa Mendes Júnior.
Renan e aliados estavam decididos a sepultar a investigação ontem mesmo. A primeira
tentativa neste sentido ocorreu
logo na abertura da sessão. O líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou
que Renan repassou ao conselho cheques nominais, notas
fiscais, declarações de vacinação e Guias de Trânsito Animal.
O objetivo é comprovar que
rendimentos de R$ 1,9 milhão
declarados nos últimos quatro
anos foram provenientes da
venda de gado. "Estou de posse
de documentos que efetivamente comprovam a comercialização, a posse e o recebimento
pelo presidente Renan dos valores declarados no Imposto de
Renda", disse Jucá.
Em reportagem do "Jornal
Nacional" veiculada anteontem, Renan teria apresentado
notas fiscais frias ao conselho
para comprovar rendimentos.
Ele é acusado de ter despesas
pagas por Gontijo. A pedido de
Renan, o lobista entregava R$
12 mil mensais para Mônica,
com quem o senador tem uma
filha de três anos. Renan afirma
que o dinheiro era seu.
Até o surgimento da nova denúncia, era dada como certa a
absolvição hoje de Renan. O relator, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), apresentou parecer pedindo o arquivamento do caso
por falta de provas.
Antes de ser convencido por
senadores do PT e do PSB que
seria melhor adiar a votação,
Renan trabalhou por sua absolvição fazendo uma maratona
de reuniões. Na primeira delas,
no gabinete da liderança do PT,
chegou a levar seu contador,
José Appel, para tirar dúvidas.
"Fiz questão de visitar os senadores, não para formar cabeça, mas para trazer a verdade",
disse ele. No final, foi convencido por integrantes da base aliada que argumentaram que o
desgaste de um arquivamento
sumário seria grande e que ele
continuaria em suspeição.
A intenção dos integrantes
do conselho é absolver Renan,
mas eles querem arquivar o
processo de uma forma que não
permita questionamentos.
Após o acordo ser anunciado
na sessão do conselho, a estratégia quase foi abaixo quando o
relator anunciou que não concordava com o adiamento. Ele
não atendeu aos apelos feitos
pelos líderes partidários.
"O presidente [Renan] está
querendo se resguardar com a
perícia nos documentos. Também quero me resguardar para
que amanhã eu não tenha que
mudar meu relatório por causa
da perícia", disse Cafeteira, que
ameaçou abandonar o cargo.
Após quase quatro horas de
sessão, Cafeteira mudou de
idéia. "Recebi um telefonema
de minha mulher, a quem devo
a vida, e ela me disse que recebeu pedido do Renan. Não recebo ordem, vou concordar em
homenagem à minha esposa."
A assessoria de imprensa de
Renan não confirmou o telefonema. Já o senador Eduardo
Suplicy (PT-SP) disse que ligou. "Eu pedi para falar com a
Maria Isabel e disse que era
muito importante que ela
transmitisse a Cafeteira a necessidade do adiamento. Não
passou dois minutos e o Cafeteira recebeu a ligação", disse.
A sessão começou com 1h30
de atraso porque antes foram
feitas reuniões para definir a
estratégia a ser adotada. Numa
delas, a líder do PT, senadora
Ideli Salvatti (SC), sondou o
ânimo de tucanos e do DEM.
A oposição já pretendia apresentar relatório alternativo pedindo a perícia e a realização de
depoimentos. Eles concordaram em adiar a votação.
"Eu sou tucano, não sou ave
de carniça", afirmou o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM). O
senador Jefferson Péres (PDT-AM) apresentou um relatório
alternativo manifestando seu
voto contrário ao parecer de
Cafeteira.
Apesar de tudo ter sido acertado nas reuniões prévias, os
senadores fizeram parecer que
a investigação seria feita por
iniciativa de Renan. Jucá anunciou durante a sessão que Renan teria ligado e proposto o
adiamento e a perícia.
A perícia para checar a autenticidade dos documentos
será feita pela Polícia Federal e
não será contábil. Quanto aos
depoimentos, o advogado da
jornalista, Pedro Calmon, disse
que pretende comparecer mas
que não teria o que acrescentar.
(FERNANDA KRAKOVICS, SILVIO NAVARRO E ANDREZA MATAIS)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|