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Senador busca documentos na madrugada
Órgãos públicos de Murici, administrada pelo filho de Renan Calheiros, foram abertos para a coleta de cupons fiscais e cheques
Presidente do Senado fez maratona de reuniões com senadores, aliados e o seu contador na tentativa de montar uma nova defesa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antes de aceitar a saída pelo
adiamento da votação no Conselho de Ética, diante do risco
de enfrentar uma investigação
sobre suas atividades agropecuárias, Renan Calheiros tentou, a todo custo, articular para
sepultar o processo ontem. Ele
passou a madrugada reunido
com seu contador, senadores e
advogados, em conexão com
aliados em Murici (AL).
Foi do município administrado pelo filho do senador, Renan Calheiros Filho (PMDB),
de onde saiu o calhamaço de
novos documentos entregues
ontem ao Conselho de Ética.
Um conjunto de papéis recolhidos às pressas para rebater a
denúncia do "Jornal Nacional",
da Globo, que levantou suspeitas de que eram frias as notas
fiscais sobre venda de gado.
A Folha apurou que órgãos
públicos da cidade foram abertos na madrugada para buscar
os papéis e fazer cópias a tempo de serem enviados para Brasília. Por volta das 3h, Renan
teve acesso aos papéis, que teriam chegado de avião.
São cerca de 300 páginas
com cópias de cheques nominais recebidos pelo senador pela venda dos bois, comprovantes dos depósitos na conta do
senador, de GTAs (Guia de
Trânsito Animal, emitido pelo
Ministério da Agricultura), relatório de vacinação do gado e
cupons fiscais. Há cheques nos
valores de R$ 14 mil, R$ 9 mil e
até de R$ 1.000. Senadores que
manusearam os documentos
pela manhã, no gabinete de Renan, disseram que há cronologia nos dados, ou seja, as datas
dos recibos coincidem com as
dos cheques, dos depósitos.
O dia de Renan foi marcado
por uma maratona de reuniões,
que começaram antes das 9h.
Na primeira delas, no gabinete
da liderança do PT, ele levou
seu contador, José Appel. "Fiz
questão de visitar os senadores,
não para formar cabeça, mas
para trazer a verdade. Não estou pedindo direito de dúvida,
mas trazendo a certeza da verdade com documentos."
Os papéis foram levados de
um lado para o outro por assessores de Renan, percorrendo
diferentes gabinetes por onde
Renan passava. "Em todos os
momentos fiquei à disposição
para esclarecer qualquer dúvida. Hoje, tive oportunidade de
trazer GTAs, notas de vacinas,
cheque na conta e vendas que
realizamos. A palavra está com
o Conselho de Ética."
Por volta das 11h, ele já havia
participado de três reuniões,
em diferentes locais, para tentar desbancar as denúncias que
o surpreenderam na véspera da
votação. Renan tentou se valer
do cargo para influir nos procedimentos do conselho. Ele chamou os integrantes do órgão
para se reunirem, a portas fechadas, na sala da presidência
para mostrar os documentos.
A oposição não concordou e
o encontro foi transferido para
o gabinete do senador Marconi
Perillo (PSDB-GO). Na única
entrevista do dia, Renan criticou a imprensa: "Não quero entrar na discussão do Conselho
de Ética, da mesma forma que
não quero entrar na ética do
jornalismo". Referia-se às denúncias que o atingiram.
(ANDREZA MATAIS, SILVIO NAVARRO E FERNANDA KRAKOVICS)
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