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GM oferece a tribunal manutenção gratuita para frota de carros
Serviço prestado pela montadora ao Tribunal de Justiça de SP não está previsto nos contratos de aquisição dos Astras
"É moralmente condenável", diz ex-presidente do TJ; procuradas, a empresa e a atual direção do órgão
não comentaram o acordo
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Justiça de São
Paulo obteve da General Motors uma cortesia que gerou
reações controvertidas entre
magistrados: a empresa ofereceu a manutenção gratuita dos
veículos de representação dos
desembargadores, um serviço
não previsto nos contratos de
aquisição da frota de Astras.
A facilidade foi comunicada
ao Órgão Especial do tribunal
pelo próprio presidente, Roberto Vallim Bellocchi, na sessão de 21 de maio, esclarecendo
que o tribunal fornecerá as peças de reposição. Alguns juízes
consideram que a prática não é
saudável. Outros vão mais além
e entendem que se trata de indevida aceitação de favor.
"Eu sou absolutamente contra, pois é moralmente condenável. O Poder Público não pode receber nada gratuitamente", diz o desembargador Celso
Limongi, que antecedeu Belocchi na presidência da Corte. Segundo ele, "o tribunal deve ter
verba suficiente para sua administração, não pode depender
de doação ou serviços gratuitos
prestados por fornecedores".
O advogado Dalmo Dallari vê
apenas uma "liberalidade".
"Em princípio, não vejo corrupção. É um investimento publicitário, legítimo. Não vejo
nada ilegal nem imoral."
"Eventualmente, a gente poderia dizer que a empresa quer
criar uma boa imagem. Não há
uma troca. É um gesto espontâneo", diz Dallari.
Consultadas nas duas últimas semanas, a direção do tribunal e a General Motors não
quiseram se manifestar.
O tema veio à tona quando o
Órgão Especial do TJ discutia a
insuficiência da atual frota para
atender aos 360 desembargadores e a conveniência de desativar a oficina do antigo Tribunal de Alçada Criminal.
A reforma do Judiciário ampliou o quadro de desembargadores e o tribunal não tem contratado novos motoristas. A necessidade de cortar gastos levou o presidente anterior, Limongi, a tomar uma medida
que gerou resistências. Foi extinto o sistema em que cada desembargador tinha carro e motorista exclusivo (na verdade,
agente de segurança judiciário). Os veículos tinham placas
numeradas por ordem de antigüidade do desembargador.
Portaria de maio de 2006 limitou essa regalia a sete magistrados, incluindo o presidente,
o vice-presidente, o corregedor
e o decano. Eles usam as placas
"de fantasia", com os números
TJ-01 a TJ-07 (as placas oficiais são as brancas).
Na ocasião, os demais veículos (placas TJ-08 a TJ-57) passaram a formar a frota única,
com rodízio de agentes e carros, para atendimento apenas
aos desembargadores mais antigos. A medida contrariou
muitos juízes, que preferiam
manter motoristas exclusivos.
Outra medida de contenção
de despesas também criou insatisfação. O desembargador
que morasse fora da Capital só
poderia usar o veículo num raio
de 100 quilômetros, apenas nos
dias de sessões de julgamento.
A frota atual foi adquirida em
fevereiro de 2007 pelo preço
total de R$ 4,819 milhões. A Folha apurou que, em pregão eletrônico, a Toyota foi inicialmente vencedora, oferecendo
modelos Corolla 1.6, com considerável redução no preço. A
GM contestou o resultado na
esfera administrativa e obteve
a preferência para fornecer,
inicialmente, 100 veículos Astra Sedan, motor 2.0, ao preço
unitário de R$ 38.550,00. Dois
dias depois, contratou-se a
aquisição de 25 veículos iguais,
ao mesmo preço (aditamento
de 25% previsto em lei).
Limongi diz que anulou o negócio com a Toyota porque não
seria bom para a imagem do tribunal usar um veículo importado e mais luxuoso. E explica a
compra imediata de mais 25
Astra por causa do bom preço
oferecido pela GM.
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