|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO
Ex-assessor de FHC e pivô de crise está no Rio e enfrenta depressão
Governo tenta adiar ida de
Eduardo Jorge ao Congresso
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso foi informado por
auxiliares de que Eduardo Jorge
Caldas Pereira, pivô da crise que
atormenta o governo, caiu em depressão. Não está fora do país, como se imaginava. Encontra-se no
Rio. Despachou os filhos para
Brasília. Nas poucas conversas
que mantém, oscila da profunda
irritação ao choro convulsivo.
O governo deflagrou uma operação para adiar ao máximo seu
depoimento a uma comissão de
parlamentares. FHC tratou pessoalmente do assunto com o presidente do Congresso, Antonio
Carlos Magalhães.
A Folha apurou que o próprio
ACM apontou o adiamento como
melhor caminho. Acha que, se depusesse agora, Eduardo Jorge teria de voltar ao Congresso depois
do recesso. ACM e FHC acham o
depoimento inevitável, mas querem evitar o desgaste duplo.
Medo do tropeço
O grande receio de Brasília é que
Eduardo Jorge tropece nas palavras e acabe por complicar ainda
mais a situação do governo. O
presidente classificou de "estranho" o comportamento exibido
pelo ex-auxiliar nas últimas semanas. Não consegue entender por
que Eduardo Jorge, sempre tão
discreto, deu para se expor.
FHC considerou um erro a
compra de um apartamento em
prédio badalado do Rio. Uma
opinião compartilhada por auxiliares que integram o grupo que o
tucanato gosta de chamar de "núcleo duro" do governo.
O presidente estranhou as entrevistas que Eduardo Jorge andou concedendo. Primeiro, saiu
em defesa de Luiz Estevão, na Folha. Depois, no jornal "Valor",
tentando justificar a troca de 117
telefonemas com o juiz Nicolau
dos Santos Neto, acabou por
enredar-se ainda mais no escândalo da obra superfaturada do
TRT de São Paulo.
FHC classifica de "gratuitas" e
"desnecessárias" as declarações
de Eduardo Jorge; elas atraíram
para o coração do governo uma
crise que tinha como protagonistas o senador cassado Luiz Estevão e o ex-juiz fugitivo Nicolau.
FHC evita conversar diretamente com o ex-auxiliar. Mas interlocutores comuns falaram com
Eduardo Jorge e com integrantes
de sua família. Também os familiares espantam-se com a fragilidade emocional de Dudu, como
costumam chamá-lo.
ACM e CPI
FHC se diz "perplexo" com o
vulto que a crise assumiu. Repete
à exaustão que, pessoalmente, nada fez de reprovável. Defende
com unhas e dentes o ministro
Martus Tavares, do Planejamento. Diz estar "convicto" de que
também ele nada fez de errado.
Assim, não restaria ao governo
outra alternativa senão "esperar".
Sintomaticamente, FHC já evita
pôr a mão no fogo por Eduardo
Jorge, ex-secretário-geral da Presidência e ordenador de despesas
de sua última campanha eleitoral.
Ele não chega a lançar o ex-auxiliar aos leões. Mas não o defende
com a mesma convicção com que
socorre Martus Tavares.
Medindo as palavras, diz que ficará muito surpreso se restar
comprovado que Eduardo Jorge,
em quem confiou por 17 anos, envolveu-se em alguma "malandragem". E mais não arrisca.
Embora ache que não há muito
a fazer além de esperar, o presidente não está de braços cruzados. Meteu-se com entusiasmo na
articulação para abater em pleno
vôo a idéia de pôr de pé uma nova
CPI. Falou com ministros e parlamentares. Trocou mais de um telefonema com ACM.
ACM, aliás, era motivo de especial preocupação. O presidente
enxergou nas entrelinhas de declarações do senador a diferentes
jornais um tom belicoso. Sossegou depois de ouvir de ACM que,
embora tivesse sido contatado
por José Dirceu, presidente do PT,
não engrossaria o coro pró-CPI.
Tampouco apoiaria a idéia de interromper o recesso parlamentar.
FHC classificou de "maluquice"
a entrevista em que José Dirceu e
Luiz Inácio Lula da Silva defenderam a CPI. Os petistas usaram como gancho a revelação de que,
junto com Martus Tavares, o próprio FHC assinara pedido de liberação de verbas para o prédio micado do TRT paulista.
O presidente enxergou "eleitoreirismo" na movimentação dos
líderes do PT. Mas foi justamente
a ação do PT que gerou a reação
mais vigorosa do governo.
Pescaria
Acionados, seus aliados foram
pescar nos arquivos do Congresso
emendas assinadas por parlamentares, para carrear verbas para a obra do TRT. Encontrou-se
uma emenda coletiva da bancada
paulista, assinada por gente de todos os partidos, incluindo expoentes do PT, tais como José Genoino e Marta Suplicy.
Os parlamentares endossaram a
emenda um ano depois de FHC
ter assinado o documento que,
para o PT, justificaria a abertura
de uma CPI. A pescaria nos arquivos do Congresso renderia um
peixe inesperado.
Encontrou-se uma emenda assinada por outro petista, o deputado João Coser (ES). Ele pedia R$
18 milhões para mesma obra. O
dinheiro sairia da verba de contingência, a mesma rubrica de onde foram extraídos os recursos
mencionados no documento que
levara a assinatura de FHC.
"É curioso que eles não enxerguem o próprio rabo", disse o
presidente. Ele saboreou cada palavra de uma entrevista que Lula
foi obrigado a conceder, na TV,
ainda na noite de sexta-feira. O
presidenciável do PT disse que, a
exemplo de FHC, também os parlamentares do seu partido devem
se explicar.
O presidente e seus auxiliares
mais próximos acham que as fitas
com diálogos de um desconhecido com o juiz Nicolau, divulgadas
pela revista "IstoÉ", terão vida
curta. O Planalto enxerga nas fitas
as digitais de Luiz Estevão.
Um ministro disse a FHC que
considerou um erro a divulgação
de três comunicados oficiais. Na
opinião do auxiliar, a imprensa
usou os comunicados para espicaçar o governo, passando a impressão de que o presidente e seus
ministros mudavam de versão ao
sabor da evolução da crise. FHC
discordou. "O governo levaria
pau de qualquer jeito", disse. Se
não tivesse divulgado as notas, os
jornais tachariam o governo de
omisso, acredita.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Crise tira Eduardo Jorge dos bastidores Índice
|