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BASTIDORES
Reunião expõe divisão no governo
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A divisão da coordenação política do governo em relação à reforma da Previdência ficou evidente
na reunião de cinco governadores
de Estado com ministros e líderes
governistas, ontem no Palácio do
Planalto.
Um dos momentos mais tensos,
segundo relato de participantes
da reunião, ocorreu quando os
governadores pediram o adiamento da leitura do parecer do relator José Pimentel (PT-CE), que
estava marcada para hoje.
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), imediatamente se posicionou contra. Os
cinco governadores, um de cada
região do país, insistiram no pedido, sob a alegação de que não tinham condições de se manifestar
sobre as mudanças em discussão
sem consultar os demais colegas.
O ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, interveio, em tom
duro: era para adiar por 24 horas.
"Não é possível [a apresentação
do relatório] sem uma decisão
dos governadores e nem também
sem o presidente Lula ter chegado
ao Brasil", disse Dirceu, segundo
o testemunho de presentes.
Os governadores deixaram a
reunião dizendo-se convencidos
de que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva terá de botar ordem
na coordenação política do governo quando voltar de viagem, o
que está previsto para hoje.
Durante as discussões com os
governadores, Dirceu conversou
duas vezes por telefone com Lula
e uma com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que estavam na Europa.
A avaliação dos governadores é
que há ruído na relação entre Dirceu, Lula e Palocci e a base no
Congresso que precisa ser abafado rapidamente, para não comprometer as negociações e a votação das duas reformas.
Os governadores saíram da reunião dizendo-se mais afinados
com a estratégia da Casa Civil para a votação da reforma, mas antes do encontro para discutir a
Previdência eles tiveram uma dura conversa, a pedido de Aécio
Neves (MG), com José Dirceu.
Nessa conversa, eles reclamaram da condução política das negociações das reformas, como a
admissão de mudanças na proposta previdenciária sem que os
governadores, espécie de fiadores
do projeto de emenda constitucional, fossem consultados antes.
A conclusão dos governadores
era que o Planalto estava jogando
nos ombros de cada um os ônus
políticos da proposta, a responsabilidade de contrariar interesses.
Criticaram a atuação da coordenação política: cedera ao primeiro
grito (do Judiciário) e deixara a
impressão de que o governo cede
se for pressionado.
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