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Lula vai para encontro com rei de Rolls Royce
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A MADRI
Para quem, como Luiz Inácio
Lula da Silva, veio dos confins de
Pernambuco para São Paulo em
um rústico caminhão pau-de-arara, a diferença era portentosa:
agora presidente, Lula desembarcou de um Rolls Royce negro no
Palácio de El Pardo, subúrbio a
noroeste de Madri, às 10h36 de
ontem (5h36 em Brasília), seis minutos depois do horário.
Ao pé do Rolls Royce, o rei Juan
Carlos 1º. Pouco atrás, a rainha
Sofia, de vestido verde, em contraste com o conjunto branco
com camisa vermelha de Marisa
Letícia, a mulher de Lula.
Acima de todos, um sol impiedoso e um céu azul iluminando o
palácio que já foi área de caça para
a família real e no qual morreu
Francisco Franco Bahamonde,
"caudillo de España por la gracia
de Diós", o ditador que dominou
o país no fim da Guerra Civil, em
1939, até sua morte, em 1975.
A visita
Agora, El Pardo é a residência
de hóspedes estrangeiros em visita de Estado, a que Lula começou
ontem oficialmente. Na verdade,
chegou anteontem, entrou pela
porta dos fundos do palácio, saiu
pela manhã também por ela, para,
finalmente, entrar pela porta da
frente, após ser recebido pelo rei.
Passou pela Guarda de Honra,
marchando de peito estufado, ao
lado de Juan Carlos, ao contrário
do jeito caído que exibiu em Portugal em cerimônia parecida, mas
com menos pompa.
À porta do palácio, o comandante da guarda apresentou-se
com a frase que, por séculos, ouviu-se nesse e em outros palácios:
"La Escuadra de Honor está formada. Sin novedades".
Terminada a apresentação, o
comandante de novo apresentou-se: "Pido permiso para el retiro de
la fuerza".
A tropa, o rei, as autoridades, os
outros membros da comitiva brasileira, todos se retiraram, ao som
de uma marcha militar.
A esquecida
O dia de Lula, aliás, seria um
passeio pelos palácios reais de
Madri: almoçou em La Zarzuela, a
residência oficial do rei Juan Carlos 1º, onde ocorreu a gafe do dia,
a cargo, por paradoxal que pareça, do cerimonial local.
Quando Lula desceu do carro, o
encarregado do cerimonial fechou a porta antes que Marisa
também descesse.
A primeira-dama só foi resgatada pelo próprio rei, quando percebeu o erro de seu ajudante.
O jantar foi no mais imponente
de todos os palácios madrilenos,
em pleno centro, construído (durante 26 anos) pelos primeiros
Bourbons a ocuparem o trono espanhol, ancestrais de Juan Carlos.
Depois do discurso de praxe,
em que lembrou o fato de a Espanha ser o principal investidor europeu no Brasil, o pernambucano
de Garanhuns e sua mulher voltaram para a segunda e última noite
no Palácio de El Pardo, decorado
com tapeçarias baseadas em motivos de Goya, um dos grandes
clássicos da pintura espanhola.
(CLÓVIS ROSSI e SÉRGIO LIMA)
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