São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Acusado de ter mandado matar o prefeito Celso Daniel sai de penitenciária depois de decisão do STF

Gomes da Silva deixa prisão após 218 dias

EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAPETININGA (SP)

Numa espécie de operação cinematográfica para impedir o acesso da imprensa, o empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi solto na tarde de ontem, após 218 dias preso.
Gomes da Silva estava no Centro de Ressocialização do complexo penitenciário de Itapetininga (163 km de SP), na ala onde os presos cumprem pena em regime semi-aberto -passam o dia fora das celas desenvolvendo atividades, sendo que alguns deixam o presídio para trabalhar. Ele foi denunciado pela Promotoria por homicídio qualificado.
Gomes da Silva saiu às 16h55 sem falar com a imprensa, com a cabeça coberta por um paletó. O empresário deixou o presídio numa Pajero preta similar à que estava com Daniel no dia do crime, com os vidros cobertos por película negra, acompanhado do advogado Adriano Sales Vanni.
Também estavam presentes os advogados Roberto Podval e Odel Antun, que chegaram ao complexo com os documentos da soltura às 15h40. Vanni disse que o seu cliente não atenderia a imprensa, "que o tem tratado como culpado desde o começo do caso".
A Pajero saiu em alta velocidade, escoltada por outros dois veículos- um Golf e um Xsara.
Depois de deixarem o complexo, o Golf e o Xsara se colocaram à frente dos carros da imprensa. Viajando em baixa velocidade, os motoristas impediram ultrapassagens com fechadas, ocupando toda a pista. Em alguns momentos, os veículos da imprensa foram obrigados a ir para o acostamento de terra. Alguns motoristas que vinham em sentido contrário chegaram a parar os seus carros. A "perseguição" se deu por cerca de 15 km.
Gomes da Silva foi solto por força de uma liminar, num pedido de habeas corpus, concedida anteontem pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim. Os advogados já haviam tentado a liberdade do cliente, sem sucesso, em tentativas feitas ao TJ (Tribunal de Justiça de São Paulo) e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Jobim considerou que não havia razão para a manutenção da prisão. No seu entendimento, tanto o decreto da preventiva como as negativas das instâncias inferiores para libertação levavam em conta a possível personalidade perigosa do empresário, além do clamor causado pelo crime.
A preventiva havia sido decretada no dia 10 de dezembro do ano passado. O empresário se entregou à polícia no dia seguinte.
Daniel, amigo de Gomes da Silva, foi seqüestrado no dia 18 de janeiro de 2002. Os dois voltavam de um jantar em São Paulo, numa Pajero blindada. Dois dias depois, o corpo do prefeito foi encontrado com sete perfurações de bala.
A Polícia Civil concluiu por crime comum. A pedido da família, a Promotoria reabriu o caso. Gomes da Silva sempre negou ter praticado o crime.
As testemunhas que o acusam na Justiça, no entanto, se disseram "assustadas". Pelo menos duas delas pediram para não testemunhar judicialmente. "Estamos apavorados", disse a empresária Rosângela Gabrilli, que denunciou um esquema de propina envolvendo Gomes da Silva.


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