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"Emprestei ao PT", diz empresário
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O empresário Marcos Valério
de Souza, em nota divulgada na
noite de ontem, admitiu que contraiu "vários empréstimos bancários", entre 2003 e 2005, por meio
da SMPB e DNA, para pagar dívidas de campanha do PT.
Segundo Valério, ele fazia os
empréstimos a pedido de Delúbio
Soares, então tesoureiro do PT,
que se afastou do partido após as
denúncias do "mensalão".
Os recursos dos empréstimos,
diz Valério, eram repassados integralmente ao PT. Segundo a nota,
eram "depositados na rede bancária para pessoas indicadas pelo
então secretário de finanças do
PT, sr. Delúbio Soares".
"O Partido dos Trabalhadores
estava com dificuldades financeiras para honrar alguns compromissos. Foi a pedido do tesoureiro, sempre indicando quem iria
sacar ou a empresa para qual iria
ser transferido o recurso. Eram
empréstimos exclusivamente ao
Partido dos Trabalhadores para
saldar dívidas do passado e preparação para campanha eleitoral", disse Valério ao "Jornal Nacional", da TV Globo.
Segundo o empresário, seria essa a explicação para os saques em
espécie de mais de R$ 20 milhões
no Banco Rural entre 2003 e 2005
detectados pelo Coaf (Conselho
de Atividades Financeiras).
Foi a terceira versão dada por
Marcos Valério para justificar esses saques. À revista "Veja", que
revelou o primeiro relatório do
Coaf, disse que o dinheiro era para comprar gado. Em depoimento
à PF, deu outra explicação: o dinheiro em espécie seria usado para pagar fornecedores de suas empresas e investir em ativos.
Valério, no entanto, não revelou
ontem o número de empréstimos
feitos para o PT, os valores e os
nomes dos sacadores do dinheiro
no caixa. Ele disse que prometera
sigilo ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de
Souza, que ouviu o empresário
anteontem, em Brasília. Ele só explicou que as empresas foram as
tomadoras dos empréstimos e os
sócios foram os avalistas.
Confiança
Também em entrevista ao "Jornal Nacional", Marcos Valério,
depois de falar que os empréstimos eram feitos exclusivamente
ao PT, personificou o pedido. "Foi
o dr. Delúbio Soares que me pediu que eu fizesse o empréstimo.
O empréstimo, eu te diria que não
foi ao partido, mas à pessoa que
me pediu. [Era devido ao] grau de
confiança que nós tínhamos nessa pessoa, que nunca nos beneficiou em nada", afirmou ele.
Ele ainda disse que vai tentar
negociar com o PT o pagamento
dos empréstimos feitos pelas empresas. "Estamos respondendo
por eles, vamos tentar negociar
com a nova direção do PT. Foram
empréstimos legais, transparentes", disse Valério, que negou ter
feito empréstimos a outros partidos. Ele encerrou a entrevista
quando foi questionado se teria se
encontrado ainda nesta semana
com Delúbio Soares.
Ao depor na CPI dos Correios,
Valério disse apenas que havia sido "avalista" de um empréstimo
do PT. Depois, foi revelado que
eram dois empréstimos em que
ele figurava como fiador. Na contabilidade do PT, não consta nenhum empréstimo feito pelas empresas DNA e SMPB.
"Todos os pedidos de socorro
financeiro feitos pelo sr. Delúbio
Soares baseavam-se, de acordo
com o próprio secretário do PT,
na necessidade de saldar dívidas
relacionadas a campanhas", disse
Valério na nota de ontem. Segundo sua assessoria, ele também decidiu se desligar da SMPB e DNA,
agências das quais é sócio desde
1996 e 1997, respectivamente.
"Mensalão"
Acusado por Roberto Jefferson
de ser o operador da suposta mesada paga pelo PT a deputados
aliados, Marcos Valério voltou a
negar envolvimento com o caso.
O advogado de Valério, Marcelo
Leonardo, disse que seu cliente
decidiu contar, anteontem, "tudo
o que sabe" ao procurador-geral
porque "as pessoas não assumiram as suas responsabilidades".
"O que eu posso colocar é que o
Marcos Valério contou ao procurador-geral da República tudo
que ele sabe a respeito dos fatos
que ele anteriormente não havia
antes mencionado. Estava aguardando que as pessoas assumissem
as suas responsabilidades e esclarecessem à nação os fatos", disse o
advogado, acrescentando que,
"como isso não ocorreu", seu
cliente quis abrir o jogo.
Leonardo, em entrevista à rádio
CBN, não deu nomes e não fez nenhuma revelação sobre o que Valério disse ao procurador-geral.
O publicitário foi espontaneamente ao procurador-geral. Ofereceu colaboração nas investigações em troca de benefícios futuros como réu em eventual ação
penal, mas não foi atendido.
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