São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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"Emprestei ao PT", diz empresário

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O empresário Marcos Valério de Souza, em nota divulgada na noite de ontem, admitiu que contraiu "vários empréstimos bancários", entre 2003 e 2005, por meio da SMPB e DNA, para pagar dívidas de campanha do PT.
Segundo Valério, ele fazia os empréstimos a pedido de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, que se afastou do partido após as denúncias do "mensalão".
Os recursos dos empréstimos, diz Valério, eram repassados integralmente ao PT. Segundo a nota, eram "depositados na rede bancária para pessoas indicadas pelo então secretário de finanças do PT, sr. Delúbio Soares".
"O Partido dos Trabalhadores estava com dificuldades financeiras para honrar alguns compromissos. Foi a pedido do tesoureiro, sempre indicando quem iria sacar ou a empresa para qual iria ser transferido o recurso. Eram empréstimos exclusivamente ao Partido dos Trabalhadores para saldar dívidas do passado e preparação para campanha eleitoral", disse Valério ao "Jornal Nacional", da TV Globo.
Segundo o empresário, seria essa a explicação para os saques em espécie de mais de R$ 20 milhões no Banco Rural entre 2003 e 2005 detectados pelo Coaf (Conselho de Atividades Financeiras).
Foi a terceira versão dada por Marcos Valério para justificar esses saques. À revista "Veja", que revelou o primeiro relatório do Coaf, disse que o dinheiro era para comprar gado. Em depoimento à PF, deu outra explicação: o dinheiro em espécie seria usado para pagar fornecedores de suas empresas e investir em ativos.
Valério, no entanto, não revelou ontem o número de empréstimos feitos para o PT, os valores e os nomes dos sacadores do dinheiro no caixa. Ele disse que prometera sigilo ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que ouviu o empresário anteontem, em Brasília. Ele só explicou que as empresas foram as tomadoras dos empréstimos e os sócios foram os avalistas.

Confiança
Também em entrevista ao "Jornal Nacional", Marcos Valério, depois de falar que os empréstimos eram feitos exclusivamente ao PT, personificou o pedido. "Foi o dr. Delúbio Soares que me pediu que eu fizesse o empréstimo. O empréstimo, eu te diria que não foi ao partido, mas à pessoa que me pediu. [Era devido ao] grau de confiança que nós tínhamos nessa pessoa, que nunca nos beneficiou em nada", afirmou ele.
Ele ainda disse que vai tentar negociar com o PT o pagamento dos empréstimos feitos pelas empresas. "Estamos respondendo por eles, vamos tentar negociar com a nova direção do PT. Foram empréstimos legais, transparentes", disse Valério, que negou ter feito empréstimos a outros partidos. Ele encerrou a entrevista quando foi questionado se teria se encontrado ainda nesta semana com Delúbio Soares.
Ao depor na CPI dos Correios, Valério disse apenas que havia sido "avalista" de um empréstimo do PT. Depois, foi revelado que eram dois empréstimos em que ele figurava como fiador. Na contabilidade do PT, não consta nenhum empréstimo feito pelas empresas DNA e SMPB.
"Todos os pedidos de socorro financeiro feitos pelo sr. Delúbio Soares baseavam-se, de acordo com o próprio secretário do PT, na necessidade de saldar dívidas relacionadas a campanhas", disse Valério na nota de ontem. Segundo sua assessoria, ele também decidiu se desligar da SMPB e DNA, agências das quais é sócio desde 1996 e 1997, respectivamente.

"Mensalão"
Acusado por Roberto Jefferson de ser o operador da suposta mesada paga pelo PT a deputados aliados, Marcos Valério voltou a negar envolvimento com o caso.
O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que seu cliente decidiu contar, anteontem, "tudo o que sabe" ao procurador-geral porque "as pessoas não assumiram as suas responsabilidades".
"O que eu posso colocar é que o Marcos Valério contou ao procurador-geral da República tudo que ele sabe a respeito dos fatos que ele anteriormente não havia antes mencionado. Estava aguardando que as pessoas assumissem as suas responsabilidades e esclarecessem à nação os fatos", disse o advogado, acrescentando que, "como isso não ocorreu", seu cliente quis abrir o jogo.
Leonardo, em entrevista à rádio CBN, não deu nomes e não fez nenhuma revelação sobre o que Valério disse ao procurador-geral.
O publicitário foi espontaneamente ao procurador-geral. Ofereceu colaboração nas investigações em troca de benefícios futuros como réu em eventual ação penal, mas não foi atendido.


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