São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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Banco do Brasil rompe contrato com Valério

MARTA SALOMON
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O publicitário Marcos Valério de Souza, apontado como operador do suposto "mensalão" pago a políticos governistas, começou a perder ontem seus principais contratos com empresas estatais.
Numa espécie de reação em cadeia, o Banco do Brasil anunciou a rescisão do negócio com a DNA por meio de nota. Em seguida, os Correios anunciaram a suspensão das campanhas com a SMPB, primeiro passo para o rompimento do contrato. A Eletronorte convocou a diretoria para discutir o assunto na segunda-feira.
DNA e SMPB são as duas principais empresas das quais Marcos Valério é sócio. Além de deterem as contas do Banco do Brasil, da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) e da Eletronorte, as agências também cuidam da publicidade dos ministérios do Trabalho, dos Esportes e da Câmara dos Deputados.
O contrato com o Banco do Brasil é o maior dos negócios das empresas de Marcos Valério com a União. A concorrência mais recente foi ganha pela DNA em setembro de 2003, junto com a D+ e a Ogilvy. Nos últimos anos, a DNA vinha mantendo uma média de 40% das movimentações da conta de publicidade do banco, que prevê gastos de R$ 140 milhões em 2005. Em 2004, os gastos alcançaram R$ 262 milhões.
"O Banco do Brasil já deu início aos procedimentos administrativos indispensáveis à rescisão, de acordo com a lei 8.666/93 [a Lei de Licitações], notificando a empresa nesta data e suspendendo imediatamente a execução dos serviços", diz a nota do banco. As campanhas estavam suspensas desde 5 de julho.
O mesmo gesto, que antecede o rompimento, foi seguido ontem pela direção dos Correios. A ECT contratou a SMPB em novembro de 2003. A conta é dividida com as agências Link e Giovanni. No ano passado, a publicidade dos Correios gastou R$ 29,6 milhões. A direção da empresa ainda analisa fórmulas jurídicas para romper formalmente o negócio.
Segundo a assessoria de imprensa do BB, o rompimento do contrato com a agência decorre do receio de que as investigações envolvendo Valério e suas empresas prejudiquem a imagem da estatal. Segundo o banco, não haverá pagamento de multa pela rescisão porque o contrato prevê a hipótese de interrupção caso a agência enfrente algum problema que tenha "ampla divulgação" e que "possa prejudicar o banco perante a opinião pública".
O contrato com a DNA também é alvo de uma auditoria na Eletronorte. A empresa detém sozinha a conta de publicidade da estatal, que planeja investir mais de R$ 12 milhões em campanhas neste ano. Na segunda-feira, reunião de diretoria decidirá se o contrato será mantido. Segundo a Folha apurou, a tendência é seguir as demais estatais que têm contratos com o publicitário.

Ministérios
O Ministério do Trabalho informou que o novo titular da pasta, Luiz Marinho, também avalia a suspensão do contrato. As campanhas já se encontram suspensas, e os valores devidos à DNA vêm sendo depositados em juízo em decorrência de uma dívida da agência com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), segundo a assessoria.
A Secom (Secretaria de Comunicação do Governo e Gestão Estratégica) informou, por meio de assessoria, que não deu nenhuma orientação às estatais e demais órgãos da administração pública para que suspendessem os contratos com as agências de Valério.
No Banco do Brasil, o rompimento do contrato com a DNA acompanha outras mudanças na área de marketing. Anteontem, o diretor Henrique Pizzolato se afastou do cargo. Pizzolato tinha como padrinho Luiz Gushiken e, segundo a secretária Fernanda Karina Somaggio, manteria encontros freqüentes com o ex-chefe dela, Marcos Valério.
Pizzolato foi personagem de uma das primeiras polêmicas do governo Lula na área de publicidade, com a compra pelo Banco do Brasil de R$ 73,5 mil em ingressos para um show que teve a renda revertida para o PT. O dinheiro seria destinado à nova sede do partido, mas foi devolvido depois que o caso veio à público.


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