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CONGRESSO
Ana Chaves afirma ter dado mais da metade de seus rendimentos para a ex-deputada Rose de Freitas
Ex-funcionária diz ter repassado salário
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
A ex-funcionária da Câmara dos
Deputados Ana Chaves, 37, afirma
que repassou mais da metade do
seu salário para a então deputada
Rose de Freitas (PSDB-ES) durante oito anos.
Ana diz que pagou contas pessoais, como supermercado, faxineira, contas de luz e água, multas
e até butique. Também teria repassado dinheiro para funcionários
da deputada que trabalhavam no
Espírito Santo.
Rose nega que tenha recebido repasses de parte do salário da
ex-funcionária. A ex-deputada
acusa Ana de ter feito saques na
sua conta no Banco do Brasil no
valor de R$ 19 mil no final de 1995.
Em inquérito feito pela Segurança da Câmara, o ex-funcionário
Adelmar Mamédio de Jesus afirmou que fez os saques a pedido de
Ana.
Na Justiça, Adelmar negou o depoimento e disse que prestou declarações mediante "constrangimento e violência". Teria sido
"agredido por seguranças para assumir a autoria do crime".
A seguir, o depoimento de Ana à
Folha:
Folha - Quanto tempo a sra. trabalhou com a deputada Rose de
Freitas?
Ana Chaves - Aproximadamente oito anos, de agosto de 87 a
novembro de 94.
Folha - Nesse período a sra. repassava parte do salário para a deputada?
Ana - Sim. Esses repasses eram
feitos de várias formas, até mesmo
pagando contas pessoais. Outras
vezes depositando em contas de
outros servidores que trabalhavam no Estado. Essa prática sempre existiu. Inclusive, tinha pessoas que cediam o próprio nome e
que não levavam nada para repassar o total.
Folha - A pessoa era cadastrada
no gabinete mas passava todo o
dinheiro?
Ana - Exatamente. Isso era um
problema sério porque na hora de
declarar o Imposto de Renda a
pessoa tinha despesa, mas não tinha receita. Comigo aconteceu
problema de fisco.
Folha - O último salário foi de
quanto? E quanto você repassava?
Ana - Era em torno de R$ 1.200
bruto. Do líquido (R$ 1.090) eu ficava com R$ 500. E o resto era repassado para ela.
Folha - Que tipo de despesa você
pagava para a deputada?
Ana - Paguei despesas pessoais.
Até butique cheguei a pagar. Fazia
supermercado, pagava faxineira,
conta de luz, de gás, multa do carro dela. Enfim, todas as despesas
que ela tinha em Brasília.
Folha - Essa butique era aqui em
Brasília?
Ana - Sim, a Deux Maries.
Folha - Onde fica?
Ana - A butique fica no Parkshopping, mas eu fui no escritório
da butique que fica na 102 Norte.
Folha - Por que no escritório?
Ana - Ela tinha dado cheques e
esses cheques voltaram por insuficiência de fundos. Teve a conta encerrada porque os cheques voltaram duas vezes. Ela, então, chegou
para mim dizendo que estava sem
dinheiro e que eu fosse até a butique e fizesse o acerto. Eu fui lá e fiz
o acerto com o dinheiro do repasse.
Folha - A sra., em algum momento, reclamou dessa situação?
Ana - Não, porque eu sabia que
ia ficar por isso mesmo. Eu ia sofrer com isso. Eu não tinha estabilidade. E, naquele momento, eu
precisava dos R$ 500.
Folha - A sra. tinha conhecimento se em outros gabinetes acontecia o mesmo?
Ana - Tinha comentários. Às
vezes a gente sentava e ficava se lamentando uma para outra: poxa,
esse mês eu estou tão apertada,
mas eu tenho que comprar... até
remédio dos chefes. Eu pedia a
Deus: um dia eu vou me libertar
disso, não vou ter que passar por
essa humilhação. Tanto que eu estudei, fiz concurso, tudo escondido, praticamente. Hoje sou concursada. Saí do gabinete para assumir no GDF (Governo do Distrito
Federal).
Folha - A sra. sabe se ela fazia pagamento de funcionários da residência dela com o seu dinheiro?
Ana - Ela me dizia que esse dinheiro que eu repassava era para
pagar funcionários, cozinheira, faxineira, lá no Estado.
Folha - A sra. já era casada. O seu
marido tinha conhecimento desses
repasses?
Ana - A princípio, não. Para
que não surgisse nenhum tipo de
dúvida, eu contei. Ele ficou estarrecido porque trabalha em empresa privada e nem passou pela cabeça dele que isso acontecia na Câmara do Deputados. Eu disse: "É a
pura verdade. Esse dinheiro que
você vê (no contracheque) não é
meu".
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