São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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Não palpite na política, diz Lula a FMI

DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, endureceu o discurso oposicionista e disse ontem à noite, em comício no Rio, que o país precisa de um líder para dizer ao FMI que "não dê palpite na política brasileira" e ao governo americano que "a Alca [Área de Livre Comércio das Américas] é uma política de anexação [do Brasil pelos EUA]".
Rebatendo as críticas de que não teria experiência administrativa para ser presidente, Lula afirmou que "o Brasil não está precisando de um ex-prefeito, de um ex-governador", mas de "um líder" que "tenha caráter, honradez e poder de comando".
"O que o povo espera de um político é liderança para poder dizer ao FMI: "Olha, não dêem palpite na política brasileira porque aqui quem manda é o povo brasileiro'", disse. "Para dizer para o governo americano: "Do jeito que vocês querem a Alca, nós não queremos, porque a Alca não é uma política de integração, é uma política da anexação". Nós não queremos ser anexados, nós somos um país livre e soberano."
O duro discurso contra o FMI havia inicialmente sido feito apenas pelo candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes. Assumindo uma postura de ataque -que vinha evitando- contra seu rival mais próximo nas pesquisas eleitorais, Lula afirmou anteontem que Ciro tenta "construir uma imagem de oposição".
Mais cedo, Lula havia cobrado mais clareza de FHC a respeito das soluções apresentadas para sair da crise -em resposta à cobrança, por FHC, de clareza por parte dos candidatos de oposição. "Quem está precisando demonstrar clareza é o presidente da República. Até agora, a única coisa que ele disse é que foi ao FMI."

Novas regras
O PT considera que medidas tomadas anteontem pelo Banco Central como a modificação das regras para avaliação de fundos de investimento são um sinal de que o governo está "correndo atrás do prejuízo", por estar consciente das limitações do acordo para conter a alta do dólar.
"A impressão inicial do governo sobre o pacote mudou completamente. O BC sinaliza para a sociedade que está se mexendo e correndo atrás do prejuízo para tentar acalmar a situação", disse Guido Mantega, um dos principais assessores econômicos de Lula.
Duas das medidas anunciadas pelo BC são claramente dirigidas a tentar conter a alta do dólar. Uma delas é abandonar a "marcação a mercado" dos fundos, determinada em maio. Os fundos voltam a ter seus valores registrados pela expectativa de desempenho futuro, e não pela performance atual, ditada pelo mercado.
A provável consequência imediata da medida será melhorar a rentabilidade dos fundos, o que desestimularia investidores de migrar para o dólar, movimento que tem ajudado a pressionar a moeda norte-americana.
"O BC agora faz um remendo, na tentativa de recuperar a credibilidade junto ao mercado. Mas credibilidade é algo que não se recupera do dia para a noite, com canetadas", declarou Mantega.
Outra das medidas que, segundo o PT, equivalem a uma "corrida atrás do prejuízo" é o aumento do recolhimento de compulsório bancário -ou seja, do dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC. Com menos dinheiro disponível no mercado, haveria menor espaço para compra de dólares, contribuindo para evitar a alta da moeda.



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