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Para estrangeiros, Mangabeira
prevê superávit maior que 3,75%
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o candidato do PPS à
Presidência, Ciro Gomes, tem declarado publicamente que não será "domesticado" pelo mercado,
o filósofo Roberto Mangabeira
Unger, um de seus assessores econômicos, já admite que provavelmente será necessário elevar o superávit primário brasileiro para
além dos atuais 3,75%.
A elevação no índice é uma possibilidade que agradaria ao mercado e ao próprio FMI (Fundo
Monetário Internacional), que
costuma ter na austeridade fiscal
uma das mais comuns exigências
para a renovação de seus acordos
de socorro financeiro.
"Acima de tudo, estamos comprometidos com a persistência do
sacrifício fiscal. Provavelmente teremos de ir além daquele número
[superávit primário de 3,75%].
Mas estamos relutantes em nos
comprometer com um número
específico sem saber a situação financeira e política que um governo Ciro Gomes encontraria em janeiro", disse Mangabeira, durante teleconferência promovida pela
corretora Merrill Lynch, na última terça-feira, para analistas
americanos e europeus.
A previsão contrasta com as declarações de Ciro, que tem insistido na necessidade de crescimento
da economia em praticamente todos os seus discursos.
Isso porque aumentos de superávit tendem a conter o crescimento econômico, a não ser que
sejam acompanhados de significativas reduções na taxa de juros,
um cenário a curto prazo pouco
provável para o Brasil.
"Devo insistir que o que digo
nesta conferência é exatamente o
que estamos dizendo no Brasil",
afirmou Mangabeira pouco antes
de iniciar sua exposição, com duração aproximada de 45 minutos.
Descrevendo Ciro como um político que parece preocupar "mais
por suas palavras do que por seus
atos", o filósofo e coordenador do
programa de governo do candidato do PPS pontuou sua fala com
a expressão ""sacrifício fiscal".
Chegou a comparar o projeto de
Ciro ao desenvolvido pelo presidente americano Franklin Delano
Roosevelt, que implementou no
país o "New Deal", programa de
reconstrução dos Estados Unidos
após a depressão de 1929.
Tasso
Insistiu ainda no comprometimento do presidenciável com a
estabilidade monetária e com o
respeito aos contratos.
Padrinho político de Ciro, o ex-governador tucano Tasso Jereissatti foi citado duas vezes durante
a conversa. Em uma delas, como
alguém que ocupará um papel
central no governo do candidato
do PPS e um bom indicativo do
que será a administração caso seu
candidato seja eleito.
Desafeto de José Serra (PSDB),
Tasso tem dado repetidas demonstrações de descontentamento com a candidatura do ex-ministro, hoje em terceiro lugar nas
pesquisas de intenção de voto.
Questionado sobre o novo acordo do país com o FMI, Mangabeira reiterou o apoio de Ciro à iniciativa, mas procurou deixar claro
que o empréstimo significa uma
"falha" na política do governo.
Afirmando que o entendimento
com o fundo era "indispensável"
para o país, declarou ainda que a
equipe de Ciro não apresenta objeções a nenhum dos termos condicionantes contidos no acordo.
"Relutamos apenas em participar desse clima de euforia por
uma simples razão: o que nos estão oferecendo é um empréstimo,
e não um presente", completou.
Na avaliação de Mangabeira, o
empréstimo deve ser visto como
algo que dá ao país tempo para resolver seus problemas, mas que
não os resolve por si só.
Tensão
As perguntas feitas pelos participantes da conversa deixaram
evidente o clima de tensão que a
subida de Ciro nas pesquisas tem
causado no mercado.
Um dos interlocutores de Mangabeira chegou a dizer que o programa do presidenciável já foi
descrito como um "desastre". Cobram dele ainda um posicionamento mais claro a respeito do
acordo com o FMI.
Diante da preocupação demonstrada pelos analistas, o filósofo argumentou que não há recurso legal no país que permita
aos candidatos assinar um documento ratificando a decisão da
atual equipe econômica. Mas afirmou que manifestações públicas
de apreço pelo entendimento teriam o mesmo valor simbólico. ""E
Ciro já fez isso", completou.
Citou ainda o encontro da próxima segunda-feira entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e os principais candidatos ao
Planalto como sintoma do entendimento que há hoje no país e negou qualquer possibilidade de
controle sobre o capital, hipótese
levantada por um de seus ouvintes. "Isso seria um desastre que
queremos evitar."
Na tentativa de imprimir credibilidade a seu discurso, o filósofo
afirmou também estar em contato permanente com o governo federal e com o Banco Central.
(PATRICIA ZORZAN, ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA e JULIA DUAILIBI)
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