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MTB era usado como central de transferências
DA REPORTAGEM LOCAL
O MTB Bank, hoje absorvido
pelo Hudson Bank, era uma espécie de "Banestado norte-americano", segundo sempre afirmaram
investigadores que apuram, desde 1998, as remessas realizadas
por "laranjas" e doleiros de Foz
do Iguaçu (PR) e de outras agências bancárias da fronteira do Brasil com o Paraguai.
A comparação com o banco do
Paraná, liqüidado em 2000, refere-se ao território livre que empresas "offshore" e doleiros tinham nas duas instituições para
movimentar milhões de dólares
sem identificar os reais proprietários do dinheiro.
A base de dados do MTB, enviada em março último pela Promotoria de Nova York (EUA) à CPI
do Banestado, à qual a Folha teve
acesso, confirma a percepção dos
investigadores do caso.
Os registros mostram que no
MTB operaram exatamente as
mesmas empresas "offshore" cujas movimentações foram reveladas pela Polícia Federal, de 137
contas da agência do Banestado
de Nova York no início de 2002.
O MTB é o que os investigadores chamam de "terceira camada"
das transações iniciadas no Brasil.
Grande parte do dinheiro que entrou no MTB veio da agência nova-iorquina do Banestado (segunda camada), que por sua vez
foi abastecida por centenas de "laranjas" e casas de câmbio que
mantinham contas do tipo CC5
no Brasil (primeira camada).
No MTB, o dinheiro transitou
em contas de doleiros, até ser
reenviado para a "quarta camada", em outros bancos dos EUA,
da Europa e de paraísos fiscais.
Por isso essas contas são chamadas "contas de passagem".
Só na ponta final da transação,
que pode se encerrar na própria
"quarta camada" ou prosseguir
por várias outras "camadas"
-outras instituições bancárias e
países, de modo a dificultar o trabalho de rastreamento do dinheiro -, é que aparece o real autor
do depósito, feito no Brasil em
nome de terceiras pessoas, que foram pagas pelo uso de seus nomes
ou que tiveram dados pessoais
usados indevidamente.
Nos EUA, após o início da CPI
do Banestado, a Promotoria de
Nova York fechou uma "offshore" que operava dezenas de "contas de passagem", a Beacon Hill
Service, controlada por um doleiro da Guatemala que tinha ligações com doleiros brasileiros.
No CD do MTB, no entanto, em
muitos casos os doleiros deram
indícios sobre a real propriedade
de recursos ocultos em suas contas. Principalmente depois dos
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, as grandes movimentações se tornaram alvos.
É o caso, por exemplo, do registro de depósito revelado pela Folha na última sexta-feira. O operador responsável pelas transações
da Europa, uma "offshore" com
sede na praça Independência,
822, no centro financeiro de Montevidéu, no Uruguai, anotou que
US$ 406,5 mil transferidos para o
MTB de um banco da França pertenciam a "Mr. Maluf Paolo Salim". A transação é datada de 10
de janeiro de 2002.
A base de dados do MTB enviada à CPI traz a movimentação de
42 contas consideradas de alto interesse para as investigações brasileiras. O sigilo foi quebrado a pedido de investigadores brasileiros.
(RV)
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