São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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MTB era usado como central de transferências

DA REPORTAGEM LOCAL

O MTB Bank, hoje absorvido pelo Hudson Bank, era uma espécie de "Banestado norte-americano", segundo sempre afirmaram investigadores que apuram, desde 1998, as remessas realizadas por "laranjas" e doleiros de Foz do Iguaçu (PR) e de outras agências bancárias da fronteira do Brasil com o Paraguai.
A comparação com o banco do Paraná, liqüidado em 2000, refere-se ao território livre que empresas "offshore" e doleiros tinham nas duas instituições para movimentar milhões de dólares sem identificar os reais proprietários do dinheiro.
A base de dados do MTB, enviada em março último pela Promotoria de Nova York (EUA) à CPI do Banestado, à qual a Folha teve acesso, confirma a percepção dos investigadores do caso.
Os registros mostram que no MTB operaram exatamente as mesmas empresas "offshore" cujas movimentações foram reveladas pela Polícia Federal, de 137 contas da agência do Banestado de Nova York no início de 2002.
O MTB é o que os investigadores chamam de "terceira camada" das transações iniciadas no Brasil. Grande parte do dinheiro que entrou no MTB veio da agência nova-iorquina do Banestado (segunda camada), que por sua vez foi abastecida por centenas de "laranjas" e casas de câmbio que mantinham contas do tipo CC5 no Brasil (primeira camada).
No MTB, o dinheiro transitou em contas de doleiros, até ser reenviado para a "quarta camada", em outros bancos dos EUA, da Europa e de paraísos fiscais. Por isso essas contas são chamadas "contas de passagem".
Só na ponta final da transação, que pode se encerrar na própria "quarta camada" ou prosseguir por várias outras "camadas" -outras instituições bancárias e países, de modo a dificultar o trabalho de rastreamento do dinheiro -, é que aparece o real autor do depósito, feito no Brasil em nome de terceiras pessoas, que foram pagas pelo uso de seus nomes ou que tiveram dados pessoais usados indevidamente.
Nos EUA, após o início da CPI do Banestado, a Promotoria de Nova York fechou uma "offshore" que operava dezenas de "contas de passagem", a Beacon Hill Service, controlada por um doleiro da Guatemala que tinha ligações com doleiros brasileiros.
No CD do MTB, no entanto, em muitos casos os doleiros deram indícios sobre a real propriedade de recursos ocultos em suas contas. Principalmente depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, as grandes movimentações se tornaram alvos.
É o caso, por exemplo, do registro de depósito revelado pela Folha na última sexta-feira. O operador responsável pelas transações da Europa, uma "offshore" com sede na praça Independência, 822, no centro financeiro de Montevidéu, no Uruguai, anotou que US$ 406,5 mil transferidos para o MTB de um banco da França pertenciam a "Mr. Maluf Paolo Salim". A transação é datada de 10 de janeiro de 2002.
A base de dados do MTB enviada à CPI traz a movimentação de 42 contas consideradas de alto interesse para as investigações brasileiras. O sigilo foi quebrado a pedido de investigadores brasileiros. (RV)


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