São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Tráfico afasta político de favela do Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O domínio dos traficantes de drogas afastou das favelas os candidatos a prefeito do Rio. Ao contrário das eleições passadas, quando os postulantes à prefeitura tinham até comitês em favelas, os candidatos têm evitado as áreas controladas pelo tráfico. Quando vão, enviam emissários para contatos com lideranças locais com antecedência mínima de uma semana.
A exceção é o senador Marcelo Crivella, candidato pelo PL. Ele tem percorrido favelas, mas sempre acompanhado de seguranças e de pastores evangélicos locais. Mesmo assim, enfrenta problemas: fotógrafos e cinegrafistas que o seguiam já foram expulsos por ordem do tráfico. Além disso, Crivella já passou por traficantes armados em suas caminhadas.
A ação ostensiva do tráfico nas favelas, autorizando e vetando a entrada de candidatos, fez surgir a figura que o prefeito Cesar Maia, candidato à reeleição, pelo PFL, costuma chamar de precursor.
O precursor é, geralmente, um candidato a vereador com atuação na favela ou um militante que more ou conheça a localidade. Cabe a ele conversar com líderes comunitários, que fazem chegar aos traficantes a informação de que um candidato a prefeito tem interesse em percorrer a favela.
Se o chefe da quadrilha está preso, a resposta demora mais -só após o contato com a cadeia.
A opção dos candidatos de não entrar nas favelas está se refletindo na campanha. Com exceção de Crivella, quase não há, nesses locais, cartazes e faixas dos candidatos majoritários.
Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito só foi a favelas em que a prefeitura atua ou fez obras importantes.
Em entrevista à Folha por e-mail, Maia disse que não teve problemas nas visitas. "Pois faço a campanha como prefeito e, com isso, a mobilidade é total."
Se não fosse prefeito, Maia seria mais cuidadoso, admitiu. "Como candidato sem ser prefeito, há cuidados adicionais."
Em panfletagem na favela de Acari (zona norte), Crivella teve expulsos por traficantes os profissionais contratados para filmar e fotografar a campanha. Ameaçado, um fotógrafo do jornal "O Dia" teve que deixar o local.
O episódio ocorreu em 16 de julho. Depois disso, o candidato, que é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, passou a circular pelas favelas, na maioria das vezes, sem fotógrafos e cinegrafistas. Essa tem sido a condição para que possa fazer a campanha dentro das comunidades.
Para Crivella, a situação "atrapalha a campanha política de um modo geral", pois "em todas as comunidades do Rio de Janeiro existe uma influência das facções do narcotráfico".
O candidato Jorge Bittar (PT) é outro que tem passado longe das favelas. Foi apenas ao Jacarezinho (Jacaré, zona norte) e fez showmícios em conjuntos habitacionais populares, como o Village Pavuna (zona norte), sempre preparando a atividade com, no mínimo, uma semana de antecedência.
Candidato da governadora Rosinha Matheus, cujo marido, o ex-governador Anthony Garotinho, é secretário de Segurança do Estado do Rio, Luiz Paulo Conde (PMDB) também não está indo a favelas com freqüência.
A assessoria dele informou que o contato prévio com as associações de moradores é obrigatório quando o candidato, sempre acompanhado de seguranças, visita uma favela.
A deputada Jandira Feghali (PC do B) informou que só pretende intensificar a campanha nas favelas depois de iniciado o programa eleitoral. Até agora, ela só foi a favelas onde o partido tem representantes, como o morro dos Macacos (Vila Isabel, zona norte) e a Rocinha (São Conrado, zona sul).
"Fomos [a favelas] quando havia atividades já organizadas pelas associações de moradores. Isso é necessário hoje. Em um segundo momento, quando tivermos mais visibilidade, pretendemos ir para a periferia", disse o jornalista Cid Benjamin, assessor da candidata.


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