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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA
Tráfico afasta político de favela do Rio
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O domínio dos traficantes de
drogas afastou das favelas os candidatos a prefeito do Rio. Ao contrário das eleições passadas,
quando os postulantes à prefeitura tinham até comitês em favelas,
os candidatos têm evitado as
áreas controladas pelo tráfico.
Quando vão, enviam emissários
para contatos com lideranças locais com antecedência mínima de
uma semana.
A exceção é o senador Marcelo
Crivella, candidato pelo PL. Ele
tem percorrido favelas, mas sempre acompanhado de seguranças
e de pastores evangélicos locais.
Mesmo assim, enfrenta problemas: fotógrafos e cinegrafistas
que o seguiam já foram expulsos
por ordem do tráfico. Além disso,
Crivella já passou por traficantes
armados em suas caminhadas.
A ação ostensiva do tráfico nas
favelas, autorizando e vetando a
entrada de candidatos, fez surgir a
figura que o prefeito Cesar Maia,
candidato à reeleição, pelo PFL,
costuma chamar de precursor.
O precursor é, geralmente, um
candidato a vereador com atuação na favela ou um militante que
more ou conheça a localidade.
Cabe a ele conversar com líderes
comunitários, que fazem chegar
aos traficantes a informação de
que um candidato a prefeito tem
interesse em percorrer a favela.
Se o chefe da quadrilha está preso, a resposta demora mais -só
após o contato com a cadeia.
A opção dos candidatos de não
entrar nas favelas está se refletindo na campanha. Com exceção de
Crivella, quase não há, nesses locais, cartazes e faixas dos candidatos majoritários.
Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito
só foi a favelas em que a prefeitura
atua ou fez obras importantes.
Em entrevista à Folha por e-mail, Maia disse que não teve problemas nas visitas. "Pois faço a
campanha como prefeito e, com
isso, a mobilidade é total."
Se não fosse prefeito, Maia seria
mais cuidadoso, admitiu. "Como
candidato sem ser prefeito, há
cuidados adicionais."
Em panfletagem na favela de
Acari (zona norte), Crivella teve
expulsos por traficantes os profissionais contratados para filmar e
fotografar a campanha. Ameaçado, um fotógrafo do jornal "O
Dia" teve que deixar o local.
O episódio ocorreu em 16 de julho. Depois disso, o candidato,
que é bispo da Igreja Universal do
Reino de Deus, passou a circular
pelas favelas, na maioria das vezes, sem fotógrafos e cinegrafistas.
Essa tem sido a condição para que
possa fazer a campanha dentro
das comunidades.
Para Crivella, a situação "atrapalha a campanha política de um
modo geral", pois "em todas as
comunidades do Rio de Janeiro
existe uma influência das facções
do narcotráfico".
O candidato Jorge Bittar (PT) é
outro que tem passado longe das
favelas. Foi apenas ao Jacarezinho
(Jacaré, zona norte) e fez showmícios em conjuntos habitacionais
populares, como o Village Pavuna
(zona norte), sempre preparando
a atividade com, no mínimo, uma
semana de antecedência.
Candidato da governadora Rosinha Matheus, cujo marido, o ex-governador Anthony Garotinho,
é secretário de Segurança do Estado do Rio, Luiz Paulo Conde
(PMDB) também não está indo a
favelas com freqüência.
A assessoria dele informou que
o contato prévio com as associações de moradores é obrigatório
quando o candidato, sempre
acompanhado de seguranças, visita uma favela.
A deputada Jandira Feghali (PC
do B) informou que só pretende
intensificar a campanha nas favelas depois de iniciado o programa
eleitoral. Até agora, ela só foi a favelas onde o partido tem representantes, como o morro dos Macacos (Vila Isabel, zona norte) e a
Rocinha (São Conrado, zona sul).
"Fomos [a favelas] quando havia atividades já organizadas pelas
associações de moradores. Isso é
necessário hoje. Em um segundo
momento, quando tivermos mais
visibilidade, pretendemos ir para
a periferia", disse o jornalista Cid
Benjamin, assessor da candidata.
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