São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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"Cansei" sai da catedral após pressão da igreja

Arcebispo diz em nota que "não desautoriza movimento, mas não encabeça o protesto nem participa da sua organização"

Movimento solta nota após oposição da igreja, transfere ato do interior da catedral para Praça da Sé e reafirma ser apartidário e pró-Brasil

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ato de amanhã do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, o "Cansei", não será dentro da Catedral da Sé. O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, reprovou o fato de o evento ter sido agendado na igreja sem sua autorização.
O "Cansei" é liderado pelo presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, e por empresários. Após tomar conhecimento da posição do arcebispo, o grupo transferiu o encontro para a Praça da Sé, em frente à igreja. O ato deve contar com representantes de várias religiões para lembrar o aniversário de um mês do acidente com o avião da TAM.
A mudança de local começou a ser desenhada no meio da tarde de ontem, quando a assessoria de comunicação da Arquidiocese de São Paulo disse que o ato não aconteceria dentro do templo católico.
Por volta de 19h30, o "Cansei" também publicou nota e comunicou a mudança de horário e lugar do evento. O encontro deve começar ao meio-dia, e não mais às 13h, como divulgado nos novos cartazes do grupo onde aparecem as apresentadoras Hebe Camargo, do SBT, e Ana Maria Braga, da Globo, a atriz Regina Duarte e a cantora Ivete Sangalo.
Embora a igreja não tenha usado a palavra "veto", o movimento justificou a transferência sob o argumento da "não autorização da Arquidiocese de São Paulo para realização dentro da igreja".
No começo da noite, pouca antes da nota do "Cansei", a igreja divulgou nota mais amena. Afirmou apenas que a "autorização do uso da Catedral da Sé não partiu do arcebispo dom Odilo Scherer". Por telefone, a assessoria afirmou que o arcebispo não vetaria o encontro, mas "não gostaria que ele fosse realizado dentro da catedral".
Em ambas as notas, a igreja argumenta: "A arquidiocese não desautoriza o movimento, mas deixa claro que não encabeça o protesto nem participa da sua organização".
A nota do "Cansei" termina dizendo: "Reiteramos que o movimento não se trata de um ato político, mas de uma manifestação cívica de cidadania e de amor ao Brasil".
Ontem, a Folha informou que a organização do grupo não consultara o arcebispo sobre a realização do ato dentro da catedral. A autorização teria partido do padre responsável pela administração da igreja.
O "Cansei" tomou forma dentro do escritório do empresário João Doria Jr, que promoveu almoços para arrecadar recursos para a campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência. Entre os slogans do movimento estão frases como "cansei do caos aéreo" e "de CPIs que não dão em nada".

Argumentos e pressão
A igreja justificou a não-adesão ao protesto do "Cansei" ao dizer que "a Arquidiocese de São Paulo já participou do ato inter-religioso pelas vítimas do acidente da TAM e celebrou missa pelos falecidos naquele trágico acidente. Renova sua solidariedade para com os familiares das vítimas, suas preces pelos que perderam suas vidas no acidente."
Ontem, ONGs como a "Educa São Paulo" protocolaram cartas pedindo o veto do arcebispo ao ato do "Cansei" sob o argumento de "uso político" do templo. Blogs governistas na internet pediam que simpatizantes do PT enchessem a caixa de e-mails da igreja protestando contra a cessão do templo.


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