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entrevista 2
"Brasil deve perdão ao Chile", diz pesquisador
DE CARACAS
Especialista em história
chilena contemporânea, o
pesquisador americano Peter Kornbluh afirma que a
conversa entre Médici e Nixon deixa claro que o Brasil
era o principal aliado de
Washington para conter movimentos de esquerda na
América Latina. Kornbluh é
o diretor dos projetos de documentos sobre o Brasil e o
Chile do Arquivo Nacional
de Segurança, ligado à Universidade George Washington (EUA).
(FM)
FOLHA - O que o documento revela sobre a relação Brasil-EUA no
início dos anos 70?
PETER KORNBLUH - A próxima e
de certa forma confortável
relação revelada deixa claro
que o Brasil era o principal
aliado dos EUA na guerra
contra a esquerda na América Latina. O Brasil tinha suas
próprias razões imperiais
para, de forma oculta, enfraquecer governos como o de
Salvador Allende. Mas este
documento deixa claro que o
regime militar também funcionava como um substituto
para os interesses intervencionistas dos EUA. A forma
cândida das visões de Médici
sobre o seu direito de alterar
o futuro de nações menores
da região é impressionante.
FOLHA - Qual era a expectativa
de Nixon e Kissinger sobre o Brasil de Médici?
KORNBLUH - O documento e
um memorando escrito mais
tarde pelo general Vernon
Walters mostram que Nixon
estava muito feliz sobre a
maneira como ele e Médici
se relacionaram. Nixon pediu a criação de um canal secreto para continuar as comunicações entre os dois na
expectativa de que o Brasil
ajudaria Washington a bloquear outros "Allendes e
Castros", como Nixon definiu. Se recuperarmos o registro dessas comunicações,
descobriremos um capítulo
da obscura história de intervenção na América Latina.
FOLHA - O que se sabe sobre o
papel do Brasil no golpe contra
Allende?
KORNBLUH -
Deste documento aprendemos da boca do mais alto
funcionário brasileiro que o
Brasil estava comprometido
em derrubar Allende. O Brasil tinha um programa de intercâmbio militar com os
chilenos, e parece que a inteligência militar de Médici
usava isso para canalizar
apoio aos militares chilenos.
O que não sabemos é a natureza da colaboração entre
os EUA e o Brasil.
O papel da intervenção
oculta americana no Chile
tem sido documentado por
documentos americanos tornados públicos e um relatório especial do Senado. Mas o
papel do Brasil continua sigiloso. O Brasil deve desculpa
por seu papel na implantação da ditadura no Chile.
FOLHA - O sr. irá a São Paulo para falar sobre as políticas de diversos países sobre acesso a documentos históricos. Como fica o
Brasil em comparação com os
EUA e os demais países?
KORNBLUH - As vítimas de
violações aos direitos humanos merecem justiça, e isso
não é possível sem o acesso à
informação. Sobretudo sob
um líder astuto como Lula, o
Brasil deveria ser uma liderança no direito ao conhecimento. Mas está atrás da
maioria da América Latina.
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