São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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Padre Cícero está distante da canonização

DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUAZEIRO

Tido como santo pelos fiéis, padre Cícero Romão Batista (1844-1934) está longe da canonização. Em vida, o padre teve a ordem (sacramento que permite o exercício do sacerdócio) cassada por insistir na existência de um "milagre" negado pela cúpula da Igreja Católica.
O suposto milagre foi o que tornou Juazeiro do Norte um município (até então era apenas um povoado) e padre Cícero passou a ser venerado em todo o Nordeste.
Ao dar a comunhão a uma de suas beatas, Maria de Araújo, a hóstia teria surgido cheia de sangue. O fenômeno teria se repetido várias vezes. Médicos atestaram que ela não mordia a língua.
Isso ocorreu em março de 1889. A Igreja, para comprovar o "milagre", enviou padres de outros locais para comprová-lo. O fenômeno sempre se repetia quando padre Cícero dava a comunhão, mas não quando outro padre fazia o mesmo. Por isso chegou-se à conclusão de que não seria milagre.
A ordem foi negada a padre Cícero em 1892. Ele chegou a ir a Roma, em 1898, e falou com o papa, mas não teve êxito. A polêmica foi tão grande que a Igreja, para evitar exames na beata, mandou que a isolassem. Após a morte dela, o corpo foi levado para local até hoje ignorado. Hoje uma comissão da Igreja reúne documentos para tentar reabilitá-lo. Só depois será possível abrir um processo de beatificação e, depois, de canonização.
Após ter a ordem cassada, padre Cícero entrou na política. Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, de 1911 a 1917, e liderou uma revolução que depôs em 1914 o governador do Ceará. (KF)


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