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CANDIDATOS NA FOLHA/MARTA
Prefeita afirma preferir pedir voto diretamente a eleitor malufista a ter o ex-prefeito em seu palanque; para petista, "se a imprensa fosse mais neutra", teria obtido aprovação de 42% no início do governo
"Maluf no meu palanque, não", diz Marta sobre segundo turno
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Marta Suplicy durante sabatina promovida pela Folha |
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
"Maluf no meu palanque, não." Em tom enfático, a prefeita Marta Suplicy (PT) disse ontem que, passando para um eventual segundo turno
da eleição municipal, não irá promover nenhum tipo de entendimento
com o ex-prefeito Paulo Maluf (PP). Prefere pedir votos diretamente "a
cada eleitor do Maluf". Em campanha pela reeleição, Marta expôs sua
posição durante sabatina promovida pela Folha. Falava a um público
de cerca de 300 pessoas no Teatro Folha. A manifestação foi provocada por uma pergunta vinda justamente da platéia.
O espectador perguntou à prefeita se admitiria a hipótese de compor-se com Maluf no segundo turno. Cobrou uma resposta "direta",
sem tergiversações, "na lata". Daí o timbre enfático empregado por
Marta que, em resposta a uma pergunta anterior, fora bem menos taxativa: "Minha posição em relação ao Paulo Maluf é clara. Nunca mudei
nada do que disse", limitara-se a dizer.
As declarações de Marta surgem num instante em que os bastidores da política paulistana encontram-se envenenados pela suspeita da
existência de um entendimento de bastidores unindo o petismo ao malufismo. Uma suspeita tonificada na última segunda-feira.
Também ouvido na série de sabatinas da Folha, Maluf derramou-se em elogios ao PT. Evitou
deliberadamente criticar o trabalho de Marta. Comprometeu-se
em dar seqüência a vários programas implantados durante a administração da atual prefeita.
A propósito, perguntou-se a
Marta por que ela não explora em
sua campanha o teor das investigações do Ministério Público em
torno de supostos investimentos
mantidos por Maluf no exterior.
"Tenho a impressão de que a
campanha não polarizou em torno desse assunto porque ele está
na Justiça", disse a prefeita. Acrescentou que as apurações avançaram graças à contratação, às expensas da prefeitura, de um escritório de advocacia no exterior.
Sabatinada na última sexta-feira, Luiza Erundina (PPS) já havia
ateado fogo à atmosfera eleitoral
ao declarar que os contornos da
atual gestão municipal tornaram
Marta Suplicy "igualzinha" a Paulo Maluf. A despeito da desfeita,
Marta abriu os braços para Erundina ontem: "Ela é sempre bem-vinda", disse, ao comentar a hipótese de receber a adversária num
eventual segundo turno.
A sabatina de ontem, a exemplo
das anteriores, ocorreu no Teatro
Folha. Começou às 15h05 e foi até
17h07. Marta respondeu a perguntas do psicanalista Contardo
Calligaris (colunista da Ilustrada)
e dos jornalistas Clóvis Rossi e
Gilberto Dimenstein (colunistas e
membros do Conselho Editorial
da Folha), Renata Lo Prete (editora do "Painel") e Nilson Camargo
(editor responsável do "Agora").
A seguir, alguns dos tópicos que
foram abordados no encontro:
PESQUISAS ELEITORAIS
Perguntou-se a Marta a opinião
dela a respeito de um aparente paradoxo exposto nas pesquisas de
opinião. De acordo com sondagem feita pelo Datafolha, a gestão
da atual prefeita é bem avaliada
(ótima ou boa) por 42% dos paulistanos. A despeito disso, levantamento realizado pelo mesmo
instituto a colocou em segundo
lugar na disputa eleitoral (33%),
atrás de José Serra (PSDB).
Repetindo estratégia que havia
sido adotada por Maluf, Marta
enxergou nas páginas dos jornais,
em especial da Folha, a razão do
descolamento dos dois índices.
Ela recomendou a leitura da coluna escrita sobre o tema, no domingo, pelo jornalista Marcelo
Beraba, ombudsman da Folha.
"As matérias do seu jornal são
negativas em relação ao meu governo", disse Marta, dirigindo-se
à banca de entrevistadores. "Temos pouca oportunidade de mostrar para o seu leitor o que estamos fazendo. Se tivéssemos uma
imprensa mais neutra, esse índice
de 42% de aprovação teria surgido desde o início do governo, e
não agora, na campanha."
Minutos depois de atacar a Folha, Marta exibiu reportagem publicada ontem no jornal como algo que a deixara "muito satisfeita" por ter declarações elogiosas
de usuários de ônibus.
TERRORISMO ELEITORAL
Marta foi confrontada com o
conteúdo de outra reportagem
publicada ontem pela Folha. O
texto informava sobre os receios
do ministro José Dirceu (Casa Civil), que disse que a ultrapassagem de Serra sobre Marta nas pesquisas fizera "acender uma luz
vermelha" na campanha.
Ela foi questionada se foi esse sinal de alerta que a fez julgar necessário chamar a atenção para a
suposta atmosfera de crise que sobreviria a uma eventual vitória tucana. Marta tentou situar suas declarações anteriores, apelidadas
de "discurso do terror". "Hoje temos duas forças políticas na cidade, dois grandes partidos. Têm divergências notórias sobre como
devem ser encaminhadas as questões da cidade. A minha candidatura tem afinidade com o governo
federal. A outra [de Serra] vai usar
a prefeitura para influir na disputa [presidencial] de 2006."
BILHETE ÚNICO
Marta deixou-se demorar nas
observações sobre a "guerra" que
travou com a "máfia dos transportes" por ocasião da implantação do bilhete único. "Foi um
grande desafio", disse. "Enfrentamos greves e ameaças [...] Agora,
quando vejo na televisão o outro
candidato mostrando o bilhete
único, uma coisa que nós fizemos,
ficou meio assim...".
Indagou-se a Marta Suplicy
quanto custou à prefeitura a implantação do bilhete único. Não
tinha a resposta. Insinuou que a
pergunta embutia uma pegadinha. Como a banca de entrevistadores insistisse na legitimidade da
questão, recorreu ao secretário
municipal de Transportes, Gerson Luiz Bittencourt, e ao ex-secretário da pasta Jilmar Tatto (hoje secretário de Governo), que a
observavam desde a platéia. Mas
também não responderam.
MEA-CULPA NA SAÚDE
Em exposição feita antes de ter
sido crivada de perguntas, Marta
Suplicy disse ter encontrado a
saúde do município em estado de
"terra arrasada". Acha que fez
muita coisa nesse setor. Mencionou, por exemplo, "a redução à
metade dos casos de HIV", a contenção de uma "epidemia" de
dengue, a "queda nos índices de
mortalidade materna em 31%" e a
ampliação das equipes de saúde
da família "de 200 para 500".
Como se desejasse justificar as
críticas que vem recebendo, a prefeita disse: "Como ainda há muito
por fazer, parece que nada foi feito". Ainda assim, disse ter tomado uma decisão em relação a esse
assunto: "Vou parar de fazer mea-culpa". A resolução seria abandonada poucos minutos depois.
Perguntou-se a Marta o que ela
faria de diferente se pudesse reiniciar a sua administração na prefeitura. Ela pensou e disse: "Eu teria feito coisas diferentes na saúde. Demorei dois anos para tomar
iniciativa. Deveria ter feito antes".
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Ainda na exposição inicial,
Marta disse que leva uma vantagem sobre os oponentes. Como
está à frente da prefeitura há praticamente quatro anos, pode privilegiar a "prestação de contas"
em detrimento das "promessas".
Julga ter muito a mostrar. Orgulha-se de ter dado "prioridade" à
população desassistida.
"Quando assumi, sabia que teria de conviver com uma cidade
com enorme pobreza", disse Marta. "Havia mais de um milhão de
desempregados, sem perspectiva
de solução a curto prazo. Tudo o
que fiz foi pensando em tornar a
cidade mais justa."
A prefeita mencionou vários
projetos que gostaria de aprofundar num segundo mandato.
CEUS-EDUCAÇÃO
Nada parece dar mais satisfação
à prefeita do que discorrer sobre
os escolões que inaugurou na periferia de São Paulo. Refere-se ao
programa em tom grandiloqüente: "Com o CEU, nós largamos a
pedra fundamental do combate
ao ciclo da pobreza".
Marta acha que, com mais quatro anos de mandato, pode acabar
com a exclusão social na cidade
de São Paulo. "Quatro anos bastam?", estranhou um dos entrevistadores. Marta esclareceu que
se referia apenas às crianças. Acha
que pode "eliminar a favela" que
contato com peças de teatro,
apresentações musicais, atividades esportivas e de lazer.
"Não entendo por que o meu
adversário [José Serra] quer acabar com tudo isso", provocou
Marta Suplicy.
Sabatinado na véspera, o tucano
Serra apresentara as suas razões.
Disse a prefeitura só conseguiu
acomodar nos CEUs 5% dos alunos. Em contrapartida, as escolas
especiais consomem, de acordo
com o candidato tucano, 40% da
verba destinada à educação.
Quando Marta foi submetida a
uma questão que envolvia os custos dos CEUs, também não tinha
o custo global. Mas trazia alguns
números na ponta da língua: "Cada CEU custa entre R$ 15 milhões
e R$ 20 milhões, dependendo da
região. A manutenção custa mais
uns R$ 500 mil [por mês]". A prefeita acrescentou: "O orçamento
para educação tem sido de 31%.
Mas no ano passado gastamos
32,2%. Considero que todo esse
dinheiro foi muito bem gasto".
Repetiu a promessa de construir
mais 24 CEUs.
LIXO
Marta disse que não vai voltar
atrás em sua decisão de homologar a licitação do lixo. Na véspera,
Serra dissera que considera
"plausível" que haja corrupção
no processo. De resto, considerou
impróprio que uma prefeita "em
fim de mandato" formalize um
"contrato de R$ 10 bilhões, por 20
anos". As declarações do tucano,
mereceram uma "leitura muito
criteriosa" por parte da prefeita
petista. "Pensei em processar,
mas eles são cuidadosos", disse.
Segundo ela, o processo continua sob análise de uma comissão
de licitação. Se o contrato for considerado correto, não hesitará em
assiná-lo. Desdenhou das críticas
de Serra. Afirmou que há a necessidade de investir R$ 1,1 bilhão
nesse setor. "A prefeitura não tem
dinheiro." E a iniciativa privada
não toparia realizar as inversões
se não lhe fosse proporcionada a
concessão por 20 anos. Marta disse que prefeituras do PSDB fizeram o mesmo tipo de contrato.
Mencionou a de Vitória (ES).
SEPARAÇÃO CONJUGAL
Perguntou-se a Marta se achava
que perdeu votos pelo fato de ter-se separado do senador Eduardo
Suplicy para casar-se com Luis
Favre, "um estrangeiro". Ela disse
que o PT fez uma pesquisa de opinião para aquilatar os efeitos da
separação. Não mencionou o casamento. "Quando você é casada
com o senador mais amado do
Estado e se separa, isso choca as
pessoas. Imaginei que fosse chocar mais", disse. "Mas a pesquisa
mostrou um amadurecimento da
população de São Paulo", prosseguiu Marta. "As pessoas disseram: "O que ela faz na vida pessoal
é problema dela. O que interessa é
o que ela vai com a cidade". Quanto a isso, acho que dei a resposta
com o meu trabalho."
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