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Relator fala em "intromissão" do Poder Judiciário sobre o Legislativo
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O relator do processo de cassação do mandato de José Dirceu
(PT-SP) no Conselho de Ética, deputado Julio Delgado (PSB-MG),
criticou ontem o que chamou de
"intromissão" do Judiciário sobre
o Legislativo.
O parlamentar ironizou a decisão de suspender processos contra deputados petistas acusados
de recebimento do "mensalão"
usando um trocadilho com as letras da sigla do STF (Supremo
Tribunal Federal).
"Com essa decisão, o STF pode
mudar o nome para o SPF, suprema pizza federal", disse Delgado,
sugerindo que o tribunal agia para retardar a punição aos parlamentares acusados.
A decisão do STF, entretanto,
serve apenas para os processos
enviados pela Corregedoria da
Câmara e não para o processo em
curso no Conselho.
No entendimento do presidente
do STF, Nelson Jobim, os deputados não tiveram direito a defesa
prévia. A decisão dá mais tempo
aos parlamentares acusados, que
poderão renunciar nos próximos
dias para manter os direitos políticos -uma vez aberto o processo, não cabe mais aos acusados o
recurso da renúncia.
"Para o processo contra Dirceu,
é uma decisão inócua, e quanto
aos demais, protelatória", disse
Delgado. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), também criticou a decisão do
tribunal. "Acho que é uma interferência indevida, mas tudo vai
andar normalmente e, no máximo, vão retardar uma semana",
disse. "Não há clima para pizza e
aqui ninguém tem fome."
Nomeações
Izar afirmou ainda ter discutido
com os integrantes do conselho a
nomeação de relatorias para os
processos que serão abertos contra os deputados.
Segundo ele, parlamentares que
pertencem ao mesmo Estado ou
partido, como os petistas João
Paulo, José Mentor e Professor
Luizinho (todos de São Paulo),
poderão ter o mesmo relator.
Nesse caso, Izar disse que apontará Nelson Trad (PMDB-MS) ou
Jairo Carneiro (PFL-BA), que relatou o processo contra o petebista Roberto Jefferson.
O advogado de Dirceu, José Luis
Oliveira Lima afirmou que a decisão do STF é legítima e demonstra
que o tribunal agirá para "coibir
cerceamento de defesa".
O presidente do STF apreciou o
pedido de liminar, em vez de distribuir a ação a algum do dez ministros na terça-feira à noite, dizendo que era urgente.
Depois, designou Velloso relator por sorteio eletrônico. Jobim
disse não se irritar com os ataques. Para ele, o presidente do tribunal deve decidir mandados de
segurança em casos de urgência.
Ele também disse que havia razões jurídicas para a suspensão
dos processos políticos que seriam abertos.
O ministro explicou que a liminar perderia os efeitos se a corregedoria desse o prazo de cinco
sessões para que os parlamentares acusados prestem esclarecimentos.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, a medida foi considerada juridicamente correta, mas
causou surpresa o fato de o Supremo interferir em um processo político, o que não é a tradição.
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