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Secretária de Severino vira alvo da PF e do fisco
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
Ao ajustar os seus depoimentos
à conveniência do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), Gabriela
Kênia da Silva Santos Martins, a
secretária do presidente da Câmara, tornou-se alvo potencial da
polícia e do fisco. Na Polícia Federal, pode ter de responder por falso testemunho. Na Receita Federal, pode ser intimada a pagar
uma multa.
Interrogada há uma semana,
Kênia negara "peremptoriamente" que houvesse intermediado
repasses de dinheiro do empresário Sebastião Augusto Buani para
Severino Cavalcanti. Anteontem,
teve de reconhecer que sacou, na
boca do caixa, um cheque de
R$ 7.500 emitido por Buani.
A funcionária repetiu à polícia a
versão combinada, horas antes,
com o chefe. Disse que o dinheiro
destinara-se ao filho do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti Júnior, morto em 2002. Teria sido uma contribuição de Buani à
campanha de Júnior, que morreu
pouco antes do pleito em que disputaria uma cadeira de deputado.
O empresário diz não ter feito
doação eleitoral a ninguém. Sustenta que pagou propina a Severino, o pai, na época em que o deputado ocupava o posto de primeiro-secretário da Câmara. Do
ponto de vista da Receita, Kênia é,
por ora, a única pessoa a admitir
formalmente o recebimento dos
R$ 7.500.
O ingresso do dinheiro deveria
ter sido informado ao fisco, seja
na forma de doação, seja na modalidade de empréstimo. Ela, porém, não fez menção a esse dinheiro em declarações de rendimentos. Aos olhos do fisco, cometeu crime de "omissão de receita".
Está sujeita ao pagamento de uma
multa de 150% sobre o valor não-declarado. De resto, pode ter de
responder a uma "representação
fiscal para fins penais".
Augusto Buani tampouco está
livre problemas com a Receita. O
cheque que entregou à Kênia é de
uma conta pessoal que mantém
no Bradesco. Como propina não é
algo que possa ser anotado no Imposto de Renda, a saída do dinheiro também não foi reportada por
Buani ao fisco. Nem como doação
nem como empréstimo. Além de
correr o risco de pagar de multa,
também de 150%, Buani pode ser
acusado do crime de agiotagem
-nome popular do que a lei chama de "intermediação financeira
não declarada".
A julgar pelo tom de descrédito
com que foi recebida no Congresso, a versão da secretária pode
não ser suficiente para salvar o
mandato do presidente da Câmara. Além de lançar estilhaços sobre a imagem póstuma de Severino Júnior, pode ainda trazer dores
de cabeça aos beneficiários de sua
herança, caso a partilha ainda esteja inconclusa.
Na hipótese de a secretária conseguir comprovar que repassou o
dinheiro de Buani ao filho de Severino, a Receita pode intimar os
responsáveis pelo espólio.
A menos que consigam demonstrar documentalmente que
os R$ 7.500 foram, de fato, usados
em uma campanha política, terão
de pagar, também eles, multa de
150%.
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