São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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"É só Renan me telefonar que o recebo", afirma Lula

Para presidente, absolvição do senador não vai atrapalhar aprovação da CPMF

Sobre a PNAD, petista diz, em entrevista em Madri, que está "satisfeito pelo que fez" e "insatisfeito" porque não conseguiu fazer mais

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem sua própria absolvição ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao dizer, com ênfase na voz: "Se ele quiser conversar, é telefonar e marcar, e eu o receberei, como sempre recebi o senador Renan como presidente do Senado".
A afirmação foi feita em entrevista coletiva concedida ontem no bar do Hotel Palace, em cuja suíte real o presidente está hospedado desde que chegou na noite da véspera à Espanha.
Lula negou que a audiência com Renan já esteja marcada.
Num único momento, houve um pedaço de frase em que Lula admitiu que o senador pode ter cometido um erro. Foi quando defendeu o funcionamento das instituições e disse: "Qualquer cidadão que cometeu um erro tem mecanismos institucionais para julgá-lo".
Lula repetiu o que já dissera em Copenhague, no dia seguinte à absolvição de Renan, quando deixou no ar a hipótese de que o problema não esteja encerrado: "Você tem a Suprema Corte, que pode ser acionada por alguém. Você tem ainda duas coisas contra o Renan. Mas este país tem instituições sólidas para julgar. Depois do caso Collor, as instituições brasileiras são sólidas. Lembro do medo a respeito da democracia brasileira que o dr. Ulysses Guimarães tinha quando começaram as denúncias contra o Collor. Não existe mais".
O presidente não acha que o caso Renan dê sensação de impunidade: "Não acho que haja impunidade. É importante que as pessoas que sejam acusadas tenham o poder de se defender. O que você não pode é achar que as pessoas têm que ser culpadas antes de serem julgadas".
"Digo isso porque sentia isso quando não era presidente. Quando estava no sindicato, sentia: "Ah, denunciaram fulano. Mas não prenderam". A sociedade fica achando que precisa prender. Mas para prender, é preciso ter mecanismos."
"Não se tratar de acreditar se o Renan é culpado ou não. Não sou juiz. Fazer política não é uma ação entre amigos."
Lula também não acredita que a sociedade vincule o Planalto ao caso Renan:
"Se tem alguém que me conhece no Brasil é o povo brasileiro. E o povo tem consciência de tudo o que aconteceu no Senado, o povo acompanhou, vocês publicaram, aquilo que foi publicado como verdade vai ficar como verdade, aquilo que foi publicado como mentira vai ficar como mentira. Haverá um dia em que as coisas ficarão claras para todo mundo".

CPMF
Lula também foi enfático ao dizer que o caso Renan não vai atrapalhar a votação da CPMF, que a oposição tenta obstruir.
"O que você espera da votação? Que ela fale bem de mim?", perguntou.
"Vamos votar a CPMF porque vamos ter maioria para votar. Eu, se dependesse só da oposição, não governava o país. Você governa o país construindo uma maioria. À oposição é dado o direito de pensar um pouco no país, de votar a favor quando os projetos são do interesse do país e de fazer discurso contra quando tem vergonha de falar a favor."
Lula diz que a CPMF é "um imposto justo" e que "nenhum governante pode prescindir dela". Mas admitiu que, quando oposição, era contra a CPMF.
"Fui ao Congresso trabalhar para a bancada do PT não aprovar a CPMF. Tenho humildade para mudar de posição, sobretudo quando você vira presidente da República e depende de R$ 40 bilhões para fazer investimentos. Eu não sou um poste, sou um ser humano".
"Você não governa com principismo. Principismo você faz no partido quando pensa que não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira governo, governa em função da realidade que tem. E uma das realidades é o Orçamento da União".
E cutucou a oposição: "Quem não quer votar a CPMF quer que o país não dê certo".

Crise global
Sobre a turbulência financeira global, nem o fato de ter mudado de patamar, com a corrida a um banco britânico na sexta-feira, nem os planos do governo espanhol para ajudar os compradores de imóveis que agora não podem pagar as prestações por causa da subida dos juros, mudaram a certeza de Lula de que o Brasil não será afetado.
"Conversei com o Zapatero [José Luís Rodríguez Zapatero, chefe do governo espanhol], e ele está tranqüilo com relação à Espanha, que é mais ou menos o que penso sobre o Brasil. Não vejo possibilidade concreta dessa crise atingir o Brasil."
O presidente insiste, no entanto, em que "os Estados Unidos precisam urgentemente resolver essa crise. Eles sabem onde nasceu, sabem quem comprou os títulos, quem são os envolvidos, não podem permitir que essa crise perdure e acabe resvalando em países que não têm nada a ver com isso".

PNAD
Sobre os resultados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), disse Lula: "A PNAD foi ótima. E vai melhorar mais. Essa é de 2006. A de 2007 vai ser melhor, 2008 vai ser melhor. Cada ano vai melhorar mais, porque isso é uma corrente. A cada ano que passa os resultados das políticas sociais vão se consolidando e mais gente muda de padrão".
"No ano que vem, quando as obras do PAC estiverem a pleno vapor, na periferia de São Paulo, na periferia do Rio, de Belo Horizonte, de Salvador, aí vocês vão ver a quantidade de máquinas trabalhando na rua, a quantidade de gente recebendo salário, e tudo isso vai melhorar os números do ano que vem".
O presidente diz que não surpreendeu com o resultado da pesquisa e emendou: "Eu sou o brasileiro mais satisfeito e o mais insatisfeito. Satisfeito pelo que conseguimos fazer até agora e insatisfeito porque não consegui fazer mais".


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