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"É só Renan me telefonar que o recebo", afirma Lula
Para presidente, absolvição do senador não vai atrapalhar aprovação da CPMF
Sobre a PNAD, petista diz, em entrevista em Madri, que está "satisfeito pelo que fez" e "insatisfeito" porque não conseguiu fazer mais
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem sua própria absolvição ao presidente
do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), ao dizer, com ênfase na voz: "Se ele quiser conversar, é telefonar e marcar, e
eu o receberei, como sempre
recebi o senador Renan como
presidente do Senado".
A afirmação foi feita em entrevista coletiva concedida ontem no bar do Hotel Palace, em
cuja suíte real o presidente está
hospedado desde que chegou
na noite da véspera à Espanha.
Lula negou que a audiência
com Renan já esteja marcada.
Num único momento, houve
um pedaço de frase em que Lula admitiu que o senador pode
ter cometido um erro. Foi
quando defendeu o funcionamento das instituições e disse:
"Qualquer cidadão que cometeu um erro tem mecanismos
institucionais para julgá-lo".
Lula repetiu o que já dissera
em Copenhague, no dia seguinte à absolvição de Renan, quando deixou no ar a hipótese de
que o problema não esteja encerrado: "Você tem a Suprema
Corte, que pode ser acionada
por alguém. Você tem ainda
duas coisas contra o Renan.
Mas este país tem instituições
sólidas para julgar. Depois do
caso Collor, as instituições brasileiras são sólidas. Lembro do
medo a respeito da democracia
brasileira que o dr. Ulysses Guimarães tinha quando começaram as denúncias contra o Collor. Não existe mais".
O presidente não acha que o
caso Renan dê sensação de impunidade: "Não acho que haja
impunidade. É importante que
as pessoas que sejam acusadas
tenham o poder de se defender.
O que você não pode é achar
que as pessoas têm que ser culpadas antes de serem julgadas".
"Digo isso porque sentia isso
quando não era presidente.
Quando estava no sindicato,
sentia: "Ah, denunciaram fulano. Mas não prenderam". A sociedade fica achando que precisa prender. Mas para prender, é
preciso ter mecanismos."
"Não se tratar de acreditar se
o Renan é culpado ou não. Não
sou juiz. Fazer política não é
uma ação entre amigos."
Lula também não acredita
que a sociedade vincule o Planalto ao caso Renan:
"Se tem alguém que me conhece no Brasil é o povo brasileiro. E o povo tem consciência
de tudo o que aconteceu no Senado, o povo acompanhou, vocês publicaram, aquilo que foi
publicado como verdade vai ficar como verdade, aquilo que
foi publicado como mentira vai
ficar como mentira. Haverá um
dia em que as coisas ficarão claras para todo mundo".
CPMF
Lula também foi enfático ao
dizer que o caso Renan não vai
atrapalhar a votação da CPMF,
que a oposição tenta obstruir.
"O que você espera da votação? Que ela fale bem de
mim?", perguntou.
"Vamos votar a CPMF porque vamos ter maioria para votar. Eu, se dependesse só da
oposição, não governava o país.
Você governa o país construindo uma maioria. À oposição é
dado o direito de pensar um
pouco no país, de votar a favor
quando os projetos são do interesse do país e de fazer discurso
contra quando tem vergonha
de falar a favor."
Lula diz que a CPMF é "um
imposto justo" e que "nenhum
governante pode prescindir dela". Mas admitiu que, quando
oposição, era contra a CPMF.
"Fui ao Congresso trabalhar
para a bancada do PT não aprovar a CPMF. Tenho humildade
para mudar de posição, sobretudo quando você vira presidente da República e depende
de R$ 40 bilhões para fazer investimentos. Eu não sou um
poste, sou um ser humano".
"Você não governa com principismo. Principismo você faz
no partido quando pensa que
não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira governo, governa em função da realidade
que tem. E uma das realidades é
o Orçamento da União".
E cutucou a oposição: "Quem
não quer votar a CPMF quer
que o país não dê certo".
Crise global
Sobre a turbulência financeira global, nem o fato de ter mudado de patamar, com a corrida
a um banco britânico na sexta-feira, nem os planos do governo
espanhol para ajudar os compradores de imóveis que agora
não podem pagar as prestações
por causa da subida dos juros,
mudaram a certeza de Lula de
que o Brasil não será afetado.
"Conversei com o Zapatero
[José Luís Rodríguez Zapatero,
chefe do governo espanhol], e
ele está tranqüilo com relação à
Espanha, que é mais ou menos
o que penso sobre o Brasil. Não
vejo possibilidade concreta
dessa crise atingir o Brasil."
O presidente insiste, no entanto, em que "os Estados Unidos precisam urgentemente resolver essa crise. Eles sabem
onde nasceu, sabem quem
comprou os títulos, quem são
os envolvidos, não podem permitir que essa crise perdure e
acabe resvalando em países que
não têm nada a ver com isso".
PNAD
Sobre os resultados da PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), disse
Lula: "A PNAD foi ótima. E vai
melhorar mais. Essa é de 2006.
A de 2007 vai ser melhor, 2008
vai ser melhor. Cada ano vai
melhorar mais, porque isso é
uma corrente. A cada ano que
passa os resultados das políticas sociais vão se consolidando
e mais gente muda de padrão".
"No ano que vem, quando as
obras do PAC estiverem a pleno
vapor, na periferia de São Paulo, na periferia do Rio, de Belo
Horizonte, de Salvador, aí vocês vão ver a quantidade de máquinas trabalhando na rua, a
quantidade de gente recebendo
salário, e tudo isso vai melhorar
os números do ano que vem".
O presidente diz que não surpreendeu com o resultado da
pesquisa e emendou: "Eu sou o
brasileiro mais satisfeito e o
mais insatisfeito. Satisfeito pelo que conseguimos fazer até
agora e insatisfeito porque não
consegui fazer mais".
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