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"Dossiê faz parte do jogo político", diz ex-diretor do BB
Expedito Veloso nega ser "aloprado", admite que operação atrapalhou campanha e afirma que hoje não repetiria erro
Ainda filiado ao partido, mas rebaixado a gerente de projetos, ele conta detalhes da negociação, sobre a qual pretende publicar um livro
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano depois, Expedito Veloso, 43, ex-diretor de Gestão
de Risco do Banco do Brasil,
ainda defende a divulgação do
dossiê contra lideranças tucanas, que levou o presidente Lula a chamar seus idealizadores
de "aloprados". Em sua primeira entrevista desde a crise, Veloso admite que a operação
"atrapalhou" a campanha.
FOLHA - Como está sua vida?
EXPEDITO VELOSO - Tive perdas
de toda natureza. Foi uma experiência dolorosa. Mas amadureci muito. Sou outro cidadão. Foi uma lição de vida. Tudo que eu fiz são coisas legais. A
Polícia Federal não viu nem indícios de que eu cometi crime.
FOLHA - Como o sr. foi parar na
campanha do Lula?
VELOSO - Eu participei de todas. Em 2006, eu tinha interesse em participar porque acredito profundamente no governo.
Quando surgiu o grupo ["inteligência"], eu me ofereci. Queria
estar naquele momento histórico. Mas acho que atrapalhei.
FOLHA - Acha?
VELOSO - Essa confusão, além
de não ter ajudado a campanha,
teve todas as conseqüências.
FOLHA - Como era o grupo?
VELOSO - Era formado por
mim, Gedimar [Passos], Oswaldo [Bargas] e [Jorge] Lorenzetti. Ficávamos fazendo um radar
do processo eleitoral.
FOLHA - Como surgiu o dossiê?
VELOSO - Peguei o processo no
meio. Me falaram, numa reunião, que alguém ligou, que tinha dossiê.
FOLHA - Quem ligou?
VELOSO - Não sei.
FOLHA - Quem lhe falou?
VELOSO - Eu só tratava com o
Lorenzetti.
FOLHA - Lorenzetti chega e diz que
tem uma papelada em Cuiabá...
VELOSO - Eram documentos
bancários. Eu, como bancário,
fui para lá. Diziam que o Serra
teve contas de campanha pagas
pelos Vedoin. Fomos eu e o Gedimar antes. O Bargas só foi no
dia da reportagem. Tudo isso
durou umas três semanas.
FOLHA - O sr. lidava com o Vedoin?
VELOSO - Eu conversava com o
Valdebran [Padilha].
FOLHA - Ele pedia dinheiro?
VELOSO - Minha participação
diz respeito aos documentos.
Quando me falava em dinheiro,
eu dizia: "Não trato disso, estou
aqui para ver documentos".
Uma coisa era o que conversava
comigo. Com outros, não sei.
FOLHA - Quanto Valdebran pedia?
Começou com R$ 20 milhões?
VELOSO - É isso.
FOLHA - A entrevista foi dada em
14/9, véspera da prisão. Vedoin não
disse nada sobre esse dinheiro?
VELOSO - Quando fomos lá, a
única informação que a gente
recebeu foi: "A entrevista vai
ser dada e vocês vão porque, se
furar, o pessoal da "IstoÉ" vai
querer fazer matéria com documentos". Era o plano B. Eu tinha informações que eram suficientes para fazer a matéria.
FOLHA - E de onde veio o dinheiro?
VELOSO - Não dou palpite.
FOLHA - Não é possível que o sr.
não tenha uma desconfiança.
VELOSO - Não tenho, sinceramente. É como nos movimentos comunistas das décadas de
50, 60, e 70. As pessoas tinham
uma atribuição bem definida.
Umas não sabiam das outras.
Eu não tinha atribuição nenhuma relacionada ao tema dinheiro, não sabia e não queria saber.
FOLHA - Mas era da campanha?
VELOSO - São inferências suas.
FOLHA - Quem saberia a origem? A
campanha nacional ou a de SP?
VELOSO - Não quero fazer inferências, porque o Hamilton
[Lacerda] está do outro lado,
sofrendo as conseqüências
enormes dessa confusão toda.
FOLHA - O que o sr. sentiu quando
Lula os chamou de aloprados?
VELOSO - Traduzi aquilo como
uma atitude necessária. Primeiro porque ele não sabia do
fato e na disputa política a
questão ganhou um vulto muito grande. Não tenho mágoa do
Lula por ter dito isso. No calor
da campanha, considerando a
pressão do momento, é natural.
FOLHA - O sr. se acha aloprado?
VELOSO - Não, não. Muito pelo
contrário.
FOLHA - O dossiê é verdadeiro?
VELOSO - Já está comprovado,
mas a mídia não deu ênfase.
FOLHA - Dossiê é jogo sujo?
VELOSO - Campanha tem de ser
de alto nível. Mas faz parte do
jogo político. Não é só no Brasil:
as campanhas americanas chegam à vida pessoal dos candidatos. Mas uma informação de
que o Serra recebeu dinheiro de
uma empresa que prestava serviço ao Ministério da Saúde, isso não é jogo sujo. É informação fundamental para o cidadão saber em que está votando.
FOLHA - O sr. se arrepende?
VELOSO - Eu não cometeria esse erro de novo.
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