São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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"Dossiê faz parte do jogo político", diz ex-diretor do BB

Expedito Veloso nega ser "aloprado", admite que operação atrapalhou campanha e afirma que hoje não repetiria erro

Ainda filiado ao partido, mas rebaixado a gerente de projetos, ele conta detalhes da negociação, sobre a qual pretende publicar um livro

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um ano depois, Expedito Veloso, 43, ex-diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil, ainda defende a divulgação do dossiê contra lideranças tucanas, que levou o presidente Lula a chamar seus idealizadores de "aloprados". Em sua primeira entrevista desde a crise, Veloso admite que a operação "atrapalhou" a campanha.  

FOLHA - Como está sua vida?
EXPEDITO VELOSO
- Tive perdas de toda natureza. Foi uma experiência dolorosa. Mas amadureci muito. Sou outro cidadão. Foi uma lição de vida. Tudo que eu fiz são coisas legais. A Polícia Federal não viu nem indícios de que eu cometi crime.

FOLHA - Como o sr. foi parar na campanha do Lula?
VELOSO
- Eu participei de todas. Em 2006, eu tinha interesse em participar porque acredito profundamente no governo. Quando surgiu o grupo ["inteligência"], eu me ofereci. Queria estar naquele momento histórico. Mas acho que atrapalhei.

FOLHA - Acha?
VELOSO
- Essa confusão, além de não ter ajudado a campanha, teve todas as conseqüências.

FOLHA - Como era o grupo?
VELOSO
- Era formado por mim, Gedimar [Passos], Oswaldo [Bargas] e [Jorge] Lorenzetti. Ficávamos fazendo um radar do processo eleitoral.

FOLHA - Como surgiu o dossiê?
VELOSO
- Peguei o processo no meio. Me falaram, numa reunião, que alguém ligou, que tinha dossiê.

FOLHA - Quem ligou?
VELOSO
- Não sei.

FOLHA - Quem lhe falou?
VELOSO
- Eu só tratava com o Lorenzetti.

FOLHA - Lorenzetti chega e diz que tem uma papelada em Cuiabá...
VELOSO
- Eram documentos bancários. Eu, como bancário, fui para lá. Diziam que o Serra teve contas de campanha pagas pelos Vedoin. Fomos eu e o Gedimar antes. O Bargas só foi no dia da reportagem. Tudo isso durou umas três semanas.

FOLHA - O sr. lidava com o Vedoin?
VELOSO
- Eu conversava com o Valdebran [Padilha].

FOLHA - Ele pedia dinheiro?
VELOSO
- Minha participação diz respeito aos documentos. Quando me falava em dinheiro, eu dizia: "Não trato disso, estou aqui para ver documentos". Uma coisa era o que conversava comigo. Com outros, não sei.

FOLHA - Quanto Valdebran pedia? Começou com R$ 20 milhões?
VELOSO
- É isso.

FOLHA - A entrevista foi dada em 14/9, véspera da prisão. Vedoin não disse nada sobre esse dinheiro?
VELOSO
- Quando fomos lá, a única informação que a gente recebeu foi: "A entrevista vai ser dada e vocês vão porque, se furar, o pessoal da "IstoÉ" vai querer fazer matéria com documentos". Era o plano B. Eu tinha informações que eram suficientes para fazer a matéria.

FOLHA - E de onde veio o dinheiro?
VELOSO
- Não dou palpite.

FOLHA - Não é possível que o sr. não tenha uma desconfiança.
VELOSO
- Não tenho, sinceramente. É como nos movimentos comunistas das décadas de 50, 60, e 70. As pessoas tinham uma atribuição bem definida. Umas não sabiam das outras. Eu não tinha atribuição nenhuma relacionada ao tema dinheiro, não sabia e não queria saber.

FOLHA - Mas era da campanha?
VELOSO
- São inferências suas.

FOLHA - Quem saberia a origem? A campanha nacional ou a de SP?
VELOSO
- Não quero fazer inferências, porque o Hamilton [Lacerda] está do outro lado, sofrendo as conseqüências enormes dessa confusão toda.

FOLHA - O que o sr. sentiu quando Lula os chamou de aloprados?
VELOSO
- Traduzi aquilo como uma atitude necessária. Primeiro porque ele não sabia do fato e na disputa política a questão ganhou um vulto muito grande. Não tenho mágoa do Lula por ter dito isso. No calor da campanha, considerando a pressão do momento, é natural.

FOLHA - O sr. se acha aloprado?
VELOSO
- Não, não. Muito pelo contrário.

FOLHA - O dossiê é verdadeiro?
VELOSO
- Já está comprovado, mas a mídia não deu ênfase.

FOLHA - Dossiê é jogo sujo?
VELOSO
- Campanha tem de ser de alto nível. Mas faz parte do jogo político. Não é só no Brasil: as campanhas americanas chegam à vida pessoal dos candidatos. Mas uma informação de que o Serra recebeu dinheiro de uma empresa que prestava serviço ao Ministério da Saúde, isso não é jogo sujo. É informação fundamental para o cidadão saber em que está votando.

FOLHA - O sr. se arrepende?
VELOSO
- Eu não cometeria esse erro de novo.


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