São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Ex-sargento diz ter guardado série por medo de morrer

DO ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)

Lavrador em Patrocínio desde que deixou o Exército, em 1974, o ex-sargento José Antônio de Souza Perez, 60, ainda teme os guerrilheiros. Por isso, e também por desconfiar da reação dos militares, guardou os negativos tanto tempo. (ST)

 

FOLHA - Como o sr. foi parar lá?
JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA PEREZ
- Servia em Cristalina [GO]. Saíram de lá uns 20 do 43º Batalhão. Rodamos mil e tantos quilômetros em caminhão na Belém-Brasília. Em Araguaína [hoje TO] ficamos sabendo que íamos participar duma guerra.

FOLHA - O sr. lembra sua reação ao saber que iria para uma guerra?
PEREZ
- Ninguém quer uma guerra. Chegamos no Araguaia, atravessamos de barco. Já estava em confronto com a guerrilha. Fiquei nas patrulhas da selva, em combate corpo-a-corpo.

FOLHA - Que informações vocês tinham sobre os guerrilheiros?
PEREZ
- Eram treinados para combater cem de nós -treinados na China para substituir cem dos nossos.

FOLHA - Como era a vida na selva?
PEREZ
- De dia, patrulha. À noite, parava, porque seis da tarde tem um mosquito que passa a 30 centímetros [do chão]. Se ele te picar pode te dar uma lepra. É incurável essa lepra.

FOLHA - Como foi parar junto aos corpos dos guerrilheiros das fotos?
PEREZ
- Passaram rádio dizendo que estavam chegando dois guerrilheiros, para transportar no helicóptero. Chegaram, puseram no saco e transportaram no helicóptero. Não sei qual o destino. Acho que era a base de Xambioá.

FOLHA - Contaram o que ocorreu?
PEREZ
- Não entraram em detalhes. Conversava o menos possível. Um era Juca, porque tinha diário. O outro não tinha nada. Nem sei como foi a morte, porque a função deles era fazer isso, a gente não podia ficar comentando.

FOLHA - Por que o sr. guardou os negativos tanto tempo?
PEREZ
- Antes de abrir os arquivos, se eu aparecesse com essas fotos eu era morto. Uns tempos atrás eu era morto. Não sei por qual lado, mas eu era, tranqüilo. Será que esse cara aqui não está me identificando para me matar, parente de guerrilheiro? A única preocupação minha é esse povo querer me cruzar.

FOLHA - E os outros dois militares?
PEREZ
- Um [o da direita] era de Ipameri [GO], médico, tenente ou capitão, sei lá. Sujeito manso, amigo da gente. Não estou lembrado do nome. [E o outro] Soldado Vantuir, radioperador.


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