Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-sargento diz ter guardado série por medo de morrer
DO ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)
Lavrador em Patrocínio desde que deixou o Exército, em
1974, o ex-sargento José Antônio de Souza Perez, 60, ainda
teme os guerrilheiros. Por isso,
e também por desconfiar da
reação dos militares, guardou
os negativos tanto tempo.
(ST)
FOLHA - Como o sr. foi parar lá?
JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA PEREZ -
Servia em Cristalina [GO]. Saíram de lá uns 20 do 43º Batalhão. Rodamos mil e tantos quilômetros em caminhão na Belém-Brasília. Em Araguaína
[hoje TO] ficamos sabendo que
íamos participar duma guerra.
FOLHA - O sr. lembra sua reação ao
saber que iria para uma guerra?
PEREZ - Ninguém quer uma
guerra. Chegamos no Araguaia,
atravessamos de barco. Já estava em confronto com a guerrilha. Fiquei nas patrulhas da selva, em combate corpo-a-corpo.
FOLHA - Que informações vocês tinham sobre os guerrilheiros?
PEREZ - Eram treinados para
combater cem de nós -treinados na China para substituir
cem dos nossos.
FOLHA - Como era a vida na selva?
PEREZ - De dia, patrulha. À noite, parava, porque seis da tarde
tem um mosquito que passa a
30 centímetros [do chão]. Se
ele te picar pode te dar uma lepra. É incurável essa lepra.
FOLHA - Como foi parar junto aos
corpos dos guerrilheiros das fotos?
PEREZ - Passaram rádio dizendo que estavam chegando dois
guerrilheiros, para transportar
no helicóptero. Chegaram, puseram no saco e transportaram
no helicóptero. Não sei qual o
destino. Acho que era a base de
Xambioá.
FOLHA - Contaram o que ocorreu?
PEREZ - Não entraram em detalhes. Conversava o menos possível. Um era Juca, porque tinha diário. O outro não tinha
nada. Nem sei como foi a morte, porque a função deles era fazer isso, a gente não podia ficar
comentando.
FOLHA - Por que o sr. guardou os
negativos tanto tempo?
PEREZ - Antes de abrir os arquivos, se eu aparecesse com essas
fotos eu era morto. Uns tempos
atrás eu era morto. Não sei por
qual lado, mas eu era, tranqüilo.
Será que esse cara aqui não está
me identificando para me matar, parente de guerrilheiro? A
única preocupação minha é esse povo querer me cruzar.
FOLHA - E os outros dois militares?
PEREZ - Um [o da direita] era de
Ipameri [GO], médico, tenente
ou capitão, sei lá. Sujeito manso, amigo da gente. Não estou
lembrado do nome. [E o outro]
Soldado Vantuir, radioperador.
Texto Anterior: Fotos mostram corpos de guerrilheiros do Araguaia Próximo Texto: Funai recorre à Procuradoria para proteger área de 2 índios isolados Índice
|