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Funai recorre à Procuradoria para proteger área de 2 índios isolados
Órgão em Rondônia quer restrição de uso da área, onde atuam madeireiros alvo de operação da PF
Fazendeiro questiona como é possível preservar espécie se os 2 índios são homens; coordenador da Funai diz que é obrigação protegê-los
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) em
Rondônia pediram ao Ministério Público Federal ajuda para
obrigar o próprio órgão indigenista a proteger uma área de
floresta no noroeste de Mato
Grosso onde vivem os dois últimos membros de uma etnia
isolada -os piripkuras.
Os dois índios perambulam
por propriedades do fazendeiro
Celso Penço e de outros nos
municípios de Rondolândia e
Colniza, e sua sobrevivência é
ameaçada pela ação de madeireiros, segundo os indigenistas.
A região era o principal foco
de atuação do esquema de extração ilegal de madeira investigado em 2005 pela Operação
Curupira, da Polícia Federal.
Penço foi um dos denunciados, por supostamente corromper funcionários do Ibama e da
então Fema (Fundação Estadual do Meio Ambiente, hoje
transformada em secretaria estadual) para conseguir planos
de manejo falsos. No total, estima-se que ele tenha desmatado
ilegalmente cerca de 108 mil
hectares de floresta.
Os indigenistas que trabalham na frente de proteção da
Funai em Ji-Paraná (RO) têm
pedido ao órgão que baixe uma
portaria de restrição de uso da
área. Esse instrumento visa
suspender as atividades de não-índios e é o primeiro passo legal
para a realização dos estudos
que podem levar à identificação e à demarcação da terra.
O coordenador-geral de índios isolados da Funai, Elias
Biggio, disse que já fez o pedido
para a diretoria de assuntos
fundiários do órgão federal,
mas que ainda não há uma resposta. "Temos todos os elementos para conseguir [a restrição de uso]", afirmou.
Segundo o indigenista Leonardo Lênin dos Santos, que
coordena a equipe da Funai na
área, os madeireiros que atuam
no local estão consertando estradas e preparando a próxima
safra. A madeireira Bioflora, de
Ji-Paraná, pertencente a João
Garcia (indiciado na Curupira),
tem uma serraria dentro da
área onde vivem os piripkuras e
"está já abrindo picadas para
extração de madeira a poucos
quilômetros dos isolados".
Os piripkuras foram contatados pela primeira vez pela Funai em 1984, mas preferiram
seguir isolados. Eram de 15 a 20
índios. O último contato foi em
2007, quando sobravam dois,
Tikun e Mondeí. Uma terceira
piripkura, Rita, por ser parente
próxima dos dois, casou-se com
um homem de outra tribo, os
caripunas, e vive entre eles.
"Moleques"
Celso Penço, minimizou a
presença indígena. "Não tem
índios não, são só dois moleques lá", afirmou. "Um indigenista disse que tinha que preservar a espécie. Mas índio não
cria. Como vão reproduzir se
são dois machos?" Ele negou as
acusações do Ministério Público em relação à Operação Curupira e disse que "sempre"
ajudou as missões da Funai.
Santos diz que, enquanto os
dois estiverem vivos, é obrigação do Estado protegê-los. "A
gente não descarta que haja outros índios [na região]." Segundo ele, há muitos vestígios de
presença indígena de períodos
próximos. Só o trabalho de
identificação poderá descartar
a presença de mais piripkuras.
A antropóloga Inês Hargreaves, que trabalha no local, diz
que a situação é idêntica à de
três grupos isolados contatados
em Rondônia em 1995: os canoês (quatro pessoas), os
akun'tsuns (sete) e o chamado
"índio do buraco", provavelmente o último de grupo ainda
desconhecido. Hoje as terras
dos canoês e dos akun'tsuns estão homologadas e a do "índio
do buraco" tem uso restrito.
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