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ANÁLISE
Toda proposta de reforma tem vício de origem
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Há um vício de origem em toda e qualquer reforma eleitoral
proposta e aprovada pelo Congresso: como são beneficiários
diretos das regras vigentes,
seus membros tendem a agravar as distorções que favoreceram sua própria eleição e a rejeitar eventuais melhorias que
pudessem resultar num sistema mais aberto e, portanto, democrático.
Essa complicação primordial
ajuda a explicar várias das dificuldades experimentadas pelo
Legislativo, das pequeninas,
como as reiteradas tentativas
de tutelar os meios de comunicação de massa em período
eleitoral, às graúdas, como a reforma política, que, embora seja frequentemente citada como
redenção para todos os problemas do país, parece condenada
a jamais sair do campo das belas intenções.
O mundo ideal de um candidato é aquele no qual ele possa
dizer o que bem entende sem
ter de recear o contraditório.
Na impossibilidade de calar a
crítica, vale pelo menos submetê-la a regras tão draconianas
quanto possível, a fim de que
expor eventuais disparates do
pretendente a cargo público se
torne uma aventura juridicamente incerta, à qual poucos
estarão dispostos a arriscar-se.
É nesse espírito que nossos
parlamentares votam a nova
Lei Eleitoral.
De modo análogo, é muito
pouco provável que os legisladores venham um dia a aprovar
uma reforma política que contribua para promover a coesão
partidária e rompa com os laços
do clientelismo. Eles, afinal,
são os indivíduos que saíram vitoriosos no atual ambiente; é
difícil que se empenhem de
verdade em modificá-lo.
Curiosamente, os interesses
de classe dos parlamentares sobrepõem-se até às divisões
ideológico-partidárias. Provam-no a celeridade e desembaraço com que tramitam
questões corporativas como a
proposta de emenda constitucional que amplia o número de
vereadores em todo o país ou os
cíclicos e generosos aumentos
salariais para o Legislativo.
Esse tipo de comportamento
não é exclusividade do Congresso brasileiro, ainda que os
vícios nos pareçam particularmente graves por aqui. Trata-se, afinal, de uma das aporias do
sistema democrático com a
qual é preciso conviver.
Assim, talvez seja melhor renunciar a voos muito altos
-como o de uma reforma política com características de panaceia- e pressionar por mudanças pontuais não tão impossíveis de obter, como o fim definitivo da tutela de políticos sobre a internet.
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