São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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Maluf apóia Marta, mas veta adesivo no peito

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após sua pior derrota nas urnas, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) declarou ontem apoio à reeleição da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), apesar das rivalidades históricas com os petistas.
O anúncio, que contou com um roteiro escrito pelo próprio Maluf e com cópias de reportagens para ilustrar determinadas frases, foi marcado por uma gafe constrangedora cometida pelo candidato a vice, vereador Salim Curiati Jr. (PP), que pegou o ex-prefeito desprevenido ao sugerir que ele usasse um adesivo de Marta.
"Não, eu não vou pôr", reagiu rápido Maluf, após dar um passo atrás e levantar os braços. Depois de alguns segundos de silêncio, Curiati Jr. colou o adesivo que levava em seu próprio paletó.
Constrangido? Maluf garantiu que não. Disse que a disputa lhe oferece apenas duas opções -já que descarta de antemão votar no adversário tucano, José Serra.
"Ou é Marta ou é votar em branco. Como não fico em cima do muro, eu declaro em alto e bom som que eles [os petistas] foram sempre meus adversários, mas hoje não tem terceira escolha. Acho que o melhor para São Paulo é Marta Suplicy", disse o ex-prefeito, sob o aplauso de cerca de 40 correligionários e assessores.

Razões
Durante cerca de 50 minutos, Maluf se desdobrou para apresentar as razões de seu apoio ao PT e o motivo de desaconselhar o voto nos tucanos -a despeito dos 70% dos eleitores malufistas que, segundo o Datafolha, disseram que pretendem votar em Serra.
Outro fator que limita a importância do apoio de Maluf reside em sua própria votação, a menor que ele obteve em eleições majoritárias: ele obteve 734.580 votos - 11,1% do total de votos (11,9% dos válidos). Antes disso, a pior votação do ex-prefeito na capital tinha sido a da eleição de 2000, quando ele alcançou 15,7% dos votos.
"Os meus eleitores, se eles forem ver os últimos 20 anos de disputas eleitorais, vão ter alguma dificuldade [em votar no PT]. Mas não é esse o problema que se discute hoje", disse Maluf, que completou: "Não é uma decisão de emoção, mas de razão, que votem na candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que votem na Marta para prefeita".
A razão que prevaleceu, disse, foi a preocupação com o endividamento de São Paulo. "Os tucanos quebraram o Brasil, o Estado e a Prefeitura de São Paulo."
Para Maluf, se Marta for eleita, o presidente terá a "obrigação moral" de ajudar São Paulo. Se Serra vencer, Lula "lavará as mãos", disse. "A eleição de Marta interessa a todos os paulistanos que não querem ver a cidade falir." O ex-prefeito apontou ainda o que chamou de "incoerência" tucana. Em 2000, entre Marta e Maluf para a Prefeitura de São Paulo, os tucanos apoiaram a petista. "Se ela era ótima em 2000, agora não serve?"
Aos tucanos, disparou críticas. Disse que Serra tem uma "ambição desmedida" e que São Paulo irá perder com ele no governo.
Sobre as desavenças com o PT, disse que as histórias estão em sua memória e que "perdoa" as ofensas. "Meu amor por esta cidade está acima de uma ou outra ofensa pessoal de alguém que estava com a cabeça quente durante um comício." Em 2000, Marta chamou Maluf de "nefasto" e ele a acusou de "devassa".
Após repetir seguidas vezes não ter conversado com Marta, disse que o apoio dele à petista não faz parte de um acordo firmado entre o PT e o PP -em troca, Maluf seria beneficiado dentro dos limites legais pela CPI do Banestado.
"A Folha quando publicou que eu me encontrei com [o deputado] José Mentor (PT) me causou muito aborrecimento. Eu adoro o Mentor. Se ele quiser vir à minha casa, terá tapete vermelho. Mas não me encontrei com ele."
O indiciamento de Maluf pela Polícia Federal na última terça-feira atrasou o anúncio do apoio ao PT, previsto para o dia seguinte. O ex-prefeito foi indiciado sob a acusação de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, sonegação e peculato. Ele nega possuir contas no exterior. Sobre 2006, Maluf afirmou que vai disputar a eleição.


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