São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Renan admite a amigos que sua saída é definitiva

Presidente licenciado do Senado afirma que vai lutar para preservar seu mandato ou pelo menos os direitos políticos

Área jurídica da Casa avalia se há tempo para que o peemedebista renuncie; ontem à noite ele recebeu notificação do 3º processo

VALDO CRUZ
ANDREZA MATAIS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nos últimos dias a amigos considerar sua saída definitiva do cargo um "fato consumado" e que, agora, precisa trabalhar para "preservar" seu mandato ou pelo menos seus direitos políticos.
Abatido, Renan está recolhido e tem evitado aparições públicas. Ele analisa os prós e contra de uma renúncia imediata ao cargo, antes mesmo do término de sua licença de 45 dias, dentro de uma negociação para evitar um processo de cassação.
Licenciado apenas do cargo, Renan prometeu ontem a amigos voltar ao trabalho amanhã. "Vou ocupar meu lugar no plenário", disse ele, de onde pretende articular sua estratégia, que hoje não passaria por uma renúncia ao mandato.
Aliados do peemedebista, porém, cogitam essa hipótese dentro de um acordo com a oposição que implicaria a retirada dos processos contra ele em tramitação no conselho.
O debate de sua sucessão já está em curso, apesar de o governo tentar evitá-lo. Antes visto só como interino, o senador Tião Viana (PT-AC) ganha apoio até no PMDB para suceder Renan definitivamente.
Numa primeira avaliação, Renan ainda considera como seu último trunfo a ameaça de reassumir o comando da Casa após seu período de licença -forma de evitar ser abandonado pelo governo Lula, que não quer mais confusões atrapalhando a votação da CPMF.
No Senado, a ala que defende sua renúncia inclusive ao mandato acionou a área jurídica da Casa para avaliar se ainda há tempo para que ele renuncie dentro de brecha legal: ele foi notificado do primeiro processo, no qual foi absolvido, e do segundo e do terceiro, nos quais também teria chance de vitória.
Mas não ainda dos processos mais complicados, o quarto e o quinto -uso de ministérios para arrecadar recursos e ordem para espionar senadores-, nos quais ele corre risco de cassação. Como ainda não foi notificado de nenhum deles, teria ainda tempo para renunciar preservando seus direitos políticos e tendo condições de se candidatar novamente em 2010.
A renúncia de Renan se insere numa articulação governista para evitar um confronto entre PT e PMDB, os principais partidos da base aliada. Com Renan apenas licenciado da presidência, como atualmente, a vaga é do petista Tião Viana. Mas, se ele renunciar, haverá uma nova eleição e estará na mesa a tese da proporcionalidade, pela qual quem preside a Casa é o partido majoritário -o PMDB.
Renan e Tião Viana conversaram ontem, mas não quiseram dar detalhes. Segundo a Folha apurou, Renan ainda avalia todos os cenários, sem descartar a renúncia à presidência -considerada certa- nem mesmo à do mandato.
A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), demonstrou preocupação com a discussão sobre a sucessão de Renan. Segundo ela, antecipar a disputa irá contaminar a agenda do Senado e prejudicar a votação da CPMF.
Tião Viana voltou a sugerir ontem que não há garantias de que a presidência ficará com o PMDB em caso de renúncia de Renan. "Eu cumpro interinidade e quem quiser ser presidente da Casa vai ter que construir a maioria. O PMDB tem o direito de pleitear a continuidade da ocupação do cargo."
Ele afirmou que não irá mover "um milímetro" para permanecer no comando da Casa, mas alguns peemedebistas começaram a elogiá-lo publicamente.
"Quem sabe se vossa excelência [Tião Viana] será só um presidente interino? Se essa responsabilidade não irá lhe trazer outros desafios? Sarney teve um governo de transição que durou cinco anos", disse o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). José Sarney classificou Viana como "um grande nome que todos nós respeitamos", em discurso no plenário.
Ontem, Renan avaliava mudar ainda hoje para um apartamento funcional.


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