São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Lula exalta "democracia" em ato que lembra golpe

Burkina Fasso comemorou os 20 anos do evento que levou o atual presidente ao poder

Recebido aos gritos pelo locutor, petista pregou a paz e disse que a África "quer deixar para trás história de desencontros e conflitos"

Ricardo Stuckert/PR
Os presidentes Blaise Compaore, de Burkina Fasso, e Lula cumprimentam o público em Uagadugu


DO ENVIADO A UAGADUGU

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi ontem a vedete de um evento para comemorar os 20 anos do golpe de Estado que levou ao poder o atual presidente de Burkina Fasso, Blaise Compaore.
Ao lado de Compaore, cujo movimento triunfou em 1987 após o assassinato do então presidente Thomas Sankara, Lula defendeu a "democracia" africana e fez uma crítica leve ao "exercício abusivo de poder em muitas partes" do mundo.
O dia de ontem marcou o aniversário do que a propaganda oficial do governo chama de "renascimento democrático". Houve manifestações da pequena e frágil oposição em memória de Sankara.
Do lado do governo, o principal evento programado foi um seminário com representantes de partidos de todo o mundo, principalmente africanos e asiáticos. A estrela indiscutível foi Lula, desde o momento de sua entrada no salão lotado.
"Brasil! Brasil! Lula! Lula!", gritava ao microfone o locutor. Depois, gritos de "Lula! Compaore! Lula! Compaore!"
Sorridente, o brasileiro sentou-se no palco e foi presenteado com uma versão em francês de "O que Será", de Chico Buarque. Acompanhou com tapinhas da mão direita na perna e movimentos com a cabeça.
Burkina Fasso é um país com liberdade moderada, segundo analistas internacionais. A imprensa independente e a oposição são toleradas, mas o presidente controla as instituições do país e se perpetuou no poder. Compaore foi eleito três vezes desde o golpe, sempre com cerca de 80% dos votos.
Assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia disse que o governo brasileiro considera o regime local democrático. "O presidente tem se subordinado a eleições livres, fiscalizadas internacionalmente, pelo que sabemos."
Depois de um breve discurso do presidente africano, em que chamou Lula de "amigo do povo africano", chegou a vez de o brasileiro falar. "A África está em pleno ressurgimento. Desenha seu próprio destino. Quer deixar para trás uma história de desencontros e conflitos, provocados ou agravados pela herança colonial", declarou.
Ele repetiu alguns dos temas presentes em seus discursos, como a necessidade de reformar a ONU e concluir a Rodada Doha. Também convidou Burkina a "participar na revolução dos biocombustíveis".
Em seu discurso, o presidente brasileiro pregou a paz, uma "palavra mágica". "Se ao invés de comprarmos pão tivermos que comprar canhão, se ao invés de compramos arroz, comprarmos fuzis, se ao invés de abraçar um companheiro tivemos de ficar atirando nele, certamente os países nunca irão se desenvolver", afirmou.
O clima foi de cordialidade entre Compaore e Lula desde a chegada do presidente. No aeroporto, cerca de 200 pessoas recrutadas pelo governo apresentavam-se em danças locais.
Hoje Lula segue para a República do Congo. (FÁBIO ZANINI)


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