São Paulo, Terça-feira, 16 de Novembro de 1999
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VIAGEM A CUBA

Preocupado com inflação, presidente critica aumento de salários e pede combate a aumento de produtos

FHC apela contra especulação de preços

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique Cardoso com o rei Juan Carlos (esq.) e o primeiro-ministro espanhol, José María Aznar


MARTA SALOMON
enviada especial a Havana

Preocupado em conter pressões inflacionárias neste final de ano, o presidente Fernando Henrique Cardoso condenou ontem reajustes generalizados de salários e fez um apelo à população para que combata aumentos abusivos de preços. "Estou pedindo que a população se junte como no começo do ano e resista à especulação."
Ele afirmou que o governo também agirá e que tem mecanismos, dentro das regras de mercado, para evitar abusos nos preços. Mas não disse que mecanismos são esses. FHC preferiu não chamar sua proposta de "pacto" contra a inflação. Segundo ele, essa é uma palavra desgastada.
Os preços sob controle do governo sofreram reajustes neste ano, caso da gasolina, das tarifas de energia elétrica e de telefonia. "Houve ajuste no preço das tarifas, mas foi uma vez e não é a toda hora. Há gente que abusa, que a partir daí começa a aumentar os preços e não pode", disse FHC.
Os salários deixaram de ter reajustes automáticos de acordo com os índices de inflação desde 1995. Segundo FHC, "é até muito bom" que haja negociações salariais localizadas entre trabalhadores e empresários, que levem em consideração a situação de cada setor da economia. Na avaliação do presidente, "o que não pode é haver (reajuste) geral, não cabe".
Preocupado com a volta da inflação, FHC também fez um apelo aos empresários. "Eles têm de entender que não é o momento de aumentar os preços. Aumentar os preços significa aumento dos juros. Se crescem os juros, diminui a taxa de crescimento, o que não é bom para o Brasil."
Indicadores de preços ao consumidor estão registrando inflação mensal entre 0,8% e 1,1%, acima da expectativa do governo, de um inflação de 0,5% ao mês.
O IGP-DI (Índice Geral de Preços) de outubro, medido pela Fundação Getúlio Vargas, bateu em 1,89%. Por causa desses números, o Banco Central conteve nova queda das taxas de juros básicas da economia, a Selic, que se mantém em 19% ao ano.
A margem de manobra do governo é limitada. No caso do álcool, por exemplo, a ameaça de liberar estoques reguladores para baixar os preços agora esbarra na ameaça de faltar o produto no mercado no ano que vem.
O governo também tem problemas para conter novos reajustes da gasolina diante dos aumentos de preços internacionais do petróleo e do compromisso de ajuste nas contas públicas assumido com o FMI.
O presidente voltou a falar sobre inflação em dois momentos de sua viagem a Havana -anteontem à noite, antes de um jantar com o rei da Espanha, Juan Carlos, e o primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, e ontem, na entrada de um almoço com o presidente e o primeiro-ministro de Portugal, Jorge Sampaio e António Guterres.
Anteontem, ele havia feito uma previsão otimista sobre a ameaça de volta da inflação. Disse que o governo não detectara uma tendência "consistente" de alta de preços e chegou a prever novas quedas das taxas Selic a partir do mês que vem. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) será no dia 15.
FHC escapou na madrugada de anteontem da agenda oficial de encontros em Havana e foi ao Tocororo, um bar estatal da capital cubana cujo nome representa a ave-símbolo do país.
Acompanhado pela mulher, Ruth Cardoso, e pelo embaixador brasileiro em Cuba, Luciano Martins, FHC chegou a cantar a música "Guantanamera", uma das mais populares de Cuba. Refere-se à mulher que vive em Guantanamo, uma das regiões do país.



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