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CASO BANESTADO
Partido tem em mãos relatório sobre fatos que teriam sido omitidos ou distorcidos nas conclusões de Mentor
PSDB vai apresentar outra versão da CPI
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PSDB já tem em mãos um relatório com o qual pretende dar
sua própria versão sobre os fatos
investigados pela CPI do Banestado e que, no entendimento dos
tucanos, foram distorcidos ou
omitidos nas conclusões da apuração comandada pelo relator da
comissão, deputado José Mentor
(PT-SP).
No relatório que apresentou anteontem, Mentor propõe o indiciamento de 91 pessoas, entre as
quais o ex-presidente do Banco
Central, Gustavo Franco, acusado
de facilitar evasão de divisas, e do
ex-prefeito de São Paulo Celso
Pitta, por sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Constará do documento produzido pelos tucanos -e com o qual
eles querem conquistar o apoio
da oposição contra Mentor-
uma análise mais aprofundada
sobre operações financeiras atribuídas ao presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, e ao
ex-presidente do Banco do Brasil
Cassio Casseb.
No relatório de Mentor, essas
movimentações foram consideradas regulares.
A comissão, no entanto, não se
debruçou sobre operações financeiras intermediadas pelo MTB,
banco investigado por lavagem de
dinheiro e pelo qual passaram
operações atribuídas a Meirelles e
Casseb.
Ontem, os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Jefferson Peres
(PDT-AM) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT), presidente da comissão, entregaram ao procurador-geral da República, Claudio
Fonteles, 30 caixas com documentos reunidos pela comissão e
cuja análise não teria sido incluída
no relatório de Mentor. O conjunto inclui as operações do MTB.
"Não tocamos no assunto [do
relatório] com o procurador-geral. Trataremos disso na próxima
terça-feira", afirmou Simon, em
referência à data prevista para a
votação do documento apresentado por Mentor e das emendas
que devem ser propostas pelos integrantes da CPI.
Contra Gustavo Franco deverá
constar do relatório paralelo uma
acusação mais branda que o crime de evasão: improbidade administrativa, por ter sido a autoridade responsável pela concessão de
autorização a cinco bancos de Foz
do Iguaçu para operarem contas
CC5 em condições diferentes do
mercado, o que teria facilitado a
fuga de capitais.
Mais nomes
Poupado do relatório de Mentor, sob o argumento de que não
houve tempo para aprofundar as
investigações, o ex-prefeito Paulo
Maluf é nome certo no documento elaborado pela oposição.
Maluf nunca foi ouvido pela
CPI. A troca pela proteção seria,
conforme a Folha noticiou, um
acordo político para facilitar a
reeleição da prefeita de São Paulo,
Marta Suplicy (PT). Mentor nega
a existência do acordo.
O deputado Luiz Antonio
Fleury Filho (PTB-SP) também
foi investigado pela CPI. Conforme o relatório de Mentor, não se
confirmaram denúncias de movimentações no exterior atribuídas
ao parlamentar.
Dúvida ainda é a inclusão de
operações do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), a quem são
atribuídas movimentações por
meio do MTB. Colocá-lo no relatório reforçaria um pretenso perfil técnico. Mas dificulta o apoio
do PMDB à estratégia tucana de
se contrapor ao relator.
"Partidarizado"
O relatório de Mentor, com 742
páginas (e 771 de anexos), foi considerado político por Gustavo
Franco. Por meio de nota, o ex-presidente do Banco Central disse
que a comissão "cometeu o equívoco de confundir divergências
sobre políticas públicas com irregularidades".
Na mesma linha, o deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ)
afirmou que o relatório "mais parece um panfleto político", por insinuar culpa de pessoas ligadas ao
governo anterior e absolver autoridades que fazem parte da atual
gestão.
Um dos elementos que rendeu
ao relatório de Mentor o carimbo
de "partidarizado" foi a proposta
de indiciamento de executivos da
Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado) e da
Companhia Riograndense de Telefonia, por operações de 1997 nas
quais as empresas seriam consideradas "suspeitas" de lançamento de ações no exterior. Ambas
eram estatais e sob gestão tucana.
Mentor requer ao Ministério
Público que aprofunde a investigação sobre as operações realizadas pelas empresas.
Entre os empresários indiciados, estão Samuel e Michel Klein.
Donos das Casas Bahia, eles são
acusados de sonegação, lavagem
de dinheiro, evasão de divisas e
importação fraudulenta por meio
da empresa Parainvest.
O deputado Sérgio Miranda (PC
do B-MG) também quer incluir
no relatório a responsabilização
do sistema financeiro pelos crimes de evasão de divisas.
Outro lado
Os empresários Samuel Klein e
Michael Klein informaram ontem, por meio de uma nota assinada pela assessora de imprensa
Sônia Mitaini, que o grupo não remeteu dinheiro de forma ilegal
para o exterior.
Mitaini disse que a empresa utiliza cheques para pagar fornecedores e terceiros. É possível, informou, que esses cheques tenham
acabado nas mãos de doleiros ou
de instituições que os descontam
antes do prazo (factoring).
Todos os cheques de pagamento das Casas Bahia estão em nome
de Samuel e de Michael Klein. Segundo a assessora, os empresários não darão entrevista sobre isso e a nota é a resposta definitiva
do grupo.
Ariovaldo Carmignani, ex-presidente da Sabesp, e Paulo Domingos Knippel Galletta, ex-diretor financeiro da Sabesp, acusados por evasão de divisas, não foram localizados pela reportagem.
Eles ficaram no cargo, segundo a
assessoria de imprensa da Sabesp,
entre 1995 e 2002.
Colaborou LUIS RENATO STRAUSS da Sucursal de Brasília, e a Reportagem Local
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