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Nepotismo é marca da família de senador
Apelidados de "bacurau" por ocultarem nomeação de apadrinhados, o clã se reveza com os "araras" no governo do RN desde os anos 60
Pai do presidente do Senado diz que agressões da política
nordestina conduzem as famílias à "solidariedade;
fomos sempre muito unidos"
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Bacurau é uma ave de hábitos
noturnos e também o apelido
de um trem que, nos anos 60,
partia de Natal (RN) só de madrugada. Diz o folclore que o
ex-ministro do governo Sarney
(1985-1990) Aluízio Alves, cacique da política potiguar e chefe
do clã que tem presença ativa
no Estado desde os anos 60,
quando governava o Estado
costumava distribuir os diários
oficiais que trouxessem muitas
nomeações de apadrinhados e
parentes em edições limitadas
e no final da noite. Assim, poucas pessoas conseguiam vê-los
-como o trem da madrugada.
Os adversários logo carimbaram Aluízio, morto aos 84 anos
em 2005, com o pejorativo "bacurau", associado a nepotismo
e empreguismo. O clã apropriou-se do apelido e hoje todos
se orgulham dele.
O novo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), por exemplo, é
um bacurau de alta plumagem.
Uma marca negativa de suas
duas administrações no Rio
Grande do Norte (1995-2002)
-além de ter enterrado duas
CPIs e inúmeras denúncias de
irregularidades que envolvem
secretários de Estado- é o uso
de cargos públicos para acomodar parentes e agregados.
Ao assumir o governo, em
1995, Garibaldi colocou o irmão, Paulo, na secretaria de
Trabalho e Ação Social (depois,
na Casa Civil), o pai, na presidência da Junta Comercial, o
sobrinho, Sérgio, como oficial
de gabinete da Governadoria, a
irmã, Maria Auxiliadora, na
presidência de uma fundação.
A agência publicitária que venceu a licitação do governo, a
RAF, pertencia a um primo.
Na segunda gestão, o governador emplacou o irmão como
conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado. Um conselheiro se aposentou "voluntariamente" e em troca foi empossado secretário de Agricultura de Garibaldi. Hoje Paulo é
o presidente do TCE. Na quinta, o tribunal que tem a tarefa
de julgar contas dos administradores públicos concedeu
moção de congratulações a Garibaldi pela eleição no Senado.
Trajetória
É assim desde o começo da
longa, acidentada e muitas vezes vitoriosa trajetória da família Alves, que já teve ministro,
governadores, senadores, prefeitos, deputados federais e estaduais. O próprio Garibaldi começou a vida política em 1966
na gestão do tio, Agnelo Alves,
então prefeito de Natal e hoje
prefeito de Parnamirim. Com
apenas 19 anos, Garibaldi foi
nomeado chefe da Casa Civil.
Nenhum Alves esconde que a
atuação de parentes em bloco é
um método de trabalho. "A política, sobretudo a nordestina, é
muito de agressões. Isso conduz as famílias a uma certa solidariedade. Fomos sempre muito unidos", conta Garibaldi Alves, 84, pai do presidente do Senado e irmão de Aluízio Alves.
Garibaldi, pai, teve um irmão
assassinado por causa de brigas
políticas. Expedito, então prefeito da cidade de origem do clã,
Angicos (RN), foi morto a tiros
por um adversário.
Não raro, as brigas entre os
militantes, até os anos 80, também acabavam em brigas. Principalmente contra os "araras",
apelido do outro clã que se reveza com os Alves no poder, a
família Maia. A atual governadora, Wilma de Faria (PSB), foi
secretária na gestão do atual senador José Agripino Maia
(DEM) nos anos 80 e foi casada
com o ex-deputado Lavoisier
Maia. Os clãs se alternam no
governo do Estado desde, pelo
menos, os anos 60, com curtos
intervalos de ausência.
"Todas as famílias que optam
por nossa profissão [política]
trabalham juntas. O líder Aluízio serviu de espelho para toda
a nossa família", disse Luiz Porpino, 65, secretário particular
de Aluízio por mais de 40 anos.
Sobrevivência
O trabalho familiar não significa, contudo, fidelidade cega. O
sorridente e cordato Garibaldi
Alves Filho tem um farto senso
de sobrevivência política. Em
2001, quando o Ministério Público e a Polícia Civil do Estado
invadiram a casa de sua irmã,
Maria Auxiliadora, atrás de documentos que incriminassem o
seu marido, Marcos Nelson dos
Santos, o então governador teria sido avisado com antecedência, mas deixou de interceder em favor da irmã. Em seguida pôde dar uma resposta, ao
impedir que a Assembléia instaurasse uma CPI que atingiria
seu governo e sua família.
Como em toda família, o
tempo cura as feridas. O senador diz que "se dá muito bem"
com o cunhado acusado de tráfico de influência em duas
ações penais em andamento no
fórum de Natal, movidas pelo
Ministério Público. Pelos depoimentos de Santos, que sempre isentou Garibaldi de qualquer participação em seus lobbies, a recíproca é verdadeira.
Os Alves hoje se ajudam principalmente quando o objetivo é
abrir espaço na mídia para um
parente político. Eles detêm
um dos dois maiores jornais do
Estado, a "Tribuna do Norte",
entre quatro e 12 emissoras de
rádio, ninguém sabe ao certo, e
participação societária na afiliada da Rede Globo em Natal.
Embora poderosa politicamente, a família não ostenta
grandes propriedades rurais ou
empresas. O pai do senador diz
não ter mais do que 400 cabeças de gado, um rebanho médio
para os caciques nordestinos.
Garibaldi Filho costuma dizer
que não tem dinheiro nem para
suas campanhas eleitorais.
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