São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Pré-candidato, Ciro muda de estilo e é discreto na Câmara

Deputado federal passou o seu primeiro ano na Casa sem apresentar projeto ou proposta para análise do Congresso

Seu objetivo seria buscar mais maturidade e aprender a conviver com adversidade; conselho teria sido dado a ele pelo presidente Lula

Sidinei Lopes - 29.10.2007/Folha Imagem
Ciro Gomes, que não apresentou nenhum projeto na Câmara


ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontado na pesquisa Datafolha como o único candidato da base aliada com chances na disputa presidencial de 2010, Ciro Gomes (PSB-CE) passou seu primeiro ano como deputado federal sem apresentar um único projeto ou proposta para análise do Congresso. Também foram poucos os discursos no plenário, a maioria em defesa de propostas do governo, como a CPMF e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Das idéias que apresentou nas duas campanhas presidenciais de que participou, Ciro se refere nos discursos de agora apenas à necessidade de o país ter poupança interna. Interlocutores dizem que a "atuação discreta" tem um objetivo: ele está se preparando para a corrida à presidência da República.
O objetivo na Câmara seria apenas buscar mais maturidade e aprender a conviver com a adversidade, conselho que teria partido do presidente Lula. Ciro reclama do "tempo que se perde" no parlamento com determinados assuntos.
Na tentativa de mudar sua imagem, ele tem procurado se mostrar humilde e evitado confrontos, contrariando o estilo que o caracterizou em duas campanhas eleitorais. "Sou um brasileiro impaciente, mas agora mais maduro e um pouco mais sereno", definiu-se, em discurso. Foi um dos poucos a freqüentar o cursinho para deputados iniciantes oferecido pela Câmara no início da legislatura. "Quero aprender", dizia.
Seu lugar no plenário é próximo ao da bancada do radical PSOL. Com deputados do partido, comentou que se arrepende de ter dito na disputa presidencial que o papel exercido na campanha por Patrícia Pillar, sua mulher, era "dormir" com ele. A maior parte do tempo, porém, ele passa no fumódromo, em companhia de Maunela D'Ávila (PC do B-RS) e José Genoino (PT-SP), como ele fumantes compulsivos.

Discursos
Ciro usa nos discursos palavras rebuscadas e, às vezes, ácidas. Até agora, isso tem lhe garantido platéia no plenário, mas faz tremer seus apoiadores que temem escorregões como os das campanhas -chegou a chamar um eleitor de burro.
A defesa que fez da CPMF foi considerada decisiva na Câmara e parou o plenário. Sobre o governo, procura se mostrar fiel, mas com independência. "Apóio o presidente Lula, sem reservas e medo, ainda que com as dificuldades de uma correlação de forças que o obriga a ziguezagues, a tangentes, a conciliações", afirma.
No Congresso, já defendeu temas polêmicos como o aumento salarial para deputados e senadores. Ciro falou quatro vezes no plenário no dia da votação, todas em defesa do reajuste de R$ 12.800 para R$ 16.500. Também já disse que o Congresso "reúne o melhor da decência nacional."
O "novo Ciro" surpreendeu os colegas, mas há desconfianças. "Nos momentos de tensão é que a personalidade se revela para além do que a pessoa quer demonstrar", afirmou Luciana Genro (PSOL-RS). No teste das provocações ele se saiu bem. "Você não gosta mais de mim, Ciro?", perguntou Clodovil Hernandez (?-SP). "Gosto", respondeu. "Então troca a Patrícia por mim." Clodovil saiu ileso, garantem os que acompanharam a conversa.
Durante o ano, Ciro faltou a 41 das 120 sessões deliberativas. Apresentou justificativas para 20 ausências. No gabinete, tem quatro funcionários, dos 20 que poderia contratar. Da verba indenizatória, gastou até novembro R$ 85.222,64 de um total R$ 165 mil.


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