São Paulo, quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Em "crescente desacordo" com governo, Ciro ataca o PMDB

Pela primeira vez, presidenciável estende ao Executivo crítica a aliança partidária

"Não topo mais ficar calado", diz deputado, para quem o presidente da Câmara é o "representante maior" de acordo que faz mal ao país


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se em "crescente desacordo com o governo", o presidenciável do PSB, deputado Ciro Gomes (CE), aproveitou um momento de tensão na aliança entre PT e PMDB e partiu ontem para cima dos peemedebistas. A artilharia incluiu o nome mais cotado para vice na chapa petista, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).
"Estou em crescente desacordo com o governo. Não topo mais ficar calado", disse. É a primeira vez que Ciro estende ao governo Lula suas críticas à aliança entre PT e PMDB.
Em entrevista à Folha, Ciro afirmou que Temer é o representante maior de uma "hegemonia" que paralisa a Câmara dos Deputados e prejudica o país. "A coalizão PT e PMDB tem feito mal ao Brasil. [...] O Temer é o representante maior dessa atual hegemonia. É produto de um acordo que deu origem a essa hegemonia."
Na semana passada, o PMDB foi surpreendido com uma declaração de Lula a rádios de São Luís (MA), na qual sugeriu que o partido apresentasse uma lista tríplice para que Dilma Rousseff (PT) escolhesse o candidato a vice na sua chapa.
Bradando indignação, a ala do PMDB que orbita em torno de Temer -como o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o deputado Eduardo Cunha (RJ)- exige uma retratação pública do presidente.

Gesto de proteção
As críticas de Ciro ao PMDB já vêm de algum tempo, mas ontem foi a primeira vez que o deputado do PSB mirou diretamente no presidente da Câmara. Segundo ele, sob o comando de Temer, a Câmara vive um processo de "seleção natural às avessas": "Aqui, quanto mais despreparado e menos decente, maior é o prestígio", afirmou.
A sugestão da lista tríplice feita por Lula, segundo Ciro, não foi acidental. "O presidente é uma pessoa bem informada e fez um gesto de proteção à Dilma. Fez muito bem, aliás." Ciro disse ainda que os escândalos no Congresso são pequenos perto do que de fato prejudica o Brasil: a aliança PT-PMDB.
"Enquanto a imprensa distrai a população com escândalos de polichinelo, não se percebe a dimensão do real escândalo que é essa hegemonia política", afirmou. Ciro não escolheu à toa o momento, as palavras e os alvos. Encurralado por uma aliança dos maiores partidos do país, tenta encontrar espaço para colocar de pé uma candidatura presidencial, ou pelo menos arrancar dos peemedebistas a vaga de vice de Dilma.
Lula e parte do PT o pressionam a desistir da eleição nacional e ser candidato a governador de São Paulo, mas Ciro resiste: "Ou serei candidato a presidente, ou não serei a nada".
Sem ocultar o ressentimento com Temer, disse que nunca teve oportunidades como deputado: "Eu aqui nunca tive nada. Sou ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro da Fazenda, ex-ministro da Integração Nacional, mas nunca tive nada aqui". Quem leva tudo, segundo ele, é Eduardo Cunha. "Ele casa, descasa e faz batizado aqui. Qual a explicação para isso?"
Mais tarde, em plenário, dirigindo-se a Temer, Ciro agrediu verbalmente Cunha: "Feche a Câmara, presidente, e pergunte o que o Eduardo Cunha quer para o Brasil!". Procurados, Temer, Cunha e Alves não comentaram as declarações.


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