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Em "crescente desacordo" com governo, Ciro ataca o PMDB
Pela primeira vez, presidenciável estende ao Executivo crítica a aliança partidária
"Não topo mais ficar calado", diz deputado, para quem o presidente da Câmara é o "representante maior" de acordo que faz mal ao país
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dizendo-se em "crescente
desacordo com o governo", o
presidenciável do PSB, deputado Ciro Gomes (CE), aproveitou um momento de tensão na
aliança entre PT e PMDB e partiu ontem para cima dos peemedebistas. A artilharia incluiu
o nome mais cotado para vice
na chapa petista, o presidente
da Câmara, Michel Temer (SP).
"Estou em crescente desacordo com o governo. Não topo
mais ficar calado", disse. É a
primeira vez que Ciro estende
ao governo Lula suas críticas à
aliança entre PT e PMDB.
Em entrevista à Folha, Ciro
afirmou que Temer é o representante maior de uma "hegemonia" que paralisa a Câmara
dos Deputados e prejudica o
país. "A coalizão PT e PMDB
tem feito mal ao Brasil. [...] O
Temer é o representante maior
dessa atual hegemonia. É produto de um acordo que deu origem a essa hegemonia."
Na semana passada, o PMDB
foi surpreendido com uma declaração de Lula a rádios de São
Luís (MA), na qual sugeriu que
o partido apresentasse uma lista tríplice para que Dilma
Rousseff (PT) escolhesse o
candidato a vice na sua chapa.
Bradando indignação, a ala
do PMDB que orbita em torno
de Temer -como o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves
(RN), e o deputado Eduardo
Cunha (RJ)- exige uma retratação pública do presidente.
Gesto de proteção
As críticas de Ciro ao PMDB
já vêm de algum tempo, mas
ontem foi a primeira vez que o
deputado do PSB mirou diretamente no presidente da Câmara. Segundo ele, sob o comando
de Temer, a Câmara vive um
processo de "seleção natural às
avessas": "Aqui, quanto mais
despreparado e menos decente,
maior é o prestígio", afirmou.
A sugestão da lista tríplice
feita por Lula, segundo Ciro,
não foi acidental. "O presidente
é uma pessoa bem informada e
fez um gesto de proteção à Dilma. Fez muito bem, aliás." Ciro
disse ainda que os escândalos
no Congresso são pequenos
perto do que de fato prejudica o
Brasil: a aliança PT-PMDB.
"Enquanto a imprensa distrai a população com escândalos de polichinelo, não se percebe a dimensão do real escândalo que é essa hegemonia política", afirmou. Ciro não escolheu
à toa o momento, as palavras e
os alvos. Encurralado por uma
aliança dos maiores partidos do
país, tenta encontrar espaço
para colocar de pé uma candidatura presidencial, ou pelo
menos arrancar dos peemedebistas a vaga de vice de Dilma.
Lula e parte do PT o pressionam a desistir da eleição nacional e ser candidato a governador de São Paulo, mas Ciro resiste: "Ou serei candidato a presidente, ou não serei a nada".
Sem ocultar o ressentimento
com Temer, disse que nunca teve oportunidades como deputado: "Eu aqui nunca tive nada.
Sou ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro da Fazenda,
ex-ministro da Integração Nacional, mas nunca tive nada
aqui". Quem leva tudo, segundo
ele, é Eduardo Cunha. "Ele casa, descasa e faz batizado aqui.
Qual a explicação para isso?"
Mais tarde, em plenário, dirigindo-se a Temer, Ciro agrediu
verbalmente Cunha: "Feche a
Câmara, presidente, e pergunte
o que o Eduardo Cunha quer
para o Brasil!". Procurados, Temer, Cunha e Alves não comentaram as declarações.
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