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JANIO DE FREITAS
Muito além de Sarney
O empenho do governo, ontem recompensado com o
êxito inicial, para impedir a
eleição de Renan Calheiros e fazer de José Sarney o presidente
do Senado, tem alcances muito
além dessa disputa e, mais importante, além até do objetivo
tático da cúpula governamental.
A adesão de Sarney à candidatura Lula ainda na primeira
hora eleitoral tem sido dada,
com frequência, como razão do
empenho petista. Pode haver o
componente de retribuição, sim,
mas não bastaria para justificar
o investimento governamental
iniciado quando ainda trazia
risco para a eleição de um petista à presidência da Câmara.
Muitos outros deram contribuição expressiva à candidatura
Lula e não recebem nem o mínimo sinal de reconhecimento.
As presidências da Câmara e
do Senado desfrutam de liberdades regimentais, muitas delas
contrárias à própria natureza
do Parlamento democrático,
que permitem influência decisiva no destino de matérias e decisões. Sem a presença de Luís
Eduardo Magalhães na presidência da Câmara, com seus
truques na operação de prazos,
tramitações, pauta e outros ingredientes, é incerto que fossem
aprovadas todas as reformas
constitucionais do primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Renan Calheiros é experiente,
conhece os truques da atividade
parlamentar mais do que conviria e integra a corrente do
PMDB mais hostil ao PT. Em
parte por si mesmo, mas sobretudo pelo que representaria na
presidência do Senado, Calheiros é considerado um risco para
os projetos que o governo quer
ver apreciados no Congresso
sem as "negociações" em tudo
exigidas pela corrente que há
tantos anos domina o PMDB.
Por sua adesão à candidatura
Lula e agora ao governo, Sarney
é visto como fator de normalidade na condução do Senado.
Ou, convém presumir, se houver
truque, será pró-governo. E seu
bom entendimento com o PFL
será fortalecido, nas discussões
em torno de matérias e comissões, pela posição mais elevada
no Senado.
Até aí estão resultados práticos que explicam a investida do
comando governista no Senado
- registre-se, aliás, que muito
bem conduzida por José Dirceu,
com participação do próprio
Sarney. Na outra instância de
resultados da operação, se afinal vitoriosa, este é o previsível:
assim como o insucesso de ontem de Renan Calheiros e sua
corrente, na tentativa de já derrotar o adversário dentro do
partido, prenuncia a vitória de
Sarney, esta prenuncia a virada
na futura convenção peemedebista para escolha do comando
partidário.
Com a ajuda explícita e decisiva do governo passado, os peemedebistas contrários à corrente fisiológica foram sucessivamente derrotados nas convenções nacionais do PMDB. Se o
comando exercido por Michel
Temer, Geddel Vieira Lima,
Moreira Franco e congêneres é
substituído, afinal, pela corrente
mais autêntica do PMDB, daí
advêm, por certo, mudanças
imensas na vida política, no
Congresso, em muitos Estados e
em muitas das reformas necessárias. Com realce, no caso, para
uma reforma política e partidária verdadeira,sempre impedida pelos fisiológicos do PMDB e
parte do PFL.
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