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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CONCLUSÕES
Comissão recebeu registros bancários incompletos de pessoas e empresas investigadas; Safra e Real concentram movimentações sem identificação
CPI cobra de bancos dados sobre R$ 24 bi
RUBENS VALENTE
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CPI dos Correios não sabe a
origem e o destino de R$ 23,9 bilhões movimentados em contas
bancárias de pessoas e empresas
sob suspeita de envolvimento
com o chamado "valerioduto" e
com irregularidades em órgãos
públicos, segundo um levantamento concluído ontem por técnicos da comissão.
Esse é o total de operações bancárias cujo campo está em branco
nos arquivos virtuais destinado a
identificar os favorecidos ou os
depositantes. As informações incompletas referem-se a cinco
bancos, que estão sendo chamados a corrigir os dados.
Em volume, as instituições que
mais devem dados à CPI são Safra
(R$ 10,7 bilhões em operações),
Real (R$ 5,9 bilhões), Bradesco
(R$ 3,7 bilhões) e BankBoston (R$
2,9 bilhões). Proporcionalmente,
também aparecem com problemas as informações enviadas pelo
Citibank, que deixou de comunicar 74% de tudo que entrou nas
contas sob investigação em suas
agências (R$ 287 milhões) e 33%
do que saiu (R$ 229 milhões).
O Banco Real (integrado ao
ABN Amro Bank em 2000) enviou ontem representantes à CPI
e prometeu corrigir todos os dados até amanhã. "A nossa intenção é entregar o máximo possível
de informações até amanhã [hoje]", disse Fernando Egydio Martins, diretor-executivo do Real, ao
reconhecer que houve falhas no
envio dos dados.
O Bradesco informou que atendeu a todas as solicitações da CPI.
Segundo a Folha apurou, o Banco
Central, que encaminhou na tarde de ontem à CPI mais dados relativos ao Safra e ao Real, já teria
mandado também tudo o que havia recebido do BankBoston. O
BC, no entanto, não avalia a qualidade do material recebido, apenas encaminha os dados para a
CPI, sem conferir se atendem ou
não às solicitações feitas.
De acordo com a CPI, o Safra
deixou de informar os responsáveis por 81% dos depósitos sob
averiguação, que somaram R$
6,33 bilhões. Também deixou de
comunicar à comissão o destino
de 89% das operações de saída, de
um total de R$ 6,3 bilhões.
A base de dados da CPI conta
atualmente com registros de R$
332 bilhões em operações de crédito e débito relativas a contas
bancárias de pessoas físicas e jurídicas que tiveram seus sigilos
quebrados desde a instalação da
comissão, em junho de 2005.
A investigação sobre muitas
contas importantes estão paradas
ou andando lentamente, até que
os bancos atualizem as informações. Nas contas da empresa do
publicitário Duda Mendonça, por
exemplo, de R$ 1,3 bilhão entre
entradas e saídas, R$ 481 milhões
estão sem identificação completa.
Também está comprometida a
investigação sobre as contas da
empresa de aviação Skymaster
Airlines, que girou R$ 1,1 bilhão
no banco Real entre 2001 e 2005.
"Desde o início da CPI tem sido
uma guerra obter a totalidade das
informações. Os órgãos públicos
encarregados desse controle muitas vezes são manipulados. Chego
a acreditar que realmente há uma
operação para se ganhar tempo e
esperar que a CPI acabe", disse o
senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Para a CPI, tornou-se uma prioridade a correção de todos os dados bancários depois que foram
detectados depósitos mensais na
conta do deputado federal João
Herrmann (PDT-SP). Com esse
exemplo, a área técnica da CPI
compreendeu que mais operações de interesse da investigação
podem estar ocultas nos registros
"não informados".
Os técnicos da comissão reconhecem que uma pequena parcela das operações em branco deixaram de ser informadas a pedido
da própria CPI. Para não confundir as investigações, a comissão
havia pedido a identificação apenas de movimentações acima de
R$ 2.000 para pessoas físicas e R$
10 mil para pessoas jurídicas. O
índice de operações nessas duas
faixas é estimado em 10% do total
girado pelos bancos. Subtraindo-se esse índice, ainda restariam R$
21 bilhões sem explicação.
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