São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CONCLUSÕES

Comissão recebeu registros bancários incompletos de pessoas e empresas investigadas; Safra e Real concentram movimentações sem identificação

CPI cobra de bancos dados sobre R$ 24 bi

RUBENS VALENTE
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios não sabe a origem e o destino de R$ 23,9 bilhões movimentados em contas bancárias de pessoas e empresas sob suspeita de envolvimento com o chamado "valerioduto" e com irregularidades em órgãos públicos, segundo um levantamento concluído ontem por técnicos da comissão.
Esse é o total de operações bancárias cujo campo está em branco nos arquivos virtuais destinado a identificar os favorecidos ou os depositantes. As informações incompletas referem-se a cinco bancos, que estão sendo chamados a corrigir os dados.
Em volume, as instituições que mais devem dados à CPI são Safra (R$ 10,7 bilhões em operações), Real (R$ 5,9 bilhões), Bradesco (R$ 3,7 bilhões) e BankBoston (R$ 2,9 bilhões). Proporcionalmente, também aparecem com problemas as informações enviadas pelo Citibank, que deixou de comunicar 74% de tudo que entrou nas contas sob investigação em suas agências (R$ 287 milhões) e 33% do que saiu (R$ 229 milhões).
O Banco Real (integrado ao ABN Amro Bank em 2000) enviou ontem representantes à CPI e prometeu corrigir todos os dados até amanhã. "A nossa intenção é entregar o máximo possível de informações até amanhã [hoje]", disse Fernando Egydio Martins, diretor-executivo do Real, ao reconhecer que houve falhas no envio dos dados.
O Bradesco informou que atendeu a todas as solicitações da CPI. Segundo a Folha apurou, o Banco Central, que encaminhou na tarde de ontem à CPI mais dados relativos ao Safra e ao Real, já teria mandado também tudo o que havia recebido do BankBoston. O BC, no entanto, não avalia a qualidade do material recebido, apenas encaminha os dados para a CPI, sem conferir se atendem ou não às solicitações feitas.
De acordo com a CPI, o Safra deixou de informar os responsáveis por 81% dos depósitos sob averiguação, que somaram R$ 6,33 bilhões. Também deixou de comunicar à comissão o destino de 89% das operações de saída, de um total de R$ 6,3 bilhões.
A base de dados da CPI conta atualmente com registros de R$ 332 bilhões em operações de crédito e débito relativas a contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas que tiveram seus sigilos quebrados desde a instalação da comissão, em junho de 2005.
A investigação sobre muitas contas importantes estão paradas ou andando lentamente, até que os bancos atualizem as informações. Nas contas da empresa do publicitário Duda Mendonça, por exemplo, de R$ 1,3 bilhão entre entradas e saídas, R$ 481 milhões estão sem identificação completa.
Também está comprometida a investigação sobre as contas da empresa de aviação Skymaster Airlines, que girou R$ 1,1 bilhão no banco Real entre 2001 e 2005.
"Desde o início da CPI tem sido uma guerra obter a totalidade das informações. Os órgãos públicos encarregados desse controle muitas vezes são manipulados. Chego a acreditar que realmente há uma operação para se ganhar tempo e esperar que a CPI acabe", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Para a CPI, tornou-se uma prioridade a correção de todos os dados bancários depois que foram detectados depósitos mensais na conta do deputado federal João Herrmann (PDT-SP). Com esse exemplo, a área técnica da CPI compreendeu que mais operações de interesse da investigação podem estar ocultas nos registros "não informados".
Os técnicos da comissão reconhecem que uma pequena parcela das operações em branco deixaram de ser informadas a pedido da própria CPI. Para não confundir as investigações, a comissão havia pedido a identificação apenas de movimentações acima de R$ 2.000 para pessoas físicas e R$ 10 mil para pessoas jurídicas. O índice de operações nessas duas faixas é estimado em 10% do total girado pelos bancos. Subtraindo-se esse índice, ainda restariam R$ 21 bilhões sem explicação.


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