São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Terceira via lança tucano e embola disputa na Câmara

Candidatura é "irreversível", diz Fruet, que espera vitória em reunião da bancada

Deputado tenta ganhar votos de colegas de partido, mas larga sem o apoio do PSOL, que sai do grupo por discordar de nome do PSDB


SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chamado "Grupo dos 30", que reúne parlamentares de vários partidos com atuação independente de suas bancadas, lançou ontem a candidatura de Gustavo Fruet (PSDB-PR) à presidência da Câmara.
A candidatura contraria a decisão anterior de parte da bancada do PSDB. Na semana passada, o líder da bancada, Jutahy Júnior (BA), declarou apoio ao petista Arlindo Chinaglia (SP). O outro candidato é o atual presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP). A eleição será no dia 1º de fevereiro.
Apesar de afirmar que ainda espera pelo aval do seu partido para concorrer, Fruet disse que a candidatura é "irreversível".
O tucano disse que procurará todos os partidos e estipulou como sua primeira meta convencer a própria bancada a respaldá-lo. "O PSDB vai ter que definir se apóia o PT ou uma candidatura própria. Estamos confiantes na vitória", disse. "É irreversível", completou.
Em seguida, ao ser questionado sobre a possibilidade de permanecer na disputa caso o PSDB vete sua candidatura, foi cauteloso: "É evidente que se não acontecer a vitória na terça-feira, o grupo vai rever".
Após a repercussão negativa do apoio a Chinaglia, Jutahy agendou uma reunião da bancada, na próxima terça-feira, para tratar do assunto.
A articulação do apoio tucano ao PT havia sido feita com aval dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), em troca de cargos na Mesa e contrapartidas estaduais.
Ontem, um grupo de 13 deputados tucanos se reuniu em Brasília para pressionar Fruet a concorrer. O grupo é formado majoritariamente por deputados ligados ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Os principais articuladores são os deputados Paulo Renato (SP), José Aníbal (SP) e Sílvio Torres (SP).
Segundo Paulo Renato, a candidatura de Fruet já tem o aval de ao menos 24 deputados tucanos. A expectativa é que chegue a 40 com a adesão de tucanos que estavam "fechados" com Aldo. A bancada eleita do PSDB tem 66 deputados.
Fruet anunciou os principais pontos da plataforma de sua chapa, contemplando reivindicações do "Grupo dos 30". Entre eles, destacam-se: transparência de gastos dos deputados; reforma política; voto aberto; aumento do poder de fiscalização da Câmara; criação de um mecanismo de correção salarial dos parlamentares para impedir o reajuste de 91%; e reformulação do regimento da Casa.
Ele defendeu o aumento dos salários dos parlamentares dos atuais R$ 12,8 mil para R$ 16,5 mil, ou seja, a reposição da inflação no período.
"Sem ingenuidade, não se trata do bem contra o mal, dos éticos contra os não-éticos. É fugir do debate de quem é mais leal ou não ao governo, de quem vai dar o aumento maior."
Idealizado pelos deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE), o projeto de lançar uma terceira via reúne apoios no PSDB, no PMDB, no PV e no PPS. O PSOL anunciou que não irá aderir porque reprova a escolha de um nome do PSDB.

Crise ética
O "Grupo dos 30" foi criado na esteira da crise ética do Congresso e funciona como uma frente suprapartidária para fiscalizar os deputados. Nos corredores da Câmara, seus críticos dizem que buscam apenas autopromoção e holofotes.
Nos bastidores, a concretização da terceira via, há 15 dias na eleição, preocupou especialmente os articuladores da chapa de Chinaglia.
A avaliação é que a inclusão de um novo nome pode embolar a disputa ou forçar um segundo turno na eleição. Além disso, o grupo de Chinaglia teme que a "terceira via" se alie à chapa de Aldo contra o PT.
Do outro lado, os aliados de Aldo também temem o enfraquecimento da candidatura, já que Fruet poderia atrair votos do PFL e do PDT, mas a recomendação é para não haver críticas públicas que atrapalhem um acordo num segundo turno.


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